A guerra da Rússia na Ucrânia completa nesta terça-feira (24) três meses com ataques constantes ao território ucraniano, principalmente no leste. "Que outro país resistiu a tantos ataques?", questionou, no pronunciamento noturno de terça-feira (23), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, citando que o país foi alvo de "mais de 3.000 ataques aéreos de aeronaves e helicópteros russos" desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Zelensky disse acreditar que "as próximas semanas da guerra serão difíceis", indicando que os russos não vão desistir de áreas ocupadas e que "eles estão tentando reforçar suas posições". "No entanto, não temos alternativa a não ser lutar. Lutar e vencer. Libertar nossa terra e nosso povo. Porque os ocupantes querem nos tirar não apenas algo, mas tudo o que temos. Incluindo o direito à vida para os ucranianos."
O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, disse nesta terça-feira (24) que o "ritmo da ofensiva" russa teria diminuído em razão de corredores humanitários e "regimes de silêncio" em algumas áreas no território ucraniano. "É claro que isso diminui o ritmo da ofensiva, mas isso é feito deliberadamente para evitar baixas civis."
Atualmente no 90º dia da guerra, o governo da região russa de Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia, prolongou por mais duas semanas o nível amarelo de ameaça terrorista, até 8 de junho. "Isso ajudará nossos serviços especiais a manter o povo de Kursk seguro", disse o governador Roman Starovoit. Na semana passada, houve um ataque perto da fronteira. A área está neste nível de ameaça -são três, no total- desde 11 de abril.
A região ucraniana de Sumy, no nordeste do país e próxima a Kursk, sofreu novos ataques, com a cidade de Bilopillia sendo atingida. Autoridades ucranianas também relataram ataques em pontos das regiões de Kharkiv, Lugansk, Donetsk, no leste, e Mykolaiv, no sudeste.
A inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido disse, em informe divulgado nesta terça-feira (24), que "tem havido forte resistência ucraniana com forças ocupando posições defensivas bem entrincheiradas". Os britânicos, aliados dos ucranianos, também avaliaram que a "Rússia aumentou a intensidade de suas operações no Donbass [área com separatistas no leste], uma vez que procura cercar Sievierodonetsk, Lyschansk e Rubizhne".
Segundo o Reino Unido, a captura de Sievierodonetsk colocaria toda a região de Lugansk sob ocupação russa. "Embora atualmente seja o principal esforço da Rússia, esta operação é apenas uma parte da campanha da Rússia para capturar o Donbass".
O Ministério da Defesa da Rússia disse que suas forças derrubaram um caça MiG-29, do exército ucraniano, na região de Kramatorsk, no leste da Ucrânia. A informação não foi confirmada pelo Ministério da Defesa da Ucrânia.
A Defesa russa disse ainda ter realizado ataques com "mísseis de alta precisão lançados do ar" que atingiram postos de comando e áreas de depósito de equipamentos militares da Ucrânia, como um armazém com munição para obuses dos Estados Unidos. Ao comentar sobre a guerra, Shoigu, ministro russo da Defesa, voltou a dizer que a Rússia foi "forçada" a agir na Ucrânia pela proteção dos pró-russos e a desmilitarização do vizinho.
Em seu relatório, a Defesa ucraniana disse que "o inimigo não para de realizar operações ofensivas na Zona Operacional Leste". "A maior atividade de hostilidades é observada no distrito operacional de Donetsk."
Ameaças
Na região de Belarus, país vizinho e aliado da Rússia, a Ucrânia disse ter observado a presença de um sistema móvel de lançamento de mísseis a 50 quilômetros da fronteira. "A ameaça de mísseis e ataques aéreos contra os objetos de nosso Estado a partir do território da República de Belarus está crescendo", disse o Ministério da Defesa da Ucrânia.
Os ucranianos também relataram que a Rússia "continua a tomar medidas para fortalecer a cobertura da fronteira ucraniana-russa nas regiões de Bryansk e Kursk e impedir a transferência de nossas tropas para outras direções".
Segundo a Defesa ucraniana, "o inimigo continua a usar táticas de terror contra a população civil nos territórios ocupados, e a situação socioeconômica no sul e leste da Ucrânia continua a se deteriorar".
Para Zelensky, "a situação de luta mais difícil hoje é no Donbass", mencionando as cidades de Bakhmut, Popasna, Sievierodonetsk. "Nessa direção, os ocupantes concentraram a maior atividade até agora. Eles organizaram um massacre lá e estão tentando destruir tudo que vive lá. Literalmente. Ninguém destruiu Donbass tanto quanto o exército russo faz agora."
A Rússia anunciou que o leste ucraniano seria o foco da guerra em 29 de março, quando passou a reduzir radicalmente as atividades militares em áreas próximas a Kiev -os russos não conseguiram tomar a capital ucraniana. A lentidão no avanço pelo leste ucraniano mostra as dificuldades do exército russo impostas pela resistência ucraniana.
Em seu pronunciamento na segunda-feira (23), o presidente ucraniano ainda reforçou seu pedido por mais armas a países aliados. Na visão de Zelensky, "muitas pessoas não teriam morrido se tivéssemos recebido todas as armas que estamos pedindo". "Todos os nossos parceiros concordam que a luta da Ucrânia na guerra contra a Rússia é a proteção dos valores comuns de todos os países do mundo livre.
Nossa liberdade comum. E, se assim for, então temos o direito de contar com assistência total e urgente, especialmente armas."
O metrô voltou a operar na cidade de Kharkiv, que fica em região homônima no leste do país. O serviço estava interrompido na segunda maior cidade da Ucrânia desde o início da invasão russa.
"Nos primeiros dias de operação do metrô, os trens passarão em intervalos de meia hora", disse na segunda-feira (23) o prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov. Nesta primeira semana de retomada das operações, a passagem é gratuita.
"Tenho certeza de que a volta do metrô ajudará a normalizar a vida de Kharkiv o mais rápido possível", comentou o prefeito. Quando fechadas, as estações serviam de abrigo para civis contra ataques russos.
Em discurso no Fórum Econômico Mundial, o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, indicou que o aumento das forças em suas fronteiras do leste não é para provocar um conflito, mas para evitar um, tentando se proteger de atos "mal calculados" de Moscou, citando o presidente russo, Vladimir Putin.
"Ele queria menos Otan em suas fronteiras e começou uma guerra. Agora, ele terá mais Otan em suas fronteiras, e mais membros", disse o secretário-geral.
Segundo Stoltenberg, as candidaturas de Finlândia e Suécia para ingressar na Otan são um ponto histórico e que a segurança europeia não será "ditada por violência e intimidação". O secretário-geral da Otan mencionou que os membros da aliança concordam que a ampliação do grupo de membros permitiu espalhar a "liberdade e a democracia" pela Europa.
Na quarta-feira (24), delegações de Finlândia e Suécia estarão na Turquia para falar sobre a entrada na aliança militar; o governo turco tem se mostrado contra.
"A guerra na Ucrânia demonstra como relações econômicas com regimes autoritários podem criar vulnerabilidades", disse Stoltenberg, falando que essa tese vale não só para a Rússia, mas também para a China, "outro regime autoritário". "Devemos reconhecer que nossas escolhas econômicas têm consequências para nossa segurança."