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Banda com vocalista autista surge graças à musicoterapia

Banda brasiliense "Hey Jonnhy" vem mostrando que o autismo não é impeditivo de nada | Foto: Divulgação

Por Gabriela Gallo

Os músicos testam o equipamento de som uma última vez. A plateia se amontoa na frente do palco buscando a melhor visão possível, ainda mais porque a casa está cheia. Os cantores se posicionam em frente aos microfones e testam: " Som, 1, 2, 3, som". Finalmente, está tudo finalizado, as luzes da plateia se apagam e começa o show. A banda composta por seis pessoas traz um som animado com músicas covers que transitam desde o rock nacional até o rock internacional. Mas ao longo da performance, a estrela do show chama a atenção além do talento: o vocalista principal, João Daniel Santos, de 18 anos, é autista grau 2.

Assim são os shows da banda brasiliense "Hey Jonnhy", que vem conquistando os corações dos seus fãs em Brasília e mostrando que o autismo não é impeditivo de nada. "O Autismo nunca me impediu de cantar", disse João.

O produtor da banda é o próprio pai do João, o servidor público Eduardo Silva Simões, que é o maior incentivador e fã do trabalho do filho.

Musicoterapia

Aos 11 anos de idade, João Daniel foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, por recomendação médica, começou a fazer musicoterapia com o profissional Julio Pucci.

Abril é o Mês de Conscientização sobre o Autismo, uma condição que ainda gera muito preconceito. Segundo o portal Drauzio Varela, TEA engloba diferentes condições, marcadas por perturbações do desenvolvimento neurológico com três características fundamentais, que podem se manifestar em conjunto ou isoladamente. Elas são: dificuldade de comunicação por deficiência no domínio da linguagem e no uso da imaginação para lidar com jogos simbólicos, dificuldade de socialização e padrão de comportamento restritivo e repetitivo.

E apesar dessas serem algumas dificuldades do João, a música foi um tratamento que mudou a vida dele. Seu interesse passou a surgir pelo amor dele por desenhos animados, especialmente os do estúdio norte americano DreamWorks, como Shrek. "[O João] escutava as músicas das animações que ele gostava e ele ficava encantado. Aí, começamos a fazer um trabalho de aulas de canto envolvendo primeiro as músicas de animações", destacou o pai de João.

Com uma pronúncia de inglês invejável, João passou a tomar gosto pelo canto. E das músicas de animações, passou a cantar canções internacionais famosas e, quase como se fosse destinado a acontecer, ele foi crescendo no ramo.

A musicoterapia é uma das principais terapias para pessoas com TEA. "A música e o autismo são parceiros, porque a musicalidade do autista é bem ampla. Se levarmos em consideração a sua parte sensorial auditiva, a parte do sentir mais aguçado que o comum, a música para o autista pode ser o paraíso para alguns e o inferno para outros. E esse é o trabalho do musicoterapeuta: como trabalhar a música para o autista, Como fazer que ela seja uma ferramenta para a sua organização? É trabalhar com a linguagem de cada um", explicou o musicoterapeuta Julio Pucci.

E para João, a música mudou a vida dele. Antes da "Hey Jonnhy", ele já integrou outras duas bandas: "Time Out" e "Good Time", formadas por uma equipe de músicos totalmente composta por autistas.

"Eu recomendo a musicoterapia pra todo mundo, não só pra quem tem autismo. A musicoterapia salva todo mundo", destaca Eduardo.

Conheça a banda

A banda Hey Jonnhy foi formada no segundo semestre de 2022, e conta com o baixista Giovanni Sena, o guitarrista Gabriel "T-bone" Soto, o baterista Deivid Carvalho, o tecladista professor Assis e a backing vocal Denise Ferreira. E apesar de relativamente pouco tempo no cenário musical, a banda coleciona apresentações.

O nome da banda nasceu de uma carinhosa saudação entre pai e filho. "Eu chamo ele [João Daniel] de 'Hey Jonnhy' e ele chama de 'Hey Daddy'. O nome original era 'A vida não é assim', que é uma frase que o João falava muito. Ficou um mês com esse nome até que nós mudamos porque o guitarrista disse que o nome original combinava com o nome de uma música ou de um álbum. O guitarrista viu que eu chamava ele de 'Hey Jonnhy' e achou interessante, então nós trocamos para nome que é hoje", contou o pai do João e produtor da banda Eduardo Silva Simões. No caso, a referência era a canção "Hey Johnny Park", da banda americana Foo Fighters.

Toda segunda-feira a banda se reúne para ensaiar. E o repertório é vasto, desde o rock nacional até o rock internacional, mas o destaque são as músicas de rock de animações. Dentre os destaques, não pode faltar "All Star" da banda Smash Mouth, "Accidentally in Love" da banda Counting Crows e "Live and Let Die" da consagrada banda Guns N' Roses - todas compõema trilha sonora da franquia de filmes de animação "Shrek".

Segundo o produtor da banda, o grupo nunca sofreu algum tipo de discriminação por produtores musicais ou organizadores de evento, em decorrência do vocalista ser autista. "Pelo contrário, na verdade eles até ajudam", ressaltou Eduardo.