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Bronca do avô ajuda a moldar Bruno Henrique decisivo do Flamengo

Por Klaus Richmond (Folhapress)

Bruno Henrique, 28, já aparentava viver seu grande momento no Flamengo em março. Nos 11 primeiros jogos pelo novo clube, ele marcou 6 gols, 4 deles diante dos rivais Botafogo e Fluminense.

Com pouco menos de dois meses no Rio de Janeiro, o atacante superava um 2018 para ser esquecido no Santos. O comportamento, porém, ainda preocupava familiares e pessoas próximas: seis cartões amarelos e dois vermelhos no mesmo período.

"Nosso avô ligou para o Bruno. Falou que estava agressivo dentro de campo, que não respeitava os adversários. Queria que ele fosse a mesma pessoa [de antes]", conta o irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, o Juninho.

A bronca do avô Genésio Marcelino Pinto, aliada à intervenção do empresário Dênis Ricardo, que o acompanha desde o início da carreira, no Uberlândia, foram fundamentais para moldar a fase do jogador, eleito o melhor da Libertadores após o título conquistado sobre o River Plate (ARG), no sábado (23).

Como prêmio, ganhou da patrocinadora do torneio um anel com 128 diamantes.

"Fizemos um trabalho de equilíbrio emocional com ele, conversamos muito. Pelo temperamento e pela vontade de sempre ajudar, tomava cartões desnecessários. Hoje ele continua sendo competitivo, mas equilibrado", diz Ricardo.

Genésio é a principal referência do jogador e do irmão mais velho. Eles cresceram na casa do avô no bairro Concórdia, em Belo Horizonte. "Ele sempre foi um alicerce para nós. Bem ao lado de onde morávamos existia uma boca de fumo e tráfico de drogas, mas o meu avô sempre nos ensinou o caminho certo", afirma Juninho.

A preocupação com o emocional de Bruno Henrique –que nesta quarta (27), às 21h30, volta ao Maracanã para enfrentar o Ceará pelo Brasileiro e receber a taça pela conquista do título nacional–, se dá pela rota improvável vivida pelo jogador no futebol.

Até 2011, ele trabalhava como telefonista em uma escola, além de realizar serviços de banco. A participação em um conhecido torneio de várzea de Belo Horizonte, a Copa Itatiaia, mudou a sua história. Destaque da competição, chamou a atenção de olheiros do Cruzeiro, aos 21 anos, com três gols na final pelo Inconfidência, time de seu bairro.

Até 2015, ele nem sequer havia atuado em uma grande equipe ou numa competição de elite. Foi destaque no Itumbiara-GO, em 2014, e indicado ao Goiás pelo então diretor Harlei Menezes como uma aposta desconhecida.

"Não tínhamos recurso, ele chegou ao clube sob muita desconfiança, mas havia assistido a um jogo entre Itumbiara e Morrinhos e vi um atleta maravilhoso. Ele fez uma temporada incrível no Goiás", relembra Harlei.

Em 2017, pelo Santos, Bruno Henrique reagiu a uma discussão com jogadores do Barcelona de Guayaquil cuspindo no rosto do meia Damián Díaz. Precisou se retratar publicamente sobre o erro.

"Tive que ter cuidados para não expô-lo perante todos e dar um tiro no pé, mas conversamos muito sobre o que houve", afirma Levir Culpi, técnico do Santos no período.

O camisa 27 ainda precisou superar um baque no último ano. Em uma jogada aparentemente comum, sofreu cinco lesões diferentes no olho direito contra o Linense, em 17 de janeiro, na estreia do Santos no Campeonato Paulista.

Foram necessários vários tratamentos e cuidados médicos para voltar a jogar. O ano ainda foi atrapalhado por um trauma na bacia e um edema na fíbula direita, osso da parte inferior da perna.

"Senti ele em um momento muito delicado. Não só da carreira, mas da vida. Ficou muito mal, preocupado em ver tudo sendo interrompido por uma fatalidade", diz o técnico Jair Ventura, que trabalhou com o atleta no Santos de janeiro a julho de 2018.

No Flamengo, Bruno Henrique atingiu o ápice sob o comando de Jorge Jesus. Neste ano, foi convocado por Tite pela primeira vez para a seleção brasileira. Maduro taticamente, recebeu elogios públicos do treinador português.

"É um jogador completo. Tem muito talento e uma coisa importante: é muito humilde, trabalha para o time", disse Jesus após a vitória por 4 a 1 sobre o Corinthians, no Maracanã, no último dia 3.

Ao todo, já são 31 gols de Bruno Henrique em 57 jogos no ano, 18 deles só no Brasileiro. Em sua melhor temporada pelo Santos, em 2017, ele alcançou 18 gols no total.

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