Itamaraty responde a agressões de ministro da Defesa israelense

Após Israel Katz chamar Lula de 'apoiador do Hamas', ministério brasileiro diz que ele deveria apurar ataque israelense que matou 20 civis em Gaza

Por Jorge Vasconcellos

Palácio Itamaraty

Os governos do Brasil e de Israel protagonizaram, nesta terça-feira (26), mais uma troca de farpas públicas, em meio ao crescente desgaste da relação entre os dois países. O novo embate foi iniciado pelo ministro da Defesa israelense, Israel Katz, que criticou o presidente Lula, chamou-o de antissemita "apoiador do [grupo terrorista] Hamas" e o associou ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.

As declarações de Katz foram feitas em uma publicação nas redes sociais, escrita em português e com uma imagem gerada por inteligência artificial de Lula sorridente e preso por cordas de marionete, tendo atrás a figura de Khamenei.

Katz é o mesmo que, em 2024, levou o embaixador brasileiro no país, Frederico Meyer, ao museu do Holocausto em Israel, após Lula comparar a ação mortal das forças israelenses contra palestinos na Faixa de Gaza com o massacre de israelenses pelo regime nazista de Adolph Hitler. Para o governo brasileiro, a atitude de Katz foi uma humilhação.

A publicação do ministro israelense desta terça-feira foi feita um dia depois de o Ministério das Relações Exteriores israelense anunciar que vai "rebaixar" as relações diplomáticas com o Brasil após ter se irritado com o Itamaraty por ignorar a indicação de um novo embaixador em Brasília.

O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, respondeu que a indicação não foi ignorada, e acrescentou que "eles humilharam nosso embaixador lá", referindo-se a Israel.

Diz a publicação de Katz desta terça-feira: "Agora, ele [Lula] revelou sua verdadeira face como antissemita declarado e apoiador do Hamas ao retirar o Brasil da IHRA –o organismo internacional criado para combater o antissemitismo e o ódio contra Israel– colocando o país ao lado de regimes como o Irã, que nega abertamente o Holocausto e ameaça destruir o Estado de Israel. Como Ministro da Defesa de Israel, afirmo: saberemos nos defender contra o eixo do mal do islamismo radical, mesmo sem a ajuda de Lula e seus aliados".

Resposta do Itamaraty

Em resposta aos novos ataques do ministro da Defesa israelense, o Ministério das Relações Exteriores também se manifestou nas redes sociais.

Veja a seguir a íntegra da resposta do MRE:

O Ministro da Defesa e ex-chanceler israelense, Israel Katz, voltou a proferir ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis contra o Brasil e o Presidente Lula.

Espera-se do sr. Katz, em vez de habituais mentiras e agressões, que assuma responsabilidade e apure a verdade sobre o ataque de ontem contra o hospital Nasser, em Gaza, que provocou a morte de ao menos 20 palestinos, incluindo pacientes, jornalistas e trabalhadores humanitários.

As operações militares israelenses em Gaza já resultaram na morte de 62.744 palestinos, dos quais um terço são mulheres e crianças, e em uma política de fome como arma de guerra imposta à população palestina.

Israel encontra-se sob investigação da Corte Internacional de Justiça por plausível violação da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio.