Após anos de uma paz frágil, o Azerbaijão rompeu o cessar-fogo vigente desde 2020 e atacou na terça Nagorno-Karabakh, um enclave armênio étnico em seu território que já foi objeto de duas sangrentas guerras desde o fim da União Soviética que ambos integravam.
Segundo o Ministério da Defesa de Baku, o objetivo é "desarmar e garantir a retirada de formações das Forças Armadas da Armênia de nossos territórios, neutralizar sua infraestrutura miliar e restituir a ordem constitucional da República do Azerbaijão". Segundo o governo local, 2 pessoas morreram e 11, ficaram feridas.
Com o eufemismo típico dessas situações, os azeris disseram ter lançado "atividades antiterroristas", usando mísseis de precisão e bombardeios. Na capital regional, Stepanakert, explosões foram ouvidas e divulgadas em vídeos de redes sociais.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediu o fim dos ataques, que ocorrem no dia de abertura da Assembleia-Geral da ONU. Em Nova York, diplomatas franceses disseram ser necessária uma "resposta dura" ao ataque. A Rússia, mediadora do cessar-fogo de 2020 na região, está em contato com os dois lados.
Sem muita sutileza, Baku afirmou que o corredor ligando Nagorno-Karabakh à Armênia está aberto, e todos os civis que quiserem deixar o território são livres para fazê-lo. Ierevan acusa os vizinhos de genocídio e limpeza étnica, palavras com forte eco na região devido ao massacre de armênios em 1915 pelos otomanos —e os hoje turcos são aliados dos azeris.
A crise em Nagorno-Karabakh é um cadáver insepulto desde o fim do império comunista, em 1991. Quase 800 mil armênios étnicos, em sua maioria, ficaram para trás no território encravado no Azerbaijão. Baku também tem uma outra fatia de seu país separada, Nakhchevan, espremida entre Armênia, Irã e Turquia. De 1992 a 1994, uma guerra foi travada, com a Armênia ganhando territórios em volta de Nagorno-Karabakh, que serviam de tampão entre a região e as forças azeris.