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Crise climática aumenta chances de incêndio na Europa

Mais de um milhão de hectares já foram queimados neste verão europeu, marca inédita desde que as medições começaram em 2006. Espanha e Portugal registraram dois terços do estrago. As condições críticas de temperatura, umidade e vento, que favoreceram o fenômeno, são esperadas uma vez a cada 15 anos. Sem o aquecimento global provocado pela atividade humana, a frequência seria de uma vez a cada 500 anos.

Novo estudo rápido divulgado pelo WWA (World Weather Attribution), painel de cientistas que investiga a responsabilidade da crise climática em eventos extremos, mostra que as condições para incêndios florestais como os que assolaram a Península Ibérica nos últimos meses se tornaram 40 vezes mais prováveis com a crise climática.

"Temperaturas tão quentes como as verificadas em agosto teriam sido extremamente improváveis em um clima pré-industrial", afirma Theodore Keeping, pesquisador do Imperial College, de Londres, que lidera o consórcio de especialistas reunidos pelo WWA. "Estimamos que essas temperaturas são agora cerca de 200 vezes mais prováveis de ocorrer do que teriam sido em um clima global 1,3°C mais frio."

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, propôs um mutirão nacional contra as mudanças climáticas e a mobilização dos países do sul europeu na adaptação e prevenção a incêndios florestais. "Vamos propor aos governos português e francês um pacto de Estados e defender, junto à União Europeia, que nossa única opção é permanecer na transição ecológica", declarou o premiê nesta semana.

Sánchez segue o manual dos ambientalistas, que pregam não apenas a prevenção, como também a adaptação. É o caminho que resta diante de uma crise climática que só piora. "Os incêndios já são extremos hoje com 1,3° C de aquecimento global, mas já estamos a caminho de 2,6° C a 3°C neste século", recorda Keeping.

Por José Henrique Mariante (Folhapress)