Estudantes brasileiros brilham nos EUA
Em busca de melhores oportunidades, Pedro Parmezani foi ao país com 15 anos e hoje faz mestrado em uma das grandes instituições de tecnologia do país
A estudante goiana Sarah Borges, que obteve a maior nota da turma de 2025 em Harvard, entre os 1.960 formandos de 94 países, não é um caso isolado. Pedro Parmezani, de 21 anos, formou-se Magna Cum Laude em Física Aplicada e Matemática na West Virginia Wesleyan College, e agora ingressa no mestrado em Engenharia de Sistemas na Virginia Tech. Ao Correio, o jovem afirma que o mundo vive um momento de mudança positiva para a ciência, e que ele busca contribuir para resolver problemas reais com seus projetos.
“Na minha trajetória, eu acho que o que foi muito importante foram programas de divulgação científica e investimento em pesquisa, além de oportunidades práticas, que desde cedo sempre foram muito importantes para mim, e ter os mentores certos que me incentivaram.
Ao compartilhar minha história, eu espero que isso possa inspirar outros jovens a ver que uma carreira nesse mundo da tecnologia é possível”, diz.
Pedro nasceu em Poços de Caldas (MG), mas mudou-se com um ano de idade e, ao longo da infância, morou em diversas cidades no interior de São Paulo. A ideia de um intercâmbio surgiu por volta dos 10 ou 11 anos, quando morava em Campinas e jogava futebol pela Base Academy. A empresa, voltada para intercâmbio esportivo, abriu a oportunidade para que o garoto fosse aos Estados Unidos. Aos 15 anos, Pedro se mudou sozinho para a Flórida, onde frequentou uma boarding school — espécie de internato — com outros atletas de alto nível. Ele afirma que essa fase foi decisiva para o seu processo de amadurecimento e de liderança.
“Era uma rotina bem puxada e obviamente a adaptação não foi fácil. Você tá num país novo, com uma cultura diferente, falando uma língua diferente, e você tem aula o dia inteiro e muito treino, então não tem muito tempo para respirar. Mas eu acho que foi aí que eu realmente comecei a amadurecer, a me tornar mais independente, a crescer na vida. E eu ali novo, 15 anos, tendo que me virar. Foi uma experiência incrível desde aquele momento”, relata.
Pedro recebeu uma bolsa de estudos pelo futebol e ingressou na West Virginia Wesleyan College, onde estudou por quatro anos e se formou este ano com GPA — métrica padronizada para medir o desempenho acadêmico de um estudante e que segue a escala numérica de 0 a 4 — de 3,84. No último ano, ele conquistou prêmios como o Outstanding Physics/Engineering Award 2025 e o Senior Academic and Leadership Achievement Award.
O jovem destaca que ser aceito em qualquer instituição, desde o internato até hoje, no mestrado, traz a ele uma sensação muito boa.
“Não é fácil ser aceito, especialmente com bolsa de estudos. Então, querendo ou não, é uma sensação de dever cumprido. Não é uma coisa que acontece do dia para a noite, é toda uma preparação, todo um processo, todo um background de experiência que você cria, mês após mês, ano após ano, para ter a oportunidade de ser escolhido e continuar se desenvolvendo como pessoa”, comenta.
Resolver problemas do mundo real
Pedro relata que sempre gostou muito de exatas e de investigar, de entender o porquê das coisas, e que deseja solidificar sua carreira na resolução de problemas do mundo real.
“O último projeto que eu fiz, eu gostei muito. Achei muito legal, muito interessante. Eu criei um modelo de pequena escala de um sistema de filtração por osmose reversa. e a energia desse sistema é vinda de energia solar. Esse projeto visa levar água limpa para áreas remotas, que não têm acesso à água limpa, e com um custo mínimo. Também já fiz bastantes projetos envolvendo física nuclear também, raios gama. Trabalhei com diferentes coisas, mas eu acho que, para mim, a coisa mais importante é resolver problemas do mundo real”, diz.
Com bolsa do programa SURE, Pedro desenvolveu a pesquisa inovadora sobre atenuação de radiação gama testando materiais como chumbo, cobre e plásticos. “Em viagens espaciais, onde cada grama conta, descobrimos que plásticos leves podem proteger quase tanto quanto metais pesados”, afirma. As descobertas têm aplicações relevantes em saúde, energia nuclear e exploração espacial, setores que demandam soluções eficientes e seguras.
Pedro relata a admiração por professores da Virginia Tech e conta que é muito bom ter um contato mais próximo com nomes conhecidos.
“Eu tenho uma aula agora de inteligência artificial para engenharia de sistema que vem sendo muito interessante, com o professor Dr. Reynolds. Ele vinha trabalhando na NASA pelos últimos três anos e agora está aqui na Virginia Tech. Eu já conhecia alguns projetos dele, então é muito legal ter esse contato mais próximo com ele”, afirma.
“Meu objetivo principal, é, como profissional, trabalhar na na indústria como engenheiro de sistemas ou como pesquisador. Mas eu quero, daqui para frente, poder ajudar empresas a resolver problemas complexos, no mundo real, como eu disse antes. Trabalhar em coisas que importam em diferentes áreas, como defesa, transporte, manufatura, tecnologia. A longo prazo, eu procuro ocupar uma posição de liderança, algo que permita também inspirar outros jovens, estudantes internacionais, ou abrir oportunidades para outras pessoas também, talvez providenciando essa capacitação para jovens como eu, que sonham em estudar para se desenvolver e fazer a diferença no mundo”, conta Pedro.
Estudantes brasileiros nos EUA
Nos últimos anos, os Estados Unidos têm recebido cada vez mais jovens talentos brasileiros no esporte e em áreas como Engenharia e Física. De acordo com a UNESCO, o número de brasileiros cursando universidades no exterior teve crescimento de cerca de 50% entre 2017 e 2022. Em 2024, cerca de 110 mil brasileiros estudavam no exterior, sendo 16.900 apenas nos Estados Unidos.
O Brasil tem investido cada vez mais na formação internacional de jovens, especialmente nas áreas de STEM (acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Além disso, esses estudantes contribuíram com mais de US$ 1 bilhão à economia dos EUA em 2023, fomentando inovação e pesquisa em várias frentes.
Em meio à crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos e da fama que o presidente norte-americano Donald Trump construiu de discursos anti-imigração, Pedro afirma que nenhuma mudança o deixou apreensivo nem preocupado. Para ele, construir uma trajetória sólida independe de quem esteja no poder.
“Obviamente, para qualquer pessoa que visita, trabalha ou vem como estudante internacional, é importante estar sempre sempre ligado a diferentes leis ou mudanças que podem ocorrer. Mas, pela minha experiência pessoal, o meu foco realmente é me desenvolver aqui e crescer a cada dia”, afirma o jovem.
A mensagem de Pedro é de persistência e determinação para construir, pouco a pouco, o caminho do sucesso, apesar dos desafios. “Começar com medo é normal, o importante é não permanecer nele. Saia da zona de conforto e esteja sempre aberto a aprender.”
