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Soberba que precede a queda

Campanha do rebaixamento do Santos foi marcada pela soberba | Foto: Reprodução/ TV Globo

Por Pedro Sobreiro

Após a campanha vexatória que culminou com o rebaixamento inédito do Santos para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, a ficha de dirigentes e torcedores do Alvinegro Praiano parece não ter caído sobre a realidade que o clube vai viver em 2024.

Dias depois da queda consumada, o clube passou pelas eleições, que definiram a volta de Marcelo Teixeira à presidência do Santos. A primeira medida anunciada pela nova direção foi a aposentadoria temporária da Camisa 10, enquanto a instituição estiver na Série B. Depois, foi noticiado que o clube não aceitará receber receitas da segunda divisão, por acreditar merecer mais do que os outros times do torneio.

E agora, por mais inacreditável que pareça, a diretoria sondou os técnicos Juan Pablo Vojvoda, vice-campeão da Sul-americana com o Fortaleza, e Pedro Caixinha, que vem de ótima campanha com o Red Bull Bragantino. Ambos em clubes financeiramente estruturados e com bons projetos esportivos. Além de estabilidade.

A desconexão do Santos com a realidade que o aguarda em 2024 é abraçada por uma soberba inexplicável, ainda mais para quem conhece o dia a dia do clube e sabe da complexidade da situação em que se encontra. A dívida, até outubro deste ano, gira em torno de R$ 578 milhões. Para piorar, a diretoria adiantou cotas de TV e deixará de ganhar até R$ 90 milhões de direitos de transmissão televisiva com o rebaixamento.

A situação fica ainda mais complexa porque o time, eliminado precocemente no Paulistão 2023, não se classificou para a Copa do Brasil 2024. Ou seja, só jogará os campeonatos Paulista e Brasileiro no próximo ano, deixando de arrecadar com bilheteria e premiações.

Em outras palavras, o clube já vive uma crise sem precedentes em sua história e tem tudo para se complicar ainda mais na próxima temporada, quando a verba, já curta, será consideravelmente reduzida. E como a Vila Belmiro atrai pouca arrecadação, não é hora de ser soberbo e achar que, em pleno século XXI, 'camisa' ganha jogo.

Nos últimos anos, times que nunca antes foram rebaixados entraram na Série B cheios de pompa, como Internacional e Cruzeiro, trazendo treinadores de renome e gastando rios de dinheiro com jogadores técnicos que acabaram não rendendo. Os mineiros, por exemplo, entraram na competição chamando de 'Série A2', exaltando terem conseguido uma famosa fornecedora de material esportivo e arrotando virtudes em um ano que deveria ser de humildade e reconstrução. A soberba cegou torcida e dirigentes, que viram o 'Cabuloso' amargar três anos seguidos na Série B, tendo corrido sérios riscos de cair para a terceira divisão.

Sobre os jogadores, o Vasco é o maior exemplo de como um time de 'operários' se sobressai a jogadores badalados na B. Em 2021, o time tinha Fernando Diniz e Germán Cano, dupla campeã da Libertadores em 2023, mas não funcionou. Além disso, tinha jogadores conhecidos da Série A, como o lateral Zeca e o meia Marquinhos Gabriel. O resultado foi a permanência na segunda divisão em 2021. Já em 2022, quando apostou em jogadores de mais porte físico do que técnica, com experiência na competição e mais disposição que "nome", o elenco conseguiu o acesso. Por incrível que pareça, mas Raniel jogou mais que Cano na segundona.

Por mais incrível que pareça, o tão disputado futebol brasileiro tem receitas que funcionam anualmente. Em 2023, times como Santos, Bahia, Vasco, Goiás, Coritiba e até mesmo o Botafogo, que se salvou pela campanha fora do normal do primeiro turno, seguiram à risca a chamada 'Cartilha do Rebaixamento', se submetendo a situações que historicamente são comuns aos times que terminam a temporada rebaixados. Alguns se salvaram no final, mas não dá para ignorar essas 'coincidências' nas campanhas.

Da mesma forma, já dá para notar um certo padrão de características dos times que conseguem o acesso para a elite do futebol nacional, e a soberba santista certamente não é uma delas. É bom abrirem o olho, porque a Série B não é uma 'excursão' que os times fazem por um ano. É um torneio complicado, em que os representantes do 'Clube dos 13' são os adversários que mais motivam os times de menor expressão.

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