Novo serviço militar na França
Medo de avanço de Putin leva França a criar novo serviço militar
Por Igor Gielow (Folhapress)
Em mais um passo da crescente militarização da Europa devido ao risco percebido de um conflito com a Rússia na esteira da Guerra da Ucrânia, a França anunciou nesta quinta-feira (27) a criação de uma nova modalidade de serviço militar.
"A França não pode ficar parada", disse o presidente Emmanuel Macron ao revelar os detalhes do novo programa, em uma base militar em Varces, nos Alpes. O plano "foi inspirado por práticas de nossos aliados europeus, num momento em que todos avançam em resposta a uma ameaça que pesa sobre todos nós", afirmou.
A ameaça, claro, é aquela que a Europa percebe no presidente Vladimir Putin, que invadiu a Ucrânia em 2022 e agora lida com mais uma difícil tentativa de acordo de paz mediado por Donald Trump.
O russo disse recentemente que líderes europeus vivem uma "histeria militar", mas que isso pode levar à guerra. Nesta quinta, em reunião com aliados no Quirguistão, afirmou que a ideia de que vá atacar a Otan é ridícula.
Macron, contudo, não mencionou o nome da Rússia, visando baixar a temperatura alta devido a comentários do chefe das suas Forças Armadas, o general Fabien Mandon. Ele disse que a França precisava se fortalecer e "aceitar perder suas crianças" em sua defesa. Políticos de todas as colorações criticaram o tom, e o próprio presidente foi a público dizer que não pretendia enviar jovens para lutar na Ucrânia.
Seja como for, o novo plano militar é destinado a jovens, embora Macron tenha descartado a volta do alistamento obrigatório, extinto em um processo gradual de 1997 a 2001.
Pelo esquema, jovens de 18 e 19 anos que toparem ser voluntários receberão salários por dez meses, num custo inicial equivalente a R$ 12,4 bilhões anuais. Macron quer atrair 3.000 pessoas em 2026, chegando a 10 mil em 2030 e, "dependendo da evolução das ameaças", a 50 mil em 2036.
Hoje, a França tem um efetivo de 202 mil militares, além de 38,5 mil reservistas. Os jovens que aderirem ao programa só servirão em solo francês, uma forma de evitar o fantasma de uma eventual ação na Ucrânia ou outro ponto.
A questão é sensível nas discussões sobre a paz. O plano inicial de Trump, pró-Rússia, previa a proibição da adesão de Kiev à Otan e a presença de forças ocidentais em solo ucraniano. Na versão revisada após pressão europeia, isso não está claro.
No ano passado, quando ventilou a hipótese de uma força de paz, Macron ouviu de Putin a ameaça de uma guerra nuclear.
