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Quilombolas lideram o combate ao fogo

Brigada é formada por moradores do Quilombo Kalunga | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

A brigada formada por moradores do Quilombo Kalunga da Chapada dos Veadeiros (GO) é uma das pioneiras no uso consciente do fogo no Cerrado. O chamado Manejo Integrado do Fogo (MIF) é o conjunto de técnicas que usam o fogo como ferramenta para prevenir os incêndios florestais. O MIF é usado para queimar o excesso de vegetação seca que é propícia a se tornar combustível de incêndios de grandes proporções.

Criada em 2011, o grupo é formado por 75 brigadistas, que combatem o fogo nos municípios goianos de Cavalcante e Teresina de Goiás, juntando o conhecimento tradicional sobre o fogo dos kalungas com as técnicas de pesquisadores do Cerrado.

A brigada do Prevfogo é unidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Ibama) que atua no combate e prevenção de incêndios florestais. Já o Quilombo Kalunga é sétimo quilombo mais populoso do Brasil com cerca de 3.600 pessoas vivendo espalhadas em 39 comunidades por cerca de 261 mil hectares.

A quilombola Alenir José Alves, de 36 anos, conta, orgulhosa, como é trabalhar na prevenção aos incêndios na região com o uso consciente do fogo. "Sempre digo: a gente trabalha para gente mesmo. Nós estamos preservando o meio ambiente do nosso próprio território", disse.

Além de reduzir os incêndios florestais no Território Kalunga, a atuação da brigada facilitou o trabalho dos agricultores locais. José dos Santos Rosa, de 69 anos, trabalha na roça desde os 10 anos de idade. Segundo ele, antes da chegada da brigada, o manejo do fogo era feito com folhas de buritis, uma palmeira característica do Cerrado.

"Quando você fazia uma roça você sofria para fazer o aceiro [faixa do Cerrado que é limpa para evitar que o fogo ultrapasse certa área] ao redor dela. Nós reuníamos a companheirada pra ir botando fogo e ir apagando com folha de buriti", relatou.

Reconhecida como referência entre os mais de 2 mil brigadistas do Brasil, parte da brigada acabou selecionada para representar o Brasil em ação humanitária no Canadá para combater os incêndios que atingiram o país da América do Norte neste ano.

A brigada liderada pelos kalungas cedeu dez dos 42 brigadistas ligados ao Ibama que foram ao Canadá nos meses de julho e agosto.

"As autoridades canadenses ficaram impressionadas com o trabalho dos brigadistas do Brasil. Ficaram encantados com os meninos. Deram dois dias para eles fazerem uma vala, uma trincheira, e eles fizeram em duas horas", contou Cássio Tavares, responsável pelo Prevfogo em Goiás.

"Acho que é porque nossos brigadistas são tudo homem do campo. Acostumados a viver na mata, já sabem ligar com situações mais adversas", avaliou o supervisor da brigada local, o kalunga José Gabriel dos Santos Rocha.

A viagem ao Canadá revelou aos brigadistas brasileiros a enorme diferença entre as condições de trabalho do Brasil e do país da América do Norte. Os equipamentos de comunicação, as ferramentas e os veículos usados no combate ao fogo no Canadá chamaram atenção.

"Lá a gente viu que os brigadistas no Brasil não são tão valorizados. Aqui faltam transporte, EPIs e rádios comunicadores", afirmou Charles Pereira Pinto.