Por: Wellington Daniel

Revolta : Tragédia de Petrópolis é usada para negociata na gestão de Bomtempo

Passados seis meses da maior tragédia climática de Petrópolis, que vitimou mais de 240 pessoas, a cidade foi surpreendida com denúncias de corrupção na Companhia de Trânsito (CPTrans). O diretor-presidente, Jamil Sabrá Neto, foi alvo da Operação Clean, da Polícia Civil em conjunto com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) na última sexta (12). As investigações apontaram irregularidades do órgão dois dias após as chuvas.

Vias importantes da cidade foram interditadas devido à destruição. A CPTrans é o órgão responsável por organizar o trânsito em meio a todos esses problemas. Mas, segundo a Polícia Civil, há indícios de corrupção em meio aos contratos emergenciais com a empresa responsável pela mão-de-obra terceirizada de controladores de trânsito, que foi contratada no dia 17 de fevereiro por um valor maior que o dobro da anterior.

“Salta aos olhos para nós que, na verdade, aproveitou-se daquele momento de tragédia, daquele momento triste da cidade, para lucrar com a miséria alheia”, afirmou o delegado João Valentim, da 105ª Delegacia de Polícia.

O esquema foi apontado às autoridades após fiscalizações de vereadores do município e, segundo as investigações, causou um prejuízo superior a R$ 500 mil ao erário. O diretor-presidente da companhia teria aproveitado do estado de calamidade para contratar, mediante dispensa irregular de licitação, uma empresa para prestar o serviço.

Os mandados de busca e apreensão de sexta tiveram o objetivo de coletar provas para as investigações e, por isso, não foram expedidos de prisão. Além de Jamil, o diretor financeiro da companhia e outros funcionários do alto escalão da CPTrans também foram alvo da operação. A prestadora de serviços também receberia a visita dos policiais, porém, no endereço informado, não foi localizado, o que levanta ainda mais as suspeitas, inclusive de empresa fantasma.

Ainda segundo os investigadores, a primeira empresa contratada também contava com possíveis irregularidades. No início do governo Bomtempo (PSB), quando Jamil assumiu a CPTrans, a companhia teria ordenado a substituição de 40 funcionários que estavam em ação por outros indicados pela mesma. Valentim ainda afirmou que funcionários da casa do diretor-presidente recebiam transferências de outros empresários.

Os celulares dos alvos da operação foram apreendidos e, na casa de Jamil, R$ 90 mil em espécie. Outros contratos da companhia deverão ser investigados nos próximos dias. O diretor-presidente foi afastado do cargo e a Prefeitura anunciou, no mesmo dia, que o diretor técnico-operacional, Fernando Badia, assumiria.

Em nota, a Prefeitura de Petrópolis disse que “maior interessada em apurar os fatos e abriu processo para apurar o caso imediatamente após deflagrada a operação”.

A defesa de Jamil Sabrá informou ao Correio da Manhã que esse é um procedimento de investigação inicial e que ainda não há comprovação de culpa. “Não há prova suficiente para embasar ação penal”.

Em seis meses, pouco trabalho e muita reclamação

Mesmo passados os 180 dias das chuvas, as marcas de uma tragédia ainda estão nos morros e leitos dos rios, nas ruas e na memória dos petropolitanos. As reclamações sobre a falta de assistência do poder público ainda ecoam nas comunidades. O vigilante Marcelo Alcântara, morador do Morro da Oficina, é um deles.

“A situação é essa, nada foi feito aqui. Você vai no centro de Petrópolis e não diz que enchente aconteceu”, afirmou.

A comerciante Simone Mayworm, que reside no Chácara Flora, relata medo, angústia e preocupação.

“A prefeitura não fez nada. Não demoliram as casas que deveriam demolir, não fizeram drenagem e captação de água. Em minha casa, por sinal, tiramos 30 caminhões de terra. A água que veio de cima, veio toda pra minha casa, porque a rua não tem nem bueiro. Ninguém fez nada pela gente”, reclamou.

A prefeitura de Petrópolis, em nota ao Correio da Manhã, informou que já acumula mais de 40 obras iniciadas desde as catástrofes climáticas e cerca de metade já foram concluídas. O município também informou que retirou 320 mil toneladas de detritos das ruas e recuperou 40 pontes, além de mais de mil reparos em vias públicas.

“Devido às limitações do orçamento municipal, a Prefeitura está empenhada em viabilizar alternativas financeiras. Uma conquista foi a obtenção de crédito de R$ 100 milhões na Caixa Econômica Federal, do qual R$ 80 milhões estão reservados para obras e vão ser liberados em oito parcelas trimestrais. Os R$ 20 milhões restantes serão aplicados em serviços de pavimentação e drenagem. Outra fonte são os recursos a fundo perdido do governo federal, que vêm sendo liberados pontualmente pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. A Prefeitura tem várias outras solicitações de recursos em análise no ministério. Ao todo, Petrópolis recebeu até agora R$ 13,5 milhões do governo federal para obras emergenciais. Uma terceira fonte de recursos foi a doação de R$ 30 milhões da Assembleia Legislativa, aplicados em serviços para o atendimento às famílias desalojadas, em ações de recuperação do funcionamento da cidade e em obras. A Prefeitura também vem dando apoio operacional ao Governo do Estado, que assumiu a realização de várias obras. Entre elas, a recuperação emergencial do túnel extravasor do Rio Palatino, no trecho que atravessa parte do bairro Itamarati. Esta e outras obras foram assumidas pelo Estado no contexto de matriz de responsabilidade estabelecida pela 4º Vara Cível de Petrópolis”, diz a nota.

Depois da tempestade, vem a bonança

Um dos setores mais afetados foi o turismo. De acordo com o presidente do sindicato de hospedagem e alimentação da cidade, Germano Valente, as chuvas foram um evento “devastador”. A chegada da Bauernfest, principal evento do município e que teve início na última sexta (12), traz ainda mais esperança.

Agora que estamos realmente nos movimentando. Os distritos tiveram uma reação mais rápida, principalmente por causa dos eventos que aconteceram lá. Agora, nesse final de julho com as férias e o festival de Inverno, outros eventos e Bauernfest, a expectativa é que tenhamos um maior movimento, tanto no fluxo de turistas e também na geração de empregos”, finalizou.

O comércio petropolitano também sofreu com as enchentes e deslizamentos de terra. Em contato com o Sindicato do Comércio Varejista (Sicomércio), o Correio da Manhã foi informado que, de aproximadamente 300 estabelecimentos afetados financeiramente pela chuva, acredita-se que entre 100 e 150 ainda não tenham retornado com as atividades de forma parcial ou total.

“Promovendo mídia positiva da nossa cidade em feiras e outras cidades e realizando as revitalizações e obras de infraestrutura tão necessárias para garantir um futuro mais tranquilo para os petropolitanos, para que os empresários se sintam confiantes em investir na nossa cidade, garantindo emprego e renda para as famílias”, ressaltou o presidente do Sicomércio, Marcelo Fiorini, sobre como o poder público deve agir para a recuperação.

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