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França castigada por seca

Situação pode se agravar com a chegada do verão | Foto: Reprodução

Por: Fernando Mena (FP)

Mais de uma vez por dia, o agricultor Bruno Lopez, 57, renova suas esperanças e, segundos depois, se frustra ao acessar o aplicativo do serviço meteorológico da França em busca de alguma previsão de chuva.

"Agora, diz que vai chover daqui a dez dias", aponta ele, com o dedo na tela do celular. "Quero acreditar, mas a verdade é que, a cada acesso, essa previsão reaparece mais e mais para a frente", lamenta Lopez à sombra de um pessegueiro fincado na terra esturricada da fazenda onde cultiva também damascos, kiwis e maçãs nos arredores de Corbère-les-Cabanes, no sudoeste da França.

Uma seca histórica tem castigado essa região que fica perto da fronteira com a Espanha, país que encara uma onda de estiagem e de calor inéditos para esta época do ano.

"A situação já é dramática nessa região, mas, se não tivermos chuva em maio, o problema se estenderá para outras áreas do país, de Bordeaux até Marselha", afirma o hidrólogo David Labat, professor da Universidade de Toulouse, no sul da França.

A previsão é que a chegada do verão europeu torne o quadro ainda mais severo. "Já existe uma ampla consciência de que este será um verão muito difícil", diz Labat.

Depois da escassez de chuvas registrada em 2022 na França e da falta de neve que fez estações de esqui fecharem em plena temporada de 2023, a situação se agravou de tal maneira nos Pirineus Orientais que autoridades locais implementaram medidas de crise sem precedentes, com grande impacto na rotina dos moradores.

Há três semanas, os reservatórios que abastecem Corbère-les-Cabanes e as vilas vizinhas ficaram tão baixos que acabou a água potável da cidade. A prefeitura proibiu o consumo de água da torneira e passou a distribuir garrafas de água mineral a seus 1.250 habitantes. A conta é de uma garrafa de 1,5 litro por dia para cada um dos moradores.

"Não temos alternativa. É uma questão de saúde", afirmou à reportagem o prefeito de Corbère-les-Cabanes, Gérard Soler, durante a distribuição de água aos moradores na última quinta. "Tive de pegar recursos de outros setores para essa compra imprevista de água. O gasto é de 3.500 euros [cerca de R$ 19 mil] por semana, e ainda não se sabe até quando."