Com bandeiras e cartazes de Fidel Castro e entoando "Cuba vive e trabalha", a população da ilha caribenha foi às ruas do país para celebrar o Dia do Trabalho neste domingo (1º), na primeira comemoração do tipo desde o início da pandemia de Covid-19.
Os participantes foram convocados pelo governo, que forneceu ônibus para levá-los até a Plaza de Revolución, em Havana. Lá, o líder do regime, Miguel Díaz-Canel, e seu antecessor, Raúl Castro, ambos de máscaras brancas, acompanharam o desfile.
Trabalhadores do setor de saúde abriram o evento na capital, levando bandeiras, faixas e frascos gigantes de papel que simulavam as vacinas Soberana e Abdala, desenvolvidas por cientistas cubanos contra a Covid-19.
"Cuba não para", apesar de um contexto internacional "complexo e desafiador" no qual "a hostilidade está crescendo e o embargo dos EUA se intensifica", disse o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores de Cuba, Ulises Guilarte, o único palestrante do desfile.
As marchas, realizadas anualmente por todo o país antes de o coronavírus forçar o cancelamento das comemorações em 2020 e 2021, celebram a Revolução Cubana, mas também expressam a repreensão liderada pela ditadura comunista ao embargo imposto pelos Estados Unidos desde a Guerra Fria.
Juana Garcia, que trabalha no Instituto Cubano de Filosofia, disse que a manifestação superou suas expectativas e é uma demonstração de solidariedade pela causa. "Apesar de tantas dificuldades, a maioria dos cubanos apoia o processo revolucionário", afirmou ela, que levava uma pequena bandeira do país. "Nós cubanos trabalhamos para resolver nossos próprios problemas. Não precisamos de interferência."
Ainda não há estimativa oficial da quantidade de participantes nas marchas do início da manhã. A ONG Cubalex, que tem sede em Miami, afirmou nesta semana que jornalistas independentes e ativistas foram avisados para não saírem de casa neste domingo.
"Denunciamos o assédio a vários ativistas e jornalistas cubanos nos últimos dias. A segurança do Estado os ameaçou de não sair às ruas em 1º de maio. Assim vive a ilha no Dia do Trabalho, precedida de dias de repressão", escreveu a organização no Twitter.
Este domingo marcou ainda a primeira vez que os cubanos foram às ruas desde que os protestos contra o governo de 11 de julho –os maiores após a revolução liderada por Fidel em 1959– sacudiram o país, em um teste do primeiro dirigente que não pertence à família Castro.
Dos 1.395 detidos após os atos, 728 seguem presos, segundo a Cubalex. Em novembro, os opositores do regime tentaram repetir os protestos, mas foram duramente reprimidos.
Cuba, uma ilha caribenha de 11 milhões de habitantes, passa por uma forte crise econômica, que levou à escassez de alimentos e medicamentos. O regime cubano culpa o embargo americano pela crise, enquanto os EUA responsabilizam a liderança comunista pela má gestão da economia.
As dificuldades vividas pela população provocaram também um êxodo em massa para os Estados Unidos. Mais de 80 mil cubanos deixaram a ilha nos últimos meses em direção ao vizinho do norte, segundo dados do Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês), seguindo duas principais rotas: de avião até a Nicarágua e depois por terra, em direção à fronteira com o México, ou de barco pelo Estreito da Flórida.