Corrida do bi de Verstappen teve anticlímax, confusão e pilotos furiosos

Quando Max Verstappen foi avisado que tinha conseguido os pontos suficientes para selar o bicampeonato, sua surpresa não era apenas porque isso tinha acontecido após os comissários decidirem rapidamente acrescentar 5s ao tempo final de Charles Leclerc, o que o fez cair para terceiro, mas também porque a Red Bull acreditava que uma corrida que teve metade das voltas completadas por conta da chuva também teria metade dos pontos, então tinha avisado o piloto da possibilidade de título

Por Julianne Cerasoli

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Quando Max Verstappen foi avisado que tinha conseguido os pontos suficientes para selar o bicampeonato, sua surpresa não era apenas porque isso tinha acontecido após os comissários decidirem rapidamente acrescentar 5s ao tempo final de Charles Leclerc, o que o fez cair para terceiro, mas também porque a Red Bull acreditava que uma corrida que teve metade das voltas completadas por conta da chuva também teria metade dos pontos, então tinha avisado o piloto da possibilidade de título. E assim o momento da conquista do título foi sem toda a pompa que uma temporada em que ele e a Red Bull não tiveram rivais ficou com jeito de anticlímax.

"Eu não sabia quantos pontos eu ia ganhar pela vitória. Estava tentando entender", disse o agora bicampeão sobre sua surpresa no momento em que seu título foi anunciado.

Não que o campeonato em si fosse qualquer surpresa. Verstappen já tinha aberto 38 pontos quando a Red Bull começou a ser mais claramente melhor que a Ferrari, numa disputa que vinha apertada em termos de desempenho até o GP da França. E, à medida que sua Red Bull foi ficando mais a seu gosto de pilotar, se tornou uma máquina de vitórias. Até mesmo em três corridas nas quais largou fora do top 6 entre Hungria e Itália.

Charles Leclerc, que foi punido por ter passado reto na chicane quando tentava se defender de Sergio Perez já com pneus destruídos, foi outro que ficou sem entender o que estava acontecendo. "O título não foi nenhuma surpresa, mas não entendi nada sobre a pontuação de hoje. Achei também que faltavam duas voltas, mas no final faltava só uma. Foram várias coisas que não estavam claras para mim."

Toda a confusão aconteceu por uma falha na redação da regra, que mudou para esta temporada. A preocupação era evitar que uma corrida pudesse ser considerada feita sem voltas sob bandeira verde, como aconteceu ano passado na Bélgica. E no final, como só corridas que não podem ser reiniciadas entram nessa nova regra, não há nada especificando o que acontece quando uma prova termina, mas sem as voltas totais.

Isso é considerado algo raro, mas não deveria. Principalmente depois que a F1 adotou uma regra de 3h totais de evento no início da 2021. De lá para cá, isso foi usado duas vezes, em Mônaco e no último fim de semana.

Não é por acaso que os chefes das equipes, a maioria delas também pegas de surpresa pelo detalhe do texto da regra que acabou fazendo com que ela não servisse para seu propósito total, deixaram claro que vão pedir uma alteração.

E o livro de regras também é central em outra discussão que envolve a Red Bull e que tem capítulo importante nesta segunda-feira, quando a FIA entrega os Certificados de Conformidade ao teto orçamentário para as equipes. O que se dizia no paddock em Suzuka é que a entidade simplesmente não sabe o que fazer com o caso da Red Bull, que entregou um relatório abaixo do teto, mas cujas contas podem estar acima dependendo da interpretação das regras. Se eles aceitarem a interpretação dos campeões mundiais, o complicado regulamento financeiro, que estreou ano passado, corre risco.

A Red Bull comemorou como se nada disso estivesse no pano de fundo do título, tamanha a folga que eles tiveram em todos os campos neste ano, desde a pilotagem de Verstappen ao carro, passando pela execução de corrida ímpar. A escuridão já tinha invadido a pista de Suzuka quando eles posaram para a foto, com vários membros do time com a bandeira da Holanda pintada no rosto.

Curiosamente, enquanto todos esperavam Verstappen terminar seus compromissos com a imprensa, o telão passava o replay das últimas voltas, focadas não no piloto que viria a ser campeão, mas sim na briga entre seu companheiro e Leclerc. Perez ficou por várias voltas grudado na traseira da Ferrari, e a cada volta os mecânicos celebravam, enquanto o mexicano olhava para o telão orgulhoso. No final, deu tempo de Max chegar, ver Leclerc passando reto na chicane e finalmente entender como acabou selando o bi no Japão.

O holandês foi cumprimentado pelos pilotos que ainda davam entrevistas quando chegou à zona mista. Lando Norris e Fernando Alonso o parabenizaram de forma mais efusiva. Lewis Hamilton, menos. O holandês, desta vez, não tinha seu pai, Jos, ao seu lado. E pegou o voo de volta com o empresário, Raymond, e a namorada, Kelly Piquet. A comemoração? "Eu tenho várias corridas para comemorar". Justo.

PILOTOS ESTAVAM IRRITADOS COM REPETIÇÃO DE CENA DE 2014

Também havia outro motivo bastante sério para o paddock não estar no clima de muita celebração. Um trator fazia a remoção do carro de Carlos Sainz, que aquaplanou na primeira largada, quando a corrida já estava neutralizada, mas os pilotos ainda estavam na pista. Isso é um procedimento normal da direção de prova, mas os pilotos já deixaram claro que não concordam com isso. Se um veículo de resgate tiver de entrar na pista, especialmente quando está chovendo, é preciso esperar que eles entrem nos boxes.

"O que as pessoas não entendem é que o carro de F1 não é feito para andar devagar. Você não tem aderência alguma quando anda devagar. Então é provavelmente mais perigoso pilotar um F1 atrás do Safety Car do que quando estamos forçando. Fora isso, um carro tinha acabado de sair da pista porque aquaplanou e o mesmo poderia acontecer com outros. E, quando está chovendo, você tende a buscar uma trajetória diferente para conseguir enxergar. E tinha um trator tomando um quarto da pista numa curva. É senso comum", explicou George Russell.

Esteban Ocon e Hamilton foram dois pilotos que aliviaram nas críticas, mas a grande maioria adotou o mesmo tom de Russell, principalmente Pierre Gasly, que estava tentando voltar para o pelotão após uma parada nos boxes e estava mais rápido quando viu o trator. Ele acabou sendo punido por estar abaixo do limite de tempo em um setor diferente daquele em que encontrou o veículo. Ali naquele momento, ele estava seguindo as regras.

Gasly estava revoltado também porque seu amigo Jules Bianchi morreu em uma situação parecida, também por ter aquaplanado em Suzuka, batendo em um trator que fazia a remoção de outro carro. Na época, mesmo revendo alguns procedimentos (foi por causa do acidente de Bianchi que a F1 adotou o Safety Car Virtual, por exemplo, para agilizar a neutralização da prova), a categoria indicou que Bianchi teve uma grande parcela de culpa pela velocidade que adotava. E fez algo parecido com Gasly neste domingo.