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O 'Efeito Leo Messi' na MLS

Messi é a grande atração para os norte-americanos | Foto: Inter Miami CF

Por Luciano Trindade (Folhapress)

Há quase 50 anos, os EUA tentam fazer o "soccer" dividir as atenções dos americanos com esportes como basquete, beisebol e o futebol americano. O plano já passou por diversas fases. A etapa mais recente foi iniciada com a chegada de Messi, em junho do ano passado. Em pouco mais de seis meses, a legião de fãs que o argentino é capaz de atrair mostrou sua capacidade de mudar a dinâmica da MLS.

Em novembro, quase três meses antes da abertura da nova temporada, o Inter Miami informou que todos os ingressos para os jogos da equipe em casa no campeonato deste ano estavam esgotados. Também é grande a procura por bilhetes das partidas dele como visitante. Mesmo com o craque no elenco, trata-se de um feito e tanto na liga, fundada há apenas 30 anos, em 1996, dois anos depois de os EUA sediarem a Copa do Mundo de 1994, quando o Brasil conquistou o tetra.

Para os executivos da MLS, Messi colhe frutos de sementes plantadas em um passado bastante presente nos dias atuais, de quando Pelé desembarcou no país na década de 1970 para jogar na primeira grande liga do país, a NASL (North American Soccer League). Quando chegou, mesmo sendo o atleta mais conhecido no mundo, o Rei foi apresentado a uma audiência que mal sabia o que era o futebol. Sua presença contribuiu, ainda, para atrair outras estrelas da época, como Cruyff, Eusébio e Beckenbauer, despertando o interesse do país para a modalidade.

"A chegada do Pelé nos anos 70 colocou o futebol no mapa dos EUA", diz Alfonso Mondelo, diretor de competição da MLS . "Enquanto Pelé jogava, os jogos do Cosmos estavam lotados em qualquer parte do país. Esse foi o grande legado dele. Ele foi a semente para os jovens que começaram a jogar nos 1980."

Naquela época, os estádios dos EUA tinham gramados disponíveis para a prática de outros esportes.

A estreia de Pelé pelo Cosmos, em 1975, por exemplo, rendeu uma folclórica história. O jogo com o Dallas Tornado foi disputado em um estádio que ficava sob os viadutos de uma rodovia. Para disfarçar o quanto o campo era ruim e esburacado, foi usada uma tinta verde para pintar o gramado.

Depois da partida, o Rei disse que aquele era seu primeiro e último jogo no país porque dependia dos pés para jogar e eles estavam cheios de fungos. Foi quando ele soube da artimanha para maquiar o campo.

Pelé jogou de 1975 a 1977 na NASL, da qual foi campeão no último ano. A liga é considerada a precursora do futebol profissional nos EUA, mas faliu em 2018. Em cada ano que atuou na competição, o brasileiro ajudou a melhorar a média de público.

Além da presença nos estádios, crescia também o interesse das emissoras de TV. As três temporadas do Rei nos EUA foram exibidas pela CBS, que transmitia um jogo do campeonato por semana, aos domingos.

Também é grande o investimento no futebol local. Um exemplo é o recente contrato celebrado entre MLS e a Apple TV. A plataforma comprou os direitos exclusivos da liga por dez anos, a partir de 2023, pagando US$ 2,5 bilhões, sendo US$ 250 milhões por ano.

O valor é quase o triplo dos US$ 100 milhões que recebia anteriormente. A contratação de Messi impulsionou esses valores. O argentino tem salário anual estimado em US$ 20 milhões por ano, mas o valor não inclui os acordos comerciais que fazem parte do pacote que convenceu ele a fechar com o Miami. Ele terá, por exemplo, uma parcela na venda de assinaturas da Apple TV. O salário de Pelé e de outros astros do futebol que foram para os EUA naquela década, porém, é apontado hoje como o motivo que tornou a NASL uma liga economicamente insustentável, semelhante com o que aconteceu com o futebol chinês.

Para evitar o mesmo problema, a MLS estabeleceu em seus primórdios um teto salarial para os jogadores. Somente em 2006 é que uma exceção foi criada, com a regra DPR (regra do jogador designado). Em 2007, o Galaxy anunciou a midiática contratação do inglês fazendo uso dessa regra, que acabaria mais conhecida como "A regra de Beckham" -também utilizada pelo Miami para contar agora com Messi.

Para o diretor de competição da MLS, "o futebol nos EUA tem três marcos: o efeito de Beckham não teria sido tão grande sem o Pelé. E o efeito do Messi não seria grande sem Beckham".

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