Todos os anos, na sexta-feira da paixão, durante a semana santa, a encenação da via-sacra no Morro da Capelinha reúne milhares de católicos e apreciadores da tradição. O evento acontece em Planaltina — região administrativa mais antiga do Distrito Federal — e é tombado como Patrimônio Cultural Imaterial de Brasília, desde 2008. A encenação é realizada há 51 anos e representa a crucificação de Jesus.
A dona de casa Maria de Lourdes Maciel, de 73 anos, é uma das voluntárias mais antigas da via-sacra do Morro da Capelinha. Maria participou da edição inaugural do evento, em 1973. Ela desempenhou diferentes papéis e foi desde atriz — interpretando Maria de Nazaré — até integrante do suporte.
"Naquela época era bem diferente de hoje, era tudo 'no gogó', não tinha caixa de som nem nada. Lembro que um jipe subiu o morro com um rapaz chamado Viltinho em cima, narrando tudo com um megafone. Nós subimos atrás cantando os hinos", explica.
Agora, Maria trabalha no corte e costura dos figurinos dos atores, função que desempenha desde 1990.
"Alguns precisam de reformas; outros, precisamos fazer do zero, porque entram pessoas novas. Geralmente, tiramos um mês para organizar tudo, mas o material costuma chegar em cima da hora, então é uma correria. É uma dedicação intensa, mas cheia de amor", afirma.
Para Diogo José Pereira, coordenador de comunicação do Grupo Via Sacra, a celebração se tornou um dos eventos mais importantes da região. Ele destaca a capacidade do espetáculo de unir pessoas de diferentes origens em torno de uma experiência espiritual única.
"A via-sacra de Planaltina não apenas representa um elo profundo com nossa história e tradição religiosa, mas também se ergue como um pilar vital de turismo e economia criativa no Distrito Federal", disse o coordenador.
A via-sacra do Morro da Capelinha foi oficialmente reconhecida como parte do calendário de eventos da capital federal em 1986. Já a primeira montagem ocorreu em 1973, idealizada pelo padre Aleixo Susin, que morreu em 2021, aos 92 anos. Após sonhar com "três morros unidos que se enchiam de gente", ele falou com os fiéis e marcou procissões saindo de três igrejas de Planaltina, das quais era pároco na época. O ponto final do encontro foi o pé do Morro da Capelinha, onde ocorreu a primeira montagem da via-sacra.
