Por Vitória Macedo (Folhapress)
O número de mulheres que dirigem aumentou ao longo dos anos. Muitas delas vão em busca de autonomia e sentem a necessidade de poupar tempo ao se locomover com filhos ou ajudar parentes. O ambiente de trânsito, no entanto, ainda é masculinizado e hostil.
No estado de São Paulo, as mulheres representam 40% dos condutores, segundo levantamento do Detran-SP, são 9.860.054 em 2023. "A gente percebe que é uma tendência cada vez maior para as mulheres serem inseridas no ambiente de trânsito", afirma Talita Rodrigues, Diretora de Habilitação do Detran.
Desde a infância, homens são estimulados a lidar com carros a partir dos brinquedos, o que reforça a ideia de que dirigir é uma atividade masculina. Enquanto isso, mulheres brincavam com bonecas e panelinhas. "O homem sempre foi visto nessa condição de motorista nato e adquiriu esse papel ao longo dos anos", afirma Rodrigues.
Se ao completar 18 anos, homens já iniciam o processo de tirar Carteira Nacional de Habilitação, as mulheres demoram mais e decidem aprender a dirigir por necessidade. Por trás disso existe um contexto familiar e uma demanda de locomoção com filho, ir ao trabalho ou ajudar algum parente.
Natália Veiga, 32, é uma dessas pessoas. Ela tirou a CNH em maio do ano passado para ganhar mais tempo e não ter que pegar três ônibus para ir trabalhar. Ela mora em Guaianases, zona leste de São Paulo, e trabalha no Itaim Paulista, na mesma região.
Mesmo depois de tirar a carta, que envolve provas teórica e prática e aulas em uma autoescola, a segurança para encarar o trânsito do dia a dia e levar a filha para a creche demorou a surgir.
Até que ela viu o carro do Elas no Trânsito, que dá aula para mulheres habilitadas, e entrou em contato para ter mais prática. O ensino, segundo a fundadora Maria Gramosa, é mais carinhoso e empático e voltado a coisas práticas como mudar de faixa, entrar no estacionamento ou desviar de buracos — o que, ela afirma, autoescolas tradicionais de primeira-habilitação não fazem.
Ela afirma que muitas mulheres a procuram o Elas no Trânsito, que foi fundado em 2015, se sentindo inseguras e com medo. Seu trabalho e de as outras duas instrutoras com quem trabalha envolve conversar com a aluna e tentar entender de onde vem esse sentimento.
"A maioria das mulheres fala que se sente bem conosco por sermos mulher, por entender o lado delas. Tem pessoas que sabem dirigir, o que precisam é de um incentivo", afirma Gramosa.
A instrutora diz que houve relatos de alunas que tentam dirigir com pai, irmão ou marido, mas se sentem incapazes depois que eles tentam ensinar algo sem técnica e paciência. "Infelizmente parece que a figura masculina, do lado de uma mulher dirigindo, impõe poder sobre ela", diz. "Eu sinto que existe um grande preconceito contra nós."
Foi essa sensação que motivou Diana de Oliveira, 37, a aprender a dirigir. Ela tirou a carta em 2019, mas ainda sentia medo. Voltou a ter aulas de direção em 2023. O seu filho, hoje com oito anos, também foi um incentivo para ela querer ter habilitação e agilizar o seu dia a dia. "Tinha que levar ele até a escola, médico, e de ônibus levava muito mais tempo", diz.
Diana procurou ajuda para perder o medo de dirigir, já que para ela a autoescola tradicional "é um treinamento para fazer a prova do Detran". Ela fez aulas com a Juliana Gaspardi, que trabalha na educação de trânsito e desde 2022 também tem um canal no YouTube com vídeos e dicas de direção. A maioria de suas clientes é mulher acima de 30 anos.
Gaspardi conta que maridos de alunas e até mulheres já duvidaram do seu trabalho e que já foi discriminada no trânsito. O mesmo aconteceu com Diana Oliveira. "Na minha visão temos dois tipos de motoristas, um que te dá passagem por ser mulher e por algum motivo te achar, digamos, 'bonita', e outro que te xinga, buzina e acha que mulher não sabe dirigir", diz.
As mulheres acabam recebendo um estigma de má condutora, mas os dados mostram o contrário. "A mulher é sempre considerada muito melhor condutora do que os homens. Em números absolutos, é disparado a quantidade de comparativos de infrações, óbitos, até na taxa de aprovação dos exames práticos", afirma Rodrigues.