Brasil recupera cobertura vacinal e quer avançar mais

Saúde iniciará campanha de imunização, incluindo adultos, com intuito de voltar a ser referência mundial

Por Isabel Dourado

Padilha deu entrevista coletiva tendo ao lado o Zé Gotinha

Após seis anos de queda na cobertura vacinal, impulsionada pelo negacionismo, pela politização e pela disseminação de desinformação, o Ministério da Saúde vem trabalhando estratégias para retomar o protagonismo do Programa Nacional de Imunizações (PNI), uma das políticas públicas mais importantes do Sistema Único de Saúde (SUS). Dados divulgados pelo ministério nesta quarta-feira (1º), em Brasília, mostram avanços significativos nas taxas de vacinação, o que indica que o país está retomando o papel de referência mundial em imunização.

De acordo com a pasta, entre 2022 e 2024, o país avançou na proteção de crianças menores de 2 anos. A vacinação contra a poliomielite cresceu 17% no período. Já a cobertura da vacina tríplice viral, que previne contra sarampo, caxumba e rubéola, também aumentou. A aplicação da primeira dose passou de 80,7% em 2022 para 95,7% em 2024. Já a segunda dose subiu de 57,6% em 2022 para 80,1% em 2024.

O Diretor do PNI, Eder Gatti, explica que durante o período de 2016 a 2022, o PNI passou por um desmonte, que foi evidenciado pelo declínio da cobertura vacinal. Gatti destaca que a partir de 2023 o Programa passou por uma reestruturação dentro do próprio Ministério da Saúde.

“Logo nos primeiros dias do governo Lula, foi criado o Departamento do Programa Nacional de Imunizações. Antes, o PNI era uma coordenação-geral dentro de um departamento do Ministério. Hoje, é um departamento com quatro coordenações-gerais e uma estrutura própria, o que garante maior capacidade de planejamento e articulação, tanto dentro quanto fora do Ministério.”

Comunicação

Eder Gatti esclarece ainda que foi feito um direcionamento de toda a comunicação do Ministério no sentido de promover a vacinação, promover a ciência e, dessa forma, combater a hesitação vacinal. “Toda a estrutura do Ministério tem trabalhado, desde o início de 2023, e hoje nós apresentamos peças publicitárias que estão sendo direcionadas para divulgar a vacinação — não só nos canais do Ministério e nas redes sociais, mas também em locais públicos e na grande imprensa. A gente volta a ouvir falar de vacinação. Esse trabalho vem acontecendo, e a gente vê esse reflexo em nossos indicadores, com a melhoria da cobertura vacinal”, explica.

A pasta também anunciou a Campanha Nacional de Multivacinação, voltada à proteção de crianças e adolescentes de até 15 anos. Em um gesto simbólico de retomada da cobertura e da campanha no país, o personagem histórico Zé Gotinha participou do anúncio à imprensa, sentado ao lado do ministro Alexandre Padilha. Mais de 6,8 milhões de doses foram entregues para a campanha que acontecerá de 6 a 31 de outubro. O dia principal de mobilização, conhecido como Dia D, está marcado para 18 de outubro.

O ministro destacou que o Dia D é uma chance estratégica de envolver estados e municípios, especialmente nas regiões onde há maior número de crianças, para garantir que todas sejam protegidas nesse dia. “Será uma oportunidade estratégica para mobilizarmos, juntamente com estados e municípios, as localidades com maior concentração de crianças, garantindo que todas sejam protegidas durante o Dia D.”

Durante a campanha, todas as vacinas previstas no Calendário estarão disponíveis, incluindo imunizantes contra poliomielite e covid-19. A prioridade do Ministério da Saúde é imunizar crianças que ainda não receberam as vacinas contra o HPV, febre amarela e sarampo.

O ministro chamou atenção para a importância dos pais levarem os filhos para atualizar a caderneta de vacinação. “Nós queremos consolidar de vez o Brasil como o país da vacinação que protege as suas crianças e que as pessoas da sua família, profissionais de saúde e escola assumam o compromisso de proteger nossas crianças.”

Sarampo preocupa

O sarampo ainda é uma preocupação para o Ministério da Saúde. Mesmo o Brasil sendo considerado livre da circulação da doença, há um crescimento do vírus em alguns países das Américas, como Bolívia e Paraguai.

Por isso, a pasta tem intensificado ações, em parceria com os estados e municípios, para manter o país livre do sarampo. Dessa forma, a vacina será oferecida também para adultos. Pessoas de 12 meses até 59 anos poderão se vacinar, ajudando a fortalecer a proteção e evitar a reintrodução do vírus.
“A gente vai dar a oportunidade para as pessoas que não se vacinaram possam colocar a vacinação em dia. Por isso enviamos doses extras para os estados e para o Distrito Federal para que haja essa intensificação”, explicou Gatti.

Outubro Rosa

Além disso, haverá resgate de não vacinados contra o HPV na faixa etária de 15 a 19 anos. A Secretária de Atenção Primária à Saúde, Ana Luiza Caldas afirma que a expectativa é que o imunizante seja bastante divulgado especialmente durante o mês da campanha Outubro Rosa que busca conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.

“Precisamos engajar todo o território. Temos uma janela de oportunidade enorme no mês de outubro. O mês de outubro é o mês em que a gente trabalha a saúde da mulher no enfrentamento ao câncer do colo de útero e de mama.”

Em abril de 2024, o Ministério da Saúde passou a adotar o esquema de dose única da vacina contra o HPV, substituindo o modelo anterior, que previa duas aplicações. A mudança foi uma estratégia para intensificar e ampliar a adesão à vacinação.