Por Rudolfo Lago
Em parceria com Maurício Tapajós, o genial poeta Aldir Blanc compôs na década de 1980 a canção "Querelas do Brasil", que ficou imortalizada na voz de Elis Regina. Na canção, Aldir Blanc dizia: "O Brazil não conhece o Brasil". Era uma crítica a certo comando decisório que viria de fora do exterior, definindo os rumos do país, mas sem conhecê-lo de fato. Sem de fato saber quais seus os seus problemas, seus desejos, suas aspirações. Assim, um "Brazil" engravatado em salas luxuosas com ar-condicionado definia os rumos de um "Brasil" vivendo nos campos, nas suas casas, nas suas taperas, nas suas aldeias.
A verdade, porém, é que dentro mesmo das fronteiras do nosso país há um "Brazil" que não conhece o "Brasil". E não raro esse "Brazil" toma decisões e forma opiniões sobre o "Brasil" sem, de fato, conhecê-lo. Assim vão nascendo os preconceitos.
Fundado em 1901 por Edmundo Bittencourt, o Correio da Manhã nasceu com a vocação de ser um jornal da capital. E assim o foi até ser duramente tolhido pela ditadura militar em 1974, já sobre a administração da corajosa Niomar Bittencourt. Uma história que, como dissemos, será agora um dos capítulos rememorados pelo governo federal nos eventos programados para rememorar os 60 anos do golpe de 1964.
Jornal da capital
Na época, quando o Correio foi fundado, a capital era o Rio de Janeiro. E o Brasil era outro. A mudança da capital para Brasília em 1960 por Juscelino Kubitschek imprimiu mudanças profundas. Que impactaram não somente o Rio ao deixar de ser capital, mas todo o país.
O Brasil se interiorizou. Sua fronteira leste, especialmente, foi deixando de ser um deserto de área habitada. Fez surgir um fortíssimo agronegócio que hoje se tornou a principal locomotiva da economia brasileira. Trazendo por um lado soluções e por outros novos problemas. Desafios na área ambiental, na necessidade de conservação do planeta.
Alguns pólos, assim, se inverteram. Não deve ser por acaso que, naqueles tempos de final dos anos 50 e início dos anos 60, a música que o Brasil ouvia era produzida especialmente a partir das praias cariocas, com seus mestres da Bossa Nova. E hoje, mesmo no Rio, o que se consome em grande parte seja o trabalho das duplas sertanejas de estados como Goiás.
Mas as mudanças não afetaram somente a fronteira leste. A economia brasileira viveu forte desconcentração. Se no século passado, a indústria automobilística, por exemplo, estava toda concentrada no estado de São Paulo, hoje há montadoras de veículos em vários estados.
Assim, a manutenção da vocação do Correio da Manhã como jornal da capital precisaria ser alterada também. Não foi por outra razão que em outubro do ano passado foi criada a edição nacional do jornal, com impressão, circulação e produção feita a partir de Brasília, a nova capital criada por JK.
Novo caderno
Este novo Caderno Nacional, que passa a circular a partir desta segunda-feira (22) é a natural evolução dessa vocação. Uma evolução que mantém também outra das características do Correio. Surge de forma inovadora.
Outras páginas nacionais de outros veículos acabam sendo produzidas mantendo muitas vezes a visão reduzida e preconceituosa de um "Brazil" que não conhece o "Brasil". Essa não será a ideia aqui. O propósito será contrário.
Aqui, se tratará justamente de levar o "Brasil" de cada um dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal ao "Brazil". De tornar esse "Brasil" mais conhecido. Seus problemas, seus desejos, suas aspirações. Num esforço de colaboração para fazer com que esses anseios, mais conhecidos, se transformem de fato em projetos e realizações daqueles que tomam as decisões e formam a opinião.
Como será
Essa será a ideia central dessas oito novas páginas da edição nacional do Correio da Manhã que começam a circular hoje.
Ao contrário das demais páginas de editoria Nacional de outros veículos, o caderno terá páginas destinadas ao noticiário de cada uma das regiões do país.
Destacando o que acontece em cada ums dos seus estados, nas suas principais cidades. Nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de cada unidade da Federação. Em seu mundo empresarial. Em seus vários setores. Na sociedade civil organizada.
A partir daqui, estamos confiantes da colaboração que daremos. O "Brazil" passará a conhecer o "Brasil". E aprenderá a respeitá-lo.