Por Igor Gielow (Folhapress)
Após uma noite de eventos extraordinários, com ao menos 19 violações de seu espaço aéreo por drones durante um mega-ataque da Rússia à vizinha Ucrânia, a Polônia convocou seus 31 colegas da aliança militar Otan para discutir os próximos passos da crise.
"Não há motivo para dizer que estamos em um estado de guerra, mas a situação é significativamente mais perigosa do que as anteriores", disse ao Parlamento na quarta (10) o premiê Donald Tusk, para quem o risco de um conflito de grande escala "está mais próximo do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial".
A Rússia contemporizou. O Kremlin disse que o assunto era do Ministério da Defesa, que por sua vez negou ter atacado o vizinho e afirmou que a ação mirava apenas instalações industriais no oeste da Ucrânia. Ressaltando que os drones não teriam alcance para ir tão longe no território polonês, a pasta se colocou à disposição para conversar com os vizinhos sobre o assunto.
Antes, o encarregado de negócios russos em Varsóvia, Andrei Ordach, apenas disse que "os drones vieram da Ucrânia" após ser convocado à chancelaria local, sugerindo o discurso oficial. Ao menos um líder europeu, o russófilo premiê eslovaco, Robert Fico, insinuou alinhamento: "É preciso estabelecer se foi intencional ou acidental, e quem controlava os drones".
Já o presidente americano, Donald Trump, publicou em rede social uma mensagem ambígua, que pode ser lida tanto como uma dúvida sobre a acusação de que Moscou teve intenção como quanto ameaça de retaliação por meio de sanções. "O que há com a Rússia violando o espaço aéreo polonês com drones? Lá vamos nós!", escreveu na Truth Social.
O pró-Ocidente Tusk e o presidente Karol Nawrocki, que é de um partido rival e próximo de Trump, se reuniram e decidiram invocar o artigo 4 da carta da Otan, que prevê consultas ativas entre os integrantes da o clube militar quando há violações de soberania de um dos membros. Não houve danos sérios ou vítimas.
O secretário-geral da aliança, o holandês Mark Rutte, disse que a apuração do incidente está em curso. "Intencional ou não, foi absolutamente irresponsável, absolutamente perigoso", afirmou.
Diversos líderes europeus expressaram solidariedade, mas também há cautela para evitar uma escalada. Há na memória um incidente do início da guerra, em 2022, quando um míssil que caiu do lado polonês da fronteira e matou dois fazendeiros foi identificado depois como ucraniano.
O temor, óbvio, é o de uma escalada indesejada que possa levar a um choque entre Moscou e Otan, potencialmente a Terceira Guerra Mundial.