Houve um tempo em que ver o nome de Tim Burton no cartaz ou no trailer de um filme era garantia de ver um filme ousado e ridiculamente criativo. Porém, nos últimos anos, o diretor parece ter perdido essa habilidade de encantar seu público com um visual fantástico e bem gótico, em meio a personagens exóticos e carismáticos.
Na verdade, o histórico recente do diretor não chega nem perto daquele Tim que fez uma geração inteira olhar com outros olhos para temas complexo, como o luto e a solidão. Além de sonhar com a vívida e 'trevosa' Gotham City de seu Batman. Pois bem, se Tim Burton ainda é um nome relevante nos cinemas hoje em dia, isso se deve a essa quantidade absurda de clássicos que ele realizou no passado. E curiosamente, o diretor é conhecido por não fazer sequência de seus sucessos, com exceção de Batman. Mas agora, está em cartaz nos cinemas 'Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice'.
Quase 40 anos depois, Michael Keaton retorna ao icônico terno preto e branco da alma penada para uma nova aventura ao lado de Tim Burton. Porém, em meio a um mundo sarcástico até demais, o 'Besouro Suco' não tem mais o mesmo impacto que o destacou nos anos 80.
Seu jeito grosseirão e disruptivo não chega a arranhar a piada mais 'limpa' de um Deadpool da vida, o que acaba deixando sua participação muito abaixo do esperado. Ele flerta com a bobeira e realmente tenta emplacar esse ícone novamente, mas agora seus atos não divertem tanto e suas palhaçadas não cativam tanto quanto antes.
Mas o problema do filme não é ele. É o roteiro e uma repetição irritante de tudo que aconteceu no primeiro longa. Sim, a trama inteirinha do filme original é repetida aqui, mesclada com um ótimo núcleo de novos personagens, que deveriam ter mais destaque.
Uma tragédia familiar une Lydia (Winona Ryder) a sua filha Astrid (Jenna Ortega) em uma viagem para a casa onde se passa 'Os Fantasmas Se Divertem'. Por lá, Astrid vive uma história própria, enquanto Lydia repete seu ciclo do primeiro filme, mas agora do ponto de vista de adulto. Spoiler: não muda em nada. Fica repetitivo e irritante. Principalmente porque a história de Astrid vivendo seu primeiro amor - e as mudanças que isso podem trazer - é muito interessante e acaba sendo jogada de lado para que Tim possa reviver seu passado.
Mas nada é tão frustrante quanto a participação de Monica Bellucci. A namorada do diretor foi amplamente promovida no material de divulgação, mas sua personagem tem uns 15 minutos de cena e não faz absolutamente nada. Sua introdução é incrível. E só.
Com cerca de 1h45 de duração, 'Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice' mostra que Tim Burton estava certo em evitar fazer sequências. O potencial desse filme era grande, mas talvez a baixa classificação indicativa tenha impedido o diretor de competir com o absurdo da realidade. Apesar de ter pontos positivos, como a estética impecável e o uso de efeitos práticos, o filme é uma grande frustração. Depois que inventaram a nostalgia como muleta, a criatividade passou a sofrer de uma crise terrível.
Nota: 4/10