Por: Igor Gielow
A Força Aérea dos Estados Unidos pretende realizar o primeiro voo de seu novo bombardeiro furtivo ao radar, o B-21 Raider, em 2023. A aeronave teve sua produção acelerada dentro do contexto da rivalidade com a China, e a Guerra da Ucrânia inseriu um novo elemento na equação.
O B-21 deverá deixar o hangar pela primeira vez até o fim deste ano. Até aqui, há seis unidades em construção, uma delas já realizando testes de calibragem de carga bélica. Usualmente, neste estágio inicial de ensaios há dois protótipos prontos, um para uso em solo, outro para voo.
Não há uma data certa para a estreia. "O primeiro voo do B-21 é guiado por dados, não data", disse a Força em um comunicado, fazendo trocadilho com a semelhança das palavras em inglês (data/date).
A aceleração parece compensar os atrasos até aqui: inicialmente, o primeiro voo do aparelho estava previsto para 2021, sendo depois adiado para este ano. O B-21 está em desenvolvimento desde que a Força Aérea pediu projetos para substituir sua frota de 20 bombardeiros B-2 Spirit, em 2014.
O novo aparelho também se filia à classe popularmente chamada de "avião invisível". Obviamente, ele não o é, mas tem elementos para tornar-se o mais furtivo possível a radares, como o desenho, a redução da assinatura de calor das turbinas e a aplicação de revestimentos especiais.
É uma tecnologia introduzida mais amplamente com avião de ataque F-117 e que ganhou fama com o B-2, o avião mais caro já produzido, ao custo de US$ 2 bilhões o exemplar. A previsão é de que os B-21, produzidos também pela Northrop Grumman, saiam por US$ 600 milhões a unidade.
No pedido orçamentário recorde para 2023, o maior da história e sob a sombra da guerra de Vladimir Putin contra seu vizinho, os EUA separaram US$ 3,3 bilhões para pesquisa com o modelo, mais US$ 1,8 bilhão para aquisição dos primeiros exemplares –algo que salta a US$ 19,5 bilhões em cinco anos.
O B-21 é uma arma estratégica de linha de frente, como o B-2. Além de substituir o antecessor, uma asa voadora subsônica como ele, deve tomar o lugar do B-1B Lancer, um supersônico de penetração em defesas inimigas que ainda tem 45 unidades voando.
O B-52 Stratofortress, no ar desde os anos 1950, deve ser mantido, já que é um avião para ataques em longa distância, com grande capacidade de carga. Todos os três modelos atuais, e o futuro, podem empregar armas convencionais ou atômicas, compondo assim a perna aérea da chamada tríade nuclear, com mísseis em silos e em submarinos.
Os bombardeiros seguem firmes na doutrina militar americana e na de rivais como a Rússia e a China, já que dão uma alternativa de primeiro ou segundo ataque em caso de uma conflagração nuclear na qual silos sejam destruídos, por exemplo.
Pequim tem sua própria asa voadora, a H-20, em desenvolvimento secreto, e Moscou desenvolve outro avião do tipo, o PAK-DA, do qual se tem quase nenhuma informação confiável. Talvez por questão de custo, por ora Putin investe mais na versão mais recente do supersônico Tu-160.
Para o Pentágono, apesar da crise provocada pela invasão da Ucrânia, a China segue sendo o grande adversário estratégico, de longo prazo, dos EUA. Os 100 B-21 previstos foram pensados para esse enfr entamento, e estão mais avançados do que o programa de mísseis hipersônicos americanos.
A própria Força Aérea, que testou com sucesso pela primeira vez um modelo do tipo no sábado (14), coloca em dúvida a validade dos hipersônicos ante mísseis comuns. Russos e chineses, bem à frente, defendem a grande capacidade de evasão de defesas dessas novas armas como diferencial que as justifica.