CPI vai apurar poluição do Rio Melchior

Rio recebe esgoto de mais de 1,4 milhão de famílias do Distrito Federal

Por Thamiris de Azevedo

Investigação apurará responsáveis pela poluição do Melchior

A Câmara Legislativa do DF (CLDF) determinou a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a responsabilidade pela poluição do Rio Melchior, próximo à Samambaia, Ceilândia e Sol Nascente/Pôr do sol. Apesar de ser um rio de classe 4, que permite o despejo de efluentes na água, o exagero e a falta de tratamento atingem as famílias próximas ao local e preocupa especialistas.

A proposta para a abertura da CPI é de autoria da deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania), que acompanha o caso desde 2019, ocasião em que era deputada federal. Ao Correio, Belmonte destaca que desde 2023 propõe a CPI, mas que não conseguiu assinaturas suficientes na época.

“A situação dos moradores da região, como já constatei mais de uma vez, é muito desumana. Ouvi a comunidade e mães que mostraram as crianças com alergias e outros problemas de saúde, que atribuem à água”.

O ativista do movimento Salve o Rio Melchior Newton Vieira conta que foi mais de 22 vezes à CLDF para procurar soluções para o excesso de lixo. Desde 2018, o movimento acompanha e realiza diversas denúncias sobre os problemas locais.

Segundo Newton, o rio encaixa-se no pior nível de poluição da legislação brasileira, e por isso não é recomendado para banho. Recebe o esgoto de mais de 1,4 milhão do DF, que corresponde a quase 50% da população, mas aponta que a fiscalização é insuficiente.

“As empresas que usam o rio não têm nenhuma responsabilidade sobre a poluição. As análises da qualidade das águas são feitas por empresas contratadas pelas empresas que usam o rio”.

Próximo ao rio está a Comunidade da Cerâmica, onde alguns situam moradia desde 1960. Newton conta que são cerca de 120 famílias que ocupam o local. De baixa renda, usam as águas do rio, apesar de serem consideradas impropriadas para o consumo humano.

Reponsabilidade

A reportagem entrou em contato com a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) que informou que não é de competência da empresa a fiscalização da qualidade dos resíduos sólidos no rio, cabendo à Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Ressaltaram que a legislação permite que o rio receba os efluentes dentro do parâmetro indicado. Já a SLU não respondeu até o momento do fechamento da edição.

O advogado Victor Mendonça, especialista em Direito Ambiental, explica que as infrações ambientais podem gerar multas que podem chegar a até R$ 50 milhões, embargos de atividades, apreensão de equipamentos ou veículos, suspensão ou cancelamento de licenças ambientais e até mesmo demolição de edificações. Responsáveis podem responder pelo crime de poluição com pena de reclusão de um a cinco anos.