Sesc Quitandinha com mostra indígena

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O Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, inaugurou no último sábado (23/8) uma das maiores exposições já realizada no Brasil com obras de artistas indígenas: "Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência". Com mais de 250 obras, a mostra traz uma potente ocupação artística e simbólica conduzida por 54 artistas indígenas de norte a sul do país, representando povos como os Tukano, Desana, Tikuna, Mbya Garani, Xavante, Karapotó, Tupinambá, Palikur-Arukwayene, entre outros.

A exposição tem curadoria de Sandra Benites (educadora, antropóloga, pesquisadora e ativista indígena) e Marcelo Campos (curador-chefe do Museu de Arte do Rio - MAR), com assistência curatorial de Rodrigo Duarte (artista visual e ativista socioambiental). A produção executiva é assinada por Vera Nunes (fundadora da Gentilização).

A mostra propõe uma experiência viva: ao invés de uma abertura única, o público foi convidado a acompanhar múltiplas etapas ao longo do período expositivo. Os encontros públicos chamados Tata Ypy (em Guarani, "a origem do fogo"), que tiveram início em maio, funcionaram como rodas de conversa e compartilhamento de saberes ancestrais, refletindo sobre a atualidade do que é ser indígena no Brasil. Cada fogueira representa um espaço de troca de saberes, preservação da memória oral e afirmação da resistência cultural.

Na sequência, a exposição propõe a ocupação do Centro Cultural Sesc Quitandinha com instalações, gravuras, fotografias, pinturas, ilustrações e esculturas, trazendo múltiplas linguagens que afirmam a força da diversidade como estratégia de resistência dos povos indígenas.

"Ao trazer artistas de norte a sul do país, a exposição amplia a visibilidade da produção artística indígena, ao mesmo tempo em que relaciona contextos distintos, como as discussões de gênero, direito à terra, memória, repatriação, tecnologias ancestrais em relação a cultivo dos alimentos, entre outras lutas políticas, mostrando as pautas recorrentes no movimento indígena", sublinha Marcelo Campos.

Marcelo também destaca a presença de grupos indígenas e suas lideranças no momento das fogueiras "Esse envolvimento enriquece o diálogo sobre a produção dos artistas indígenas convidados e mostra a diversidade tão marcante de povos e linguagens."

A curadora Sandra Benites reafirma que a resistência segue forte na luta pela vida e pelo território:

"A história do Brasil nunca foi contada por nós, povos indígenas. Sempre foi narrada a partir de um olhar externo, que nos reduz ao passado e reforça o apagamento. Seguimos aqui, insurgindo em muitas formas: resistindo ao silêncio imposto sobre nossas línguas, enfrentando invasões em nossos territórios, sobrevivendo à violência contra nossas mulheres e à tentativa de nos uniformizar em um único fenótipo, em uma só maneira de existir", observa a curadora.

"Insurgências Indígenas nasce para romper com esse imaginário colonial que ainda insiste em negar nossa diversidade. Somos indígenas de muitas cores e corpos, de cabelos lisos ou encaracolados, vivendo tanto nas cidades quanto nos territórios. Essa pluralidade muitas vezes é invisibilizada, quando não corresponde ao estereótipo, não é reconhecida como indígena. Esse não-lugar é também um espaço de luta", explica.