Premiê francês propõe eliminação de feriados
Na busca de € 44 bilhões (cerca de R$ 285 bilhões) para o Orçamento de 2026, o primeiro-ministro François Bayrou propôs, entre outras medidas, que a França elimine dois feriados nacionais: a segunda-feira de Páscoa e o 8 de maio, o Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945).
"É preciso que toda a nação trabalhe mais", justificou Bayrou em discurso na terça (15), acrescentando que a segunda de Páscoa "não tem nenhum significado religioso" e que o mês de maio "virou um verdadeiro queijo suíço", com 3 dos 11 feriados franceses.
Entre outras medidas, Bayrou também sugeriu a eliminação de 3 mil empregos públicos, pela não substituição de aposentados; o congelamento de aposentadorias e da tabela do imposto de renda; uma "contribuição dos mais afortunados", sem chegar a falar em imposto sobre fortunas; e redução de € 5 bilhões (cerca de R$ 32 bilhões) nos gastos com saúde, com "maior eficiência" e combate a fraudes.
Essas propostas precisam ser aprovadas até o fim do ano pela Assembleia Nacional. A discussão orçamentária levou à queda do gabinete anterior, do premiê Michel Barnier, em dezembro passado, após apenas três meses no cargo.
O anúncio do governo, de centro-direita, foi criticado à esquerda e à direita. A França Insubmissa, partido de ultraesquerda, já havia anunciado que apresentará uma moção de censura na Assembleia Nacional para derrubar o gabinete. Marine Le Pen, líder da Reunião Nacional, de ultradireita, disse que apoiará um voto de censura caso o pacote de medidas não mude.
A situação das contas públicas francesas é preocupante. A previsão de déficit público é de 5,4% do PIB em 2025. A meta é chegar em 2029 ao patamar de 3% que os países da União Europeia teoricamente devem cumprir. A dívida pública está em 114% do PIB.
Segundo o premiê, a França é "o país mais pessimista do mundo e o que mais gasta dinheiro público". Anualmente, o governo gasta cerca de 57% do PIB (Produto Interno Bruto) e arrecada apenas 51%.
Para piorar, o agravamento dos conflitos armados em várias regiões do mundo levou o presidente francês, Emmanuel Macron, a anunciar no domingo (13) um aumento dos gastos militares: mais € 6,5 bilhões (cerca de R$ 42 bilhões) nos próximos dois anos, alta que o governo ainda não explicou de forma detalhada como será financiada.
Com sua proposta de Orçamento, Bayrou põe em jogo o próprio cargo.
Por André Fontenelle (Folhapress)