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Carlos Carvalho: 100 anos de visão e transformação urbana

Poucos brasileiros tiveram a oportunidade de testemunhar e contribuir diretamente para a evolução de uma cidade ao longo de um século. O engenheiro Carlos Fernando de Carvalho é um desses privilegiados. Nascido em Jacarepaguá, ele celebra hoje seu centésimo aniversário contemplando um Rio de Janeiro drasticamente diferente daquele de 1924.

Carlos Fernando, carioca de nascimento e visionário por vocação, compreendeu a importância do Plano Piloto de Lúcio Costa para a expansão da Baixada de Jacarepaguá no final dos anos 1960. Sua visão antecipou a transformação da Barra da Tijuca de um vasto areal para uma região próspera, hoje conhecida como a "Miami carioca". Seus empreendimentos planejados, que originaram o chamado "Barra Way of Life", refletem essa trajetória de sucesso.

Nos anos 1930, o naturalista Armando Magalhães Corrêa escreveu "O Sertão Carioca", uma coletânea de crônicas sobre a então remota e árida região que hoje compreende a Barra da Tijuca. No final da década de 1960, essa paisagem desértica começou a ser transformada, em grande parte graças ao arquiteto e urbanista Lúcio Costa e ao engenheiro Carlos Fernando de Carvalho.

Lúcio Costa, contratado pelo governador da Guanabara, Negrão de Lima, desenvolveu um projeto de urbanização para a Barra da Tijuca, na época um território quase inacessível. Carlos Fernando de Carvalho, fundador da construtora Carvalho Hosken, vislumbrou o potencial da região para se tornar um refúgio para as classes média e média alta, transformando o "sertão" em uma "Miami carioca". Ele foi um dos quatro empresários que investiram na compra de terras baratas na região para futuros projetos residenciais e comerciais, juntamente com Múcio Athayde, Pasquale Mauro e Tjong Hiong Oei.

Formado em Engenharia pela Escola Politécnica em 1949, Carlos Fernando, conhecido respeitosamente como Dr. Carlos, fundou a Carvalho Hosken aos 27 anos. Inicialmente focada em obras públicas, a empresa ganhou um novo rumo com a apresentação do Plano Piloto de Lúcio Costa, que iluminou a Barra da Tijuca como área de expansão natural do Rio. Esse insight transformou a região em um dos principais polos de desenvolvimento urbano do país.

Hoje, à frente da presidência da Carvalho Hosken, Carlos Felipe de Carvalho expressou sua admiração pela trajetória do pai. "Acompanho a trajetória de meu pai desde menino e tenho muito orgulho de fazer parte de uma história incrível dedicada ao desenvolvimento urbano da cidade, em especial da Barra da Tijuca. Meu desafio é dar continuidade no futuro a esse importante legado", afirmou Carlos Felipe.

Além disso, a Carvalho Hosken investiu em iniciativas sociais, como a Escola Carvalho Hosken de Hotelaria, localizada no Hilton Barra entre 2015 e 2017. Em parceria com a ONG RioSolidário, o Senac RJ e o Hilton Barra, a escola visava formar jovens de 18 a 24 anos para o mercado de trabalho hoteleiro. Um exemplo de sucesso é Rayane Mello, que se formou na primeira turma de 2015/2016. Hoje, ela trabalha na rede hoteleira em Rio das Ostras e credita à escola de hotelaria a oportunidade de se inserir no mercado de trabalho.

"Iniciei minha jornada na hotelaria através do curso que a Carvalho Hosken concedeu em parceria com o RioSolidário, Senac RJ e Hilton Barra, onde aconteciam as aulas. O curso tinha o objetivo de capacitar pessoas para atuar no ramo hoteleiro durante os Jogos Olímpicos de 2016. Ao concluí-lo, tive a oportunidade de trabalhar no Hilton Barra como temporária de Alimentos e Bebidas e, após este contrato, me tornei estagiária da Recepção. Hotelaria se tornou uma paixão! Em 2024, permaneço atuando no ramo hoteleiro. Obrigada, Carvalho Hosken e Dr. Carlos, por abrir a primeira porta em minha jornada hoteleira", contou Rayane.

Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), destacou a significativa contribuição de Carlos Fernando de Carvalho para a história da Barra da Tijuca. "O doutor Carlos é um patrimônio aqui da Barra da Tijuca e da cidade do Rio de Janeiro. Ele foi o homem que vislumbrou o Centro Metropolitano, que hoje é o centro real da cidade, e isso há décadas atrás. Agora estamos vendo isso consolidado," afirmou Lopes.

Alfredo Lopes também relembrou o período em que esteve próximo de Carlos Fernando de Carvalho durante as Olimpíadas do Rio de 2016. "Eu tive a oportunidade de conviver bastante com ele nesse período. As Olimpíadas do Rio de Janeiro devem muito ao doutor Carlos. Se não fosse por ele, elas não teriam sido realizadas aqui. Ele assumiu a construção dos inúmeros prédios na Ilha Pura, que era a Vila Olímpica. Ele é um homem intimamente ligado à nossa cidade, ao bairro da Barra da Tijuca, Recreio e adjacências."

O presidente da ABIH-RJ concluiu com felicitações pelo centenário do empresário: "Parabéns pelo centenário dele. Que ele viva muitos anos mais para nos ajudar no desenvolvimento dessa cidade."

O subprefeito da Barra, Raphael Lima, também falou sobre a importância do empresário: "O Sr. Carlos Carvalho é um visionário do setor imobiliário da região da Barra. Foi um dos pioneiros ao perceber o potencial da Barra da Tijuca como novo polo de expansão da cidade do Rio de Janeiro. Ele foi ousado e empreendedor ao decidir investir aqui quando ninguém nem imaginava atravessar as montanhas que cercam o bairro. Sem dúvidas, é uma figura emblemática e muito importante para a Barra da Tijuca."

Nos anos 1970, Carlos Carvalho adquiriu terrenos que totalizavam dez milhões de metros quadrados na Baixada de Jacarepaguá, uma área comparável aos bairros de Copacabana, Leme e Botafogo juntos. Este movimento estratégico mudou o foco da sua empresa, que antes se concentrava principalmente em obras na Zona Sul do Rio e nas cidades-satélite ao redor de Brasília.

José Isaac Peres, Presidente do Conselho da Multiplan, relembra a honra que teve em conhecer o jovem Carlos Fernando de Carvalho há 57 anos atrás. Dr. Peres relembra as parcerias de sucesso em diversos empreendimentos como o BarraShopping, o Golden Green na praia da Barra, e em vários projetos na Península, e reconhece nele um valor incrível de um desbravador da Barra da Tijuca, com uma visão extraordinária do futuro do Rio de Janeiro, e que se tornou um dos polos mais importantes da Cidade. "Ele sempre me dizia que se parasse de trabalhar, morreria, e eu concordo com ele. Eu acho que o Dr. Carlos é um exemplo para o nosso País".