Por João Batista Natali (Folhapress)
A cidade de Donetsk tem 900 mil habitantes e fica ao leste da Ucrânia. A maior parte da região está sob o controle da Rússia desde 2014 e é um dos mais ativos campos de batalha do conflito iniciado em fevereiro de 2022. E foi também um dos locais visitados pela jornalista inglesa Zanny Minton Beddoes, diretora de redação da revista The Economist e que publicou um recente retrato minucioso da confusa situação em que civis e militares ucranianos convivem com a guerra contra um inimigo maior e mais poderoso, no podcast The Weekend Intelligence.
Deu para saber, por exemplo, que Vlad é um capitão que antes do conflito era fotógrafo de casamentos. Ele comanda 42 militares bem próximos à linha de combate contra os russos. Vlad diz que os feridos de sua equipe são tratados no local em que se machucam porque a Rússia não respeita a Convenção de Genebra, que proíbe atirar em ambulâncias ou veículos que tenham estampada uma cruz vermelha.
A artilharia dos dois lados é dominada pelos drones. A região é uma planície a perder de vista com a monotonia da paisagem só quebrada pelas montanhas de entulho retirado desde o século 19 de dentro das minas de carvão.
Não muito longe dali Zanny encontrou dois soldados insatisfeitos e dispostos a falar mal da Ucrânia pela qual lutavam. Afirmaram ser desprezados por seus superiores, que os enviavam em missão mal-armados e sem munições. Disseram ainda que foram encarregados de tomar conta de um equipamento caro, embora não tivessem armas adequadas para se protegerem.
Não é esse, no entanto, o padrão. Há os veteranos que herdaram na Ucrânia as habilidades do antigo soldado soviético. Ou os inexperientes que são beneficiados pela doação de moderno material bélico, que parte de doadores ricos que atuam em conjunto com um setor industrial de armas de formação recente.
Um dos especialistas disse à jornalista da revista que, com os combates em curso, a Ucrânia tem hoje o mais competente Exército europeu. E que esse lado positivo não é desconhecido das avaliações feitas pela Otan -a aliança militar ocidental- à qual o país deseja entrar como forma de se proteger das agressões de Moscou.