Em comemoração à trajetória de um homem que, sem medir esforços, contribuiu de forma incansável para o desenvolvimento da orla carioca, a série Personagens da Orla desta semana traz um episódio especial com a história do fundador da Orla Rio, João Barreto. Para contar essa origem, precisamos voltar mais de 62 anos, quando esse conterrâneo de Peixe Gordo, no litoral do Ceará, nordeste brasileiro, instalou a Jonn's - uma carrocinha de cachorro-quente na até então deserta Praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Aos poucos, com muita resiliência, Barreto transformou seu pequeno negócio em mais de 300 trailers e carrocinhas espalhados pela orla do Rio. Foram mais de 20 anos vendendo cachorro-quente e o tradicional achocolatado Sustincau, tornando-se uma referência nas praias.
Mesmo com perseverança, a jornada de Barreto foi marcada por grandes dificuldades. Ele relembra que, em 1962, os trabalhadores da praia viviam apenas dos dias ensolarados, especialmente nos finais de semana. Naquela época, a Barra da Tijuca era um refúgio apreciado, mas poucos tinham acesso ao local, já que era difícil chegar à praia e poucos possuíam veículos. "As dificuldades para trabalhar eram imensas. Não tínhamos gelo - precisávamos ir até a Rodrigues Alves buscar restos de escamas, e também não havia água ou luz. A carrocinha funcionava com lampião", conta João.
Barreto foi o pioneiro na venda de coco na orla carioca, um verdadeiro marco na história das praias. Nos anos 60, o consumo de milho verde já existia, mas a fruta precisava ser buscada em Itaguaí, cerca de 73 km do Rio. Assim, João iniciou o que hoje é o clássico hábito de tomar água de coco na praia. Ele relembra: "Tive inúmeras oportunidades de entrar em outros negócios, mas meu sonho sempre foi transformar a orla do Rio no melhor que ela poderia ser, junto com meus companheiros. Sempre procurei liderar e ajudar a transformar as pessoas que trabalhavam comigo".
A história de João Barreto é um verdadeiro exemplo de resiliência, provando o quanto podemos alcançar ao superar adversidades. Naquela época, a prioridade para conseguir um ponto de trabalho na praia era dada a ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial ou ex-presidiários. "Nós chegamos como ambulantes. Para ter a primeira carrocinha, era necessário solicitar à Prefeitura, que na época era muito rigorosa. Depois, esperávamos 30 dias no Diário Oficial. A preferência sempre era dada a militares ou ex-presidiários, e se ninguém quisesse, então nós conseguíamos a oportunidade de correr atrás da licença", relembra João.
"Hoje somos reconhecidos, e milhares de pessoas querem ter um quiosque. Mas primeiro tivemos que vencer as dificuldades e mostrar à sociedade que somos úteis, porque trabalhamos de domingo a domingo. Enquanto os outros se divertem, nós estamos batalhando com humildade, dando o nosso melhor para quem nos procura."
Em 1990, com a implantação do projeto Rio Orla pela Prefeitura do Rio, os trailers e as carrocinhas foram substituídos pelos atuais quiosques. A Jonn's deu origem à Orla Rio, criada para prestar todos os serviços de manutenção necessários aos quiosques. Ao longo dos anos, esses quiosques passaram por regulamentações e modernizações, tornando-se parte icônica da cultura carioca e um reflexo do crescimento do turismo na cidade.
Quem poderia imaginar que aquele jovem sonhador do Nordeste se tornaria o precursor de um universo de possibilidades? João Barreto já sabia cada passo que daria. "Acreditar naquilo que você projeta na sua imaginação, e se jogar de corpo e alma, é fundamental. É como ouvir a voz de Deus dizendo: vai nessa! E eu fui", revela João.
Hoje, Barreto valoriza o fato de que os cariocas acreditam nos dirigentes da orla, graças à simplicidade, honestidade, humildade e, mais uma vez, à resiliência. "Quando me perguntam o segredo da minha resistência, é simples. É como se eu tivesse entrado em um corredor e fechassem a porta atrás de mim - só há o caminho à frente. Eu vim de uma família muito pobre. Como eu voltaria? É vencer ou vencer. Não importa se há pessoas contra, você tem que acreditar e seguir em frente."
No último dia 15 de outubro de 2024, João Barreto, cearense de nascimento e carioca de coração, completou 62 anos de dedicação à praia. Mais do que um fundador, Barreto se tornou um símbolo de respeito e inspiração para todos que fazem ou já fizeram da orla seu local de trabalho ou lazer favorito.
Encantado e com um brilho nos olhos, Barreto reflete: estar aqui é um presente de Deus. Para ele, a praia é o maior convite para os turistas visitarem a Cidade Maravilhosa. Após conhecerem o Cristo e o Pão de Açúcar, é a orla que faz os visitantes estenderem sua estadia, o que gera mais empregos e tributos para a cidade.
"Somos embaixadores do Rio de Janeiro. Com todo o respeito a Brasília, mas a capital cultural é o Rio", destaca João.
João Barreto deixou um imenso legado para seu filho, João Marcello Barreto, que desde 2018 preside a Orla Rio, aprimorando cada vez mais a empresa em prol da sociedade, do meio ambiente, da economia e do universo da praia. Hoje, a Orla Rio é a concessionária responsável pela operação e manutenção de 309 quiosques ao longo de 34 km de praias cariocas, além de 27 postos de salvamento. E essa história de sucesso continua, com a expansão da Orla Rio prestes a alcançar novas regiões, incluindo outros estados do Brasil.
