Por Klaus Richmond (Folhapress)
Ana Marcela Cunha acumula um longo e conhecido histórico de resiliência na carreira. Pouco antes da Olimpíada Rio 2016, a nadadora baiana descobriu uma doença autoimune que destruía a produção de plaquetas sanguíneas em seu corpo. Participou da competição controlando a dor com um medicamento à base de corticoide, autorizado pela Agência Mundial Antidoping. Meses depois, foi submetida a uma cirurgia para retirada do baço.
Após o sonhado ouro olímpico em Tóquio-2021, passou por novo procedimento cirúrgico para correção de um tendão rompido e outro lesionado no ombro esquerdo. Retornou antes do previsto, em cinco meses.
Nos Jogos de Paris, neste ano, chorou na entrevista concedida logo após ter terminado a prova na quarta colocação, demonstrando estafa e assumindo ter cogitado parar. Também não assegurou presença na próxima edição olímpica, em 2028, em Los Angeles.
"Aprendi muito ao longo desses anos sobre vulnerabilidade e não tenho o que esconder. Sempre vou querer ganhar, não existe outra tentativa, mas mostrar minha fragilidade também foi importante. Atletas precisam de acolhimento. Não tenho que viver o tempo todo regrada", disse.
Obstinada por conquistas e recordes, ela ainda considera ter fôlego para mais —embora trate com cuidado o assunto.
"O gás vai acabando, mas a minha chama ainda está bastante acesa, ou já teria parado. É algo que precisamos para o alto rendimento. Saí [de Paris-2024] querendo voltar para ganhar outra medalha. Não sei se vou ter mais um ciclo, mas, por enquanto, continuo querendo. No meu esporte há mais longevidade", afirmou.
"Seria o meu sexto ciclo olímpico, a quinta Olimpíada. Há um longo caminho ainda. Às vezes, eu me sinto velha porque completo em breve a maioridade [21 anos] de seleção absoluta [de natação], o que é muito tempo. E isso no topo do mundo, o que faz tudo mais desgastante", observou.
A decisão da atleta em nadar mais uma edição dos Jogos Olímpicos ainda não está tomada e dependerá de performance nos próximos anos.