'O furo passou a ser no tempo real, você não tem tempo para elaborar'
Editor-executivo da Agenda do Poder conta um pouco da sua história e casos no jornalismo
Referência no jornalismo político, Ricardo Bruno começou a profissão cedo, mas longe do impresso. Ele tinha um programa numa rádio em Resende. Depois de uma máteria sobre um incêndio no Parque Nacional de Itatiais, pelo Jornal do Brasil, Bruno ficou de vez no jornalismo, mas não abandonou a faculdade de Engenharia, formando-se nas duas. Depois do JB, foi para o Globo, onde começou a carreira política, cobrindo as eleições. Além do impresso, Ricardo Bruno foi secretário de Comunicação do governo Rosinha Garotinho (2003-2007), comando o programa Jogo do Poder, na rede CNT de televisão e é o editor-executivo do site Agenda do Poder. Nesta entrevista, Bruno conta um pouco da sua história no jornalismo e alguns causos na profissão.
Claudio Magnavita: Vamos começar primeiro pelo começo. Como o Ricardo Bruno entrou no jornalismo?
Ricardo Bruno: É uma história interessante. Eu, entre 14 e 16 anos, comecei fazer um programa de rádio em Resende, onde meu pai tinha uma emissora. Era sócio da principal emissora de rádio AM da cidade, e eu, aos domingos, ia para os estúdios da rádio, a Rádio Agulhas Negras, e fazia o programa musical todo domingo, de duas às seis da tarde. Quando toda a minha família ficava reunida para os almoços de domingo eu deixava o convívio da família e ia para o estúdio da rádio e passava a tarde apresentando aquele programa. E aí, enfim, cinco, seis anos depois, o Frederico Carvalho, que era um publicitário, tio do ex-prefeito Noel de Carvalho, me convidou para fazer parte de uma equipe que tinha como atribuição reformular o projeto editorial de um jornal centenário em Resende, que se chamava Jornal A Lira. Esse jornal originalmente pertenceu a uma banda de música da cidade, mas já não pertencia, já era um jornal dirigido ao público de Resende de modo geral, e eu me interessei em fazer parte daquela equipe. Comecei também a tratar e a fazer jornalismo impresso e, naquela época, o jornal era impresso na própria gráfica situada no Centro Histórico de Resende. E eu me recordo com muita clareza dos gráficos no linotipo no chumbo, fazendo linha por linha, compondo linha por linha e depois para então fazer a prova e a chapa. Eu acompanhei aquele processo inicial, antes do linotipo, enfim, uma coisa bem artesanal. Bom aí começou a minha experiência, a minha vivência no jornalismo, e eu sempre um pouco dividido porque eu cursei engenharia. E aí, já no terceiro ano de engenharia, eu cheguei para o meu pai e falei, eu vou abandonar a engenharia e vou fazer jornalismo, porque eu acho que é o meu caminho. Daí meu pai disse: "Meu filho, não faça isso, conclua pelo menos o curso de engenharia, vá até o fim e depois você verifica qual é o teu caminho, o que você quer". E para atendê-lo, o que eu fiz? Eu cursava Engenharia pela manhã e cursava Jornalismo à noite. E fiquei dividido entre uma profissão e outra, que não tinha nenhum ponto ali de interseção entre aquele mundo e o mundo do Jornalismo. Até que eu comecei a colaborar vez por outra com o Jornal do Brasil. Houve um momento em que o correspondente do Jornal do Brasil em Volta Redonda, que era o Dário de Paula, não podia mais continuar à frente dessa tarefa porque ele foi narrar futebol, veio para a Rádio Tupi e ficou ali, aquele posto aberto. O Dário me indicou para a direção aqui do JB. E eu me lembro de um episódio que foi muito marcante na minha vida que eu não esqueço até hoje, que houve um incêndio muito grande com danos ambientais enormes no Parque Nacional de Itatiaia e o chefe de reportagem do JB falou: "Ricardo, faça uma avaliação do estrago do ponto de vista ambiental que esse incêndio que durou quase uma semana provocou. Ouça ambientalistas da cidade, ambientalistas do Parque Nacional de Itatiaia, faça uma análise crítica da extensão disso, do dano ambiental". Eu então entrevistei o ambientalista, o ex-diretor do Parque Nacional de Itatiaia, entrevistei diretores e funcionários do parque e também moradores da região do parque sobre os efeitos daquela tragédia ambiental, e escrevi uma matéria central com dois boxes e mandei para ele despretensiosamente. Ele gostou muito e me ligou e falou o seguinte: "Eu vou dar domingo uma página com destaque e vou assinar a tua matéria". E eu fiquei muito entusiasmado com aquilo. Me excitou de tal forma que eu não consegui dormir na madrugada de sábado para domingo. Eu fiquei na porta do jornaleiro, esperando o caminhão chegar em Resende, chegou por volta de 3h30, 4h da manhã, e eu peguei os jornais. Estava lá a minha matéria assinada e eu fui para casa correndo e acordei meu pai para mostrar a ele a matéria publicada no JB com a minha assinatura. Bom, esse foi o início, essa foi a história. Depois continuei, me formei em engenharia, me formei em jornalismo e seis meses após formado em jornalismo naquela época, muitos jornalistas iam para Mauá num ano sabático, saíam do Rio, abandonavam um pouco esse tumulto da metrópole e se internavam em Mauá num período de descanso e de refazimento da própria vida e tal. Um desses que tomou esse caminho foi o jornalista Chico Júnior. Ele foi editor, foi chefe de reportagem do Globo, foi editor da Editoria Rio e depois foi para Mauá e começou a colaborar lá no jornal local, na Lira e tal. Ele pega, vem ao Rio, foi à redação do Globo tratar de um assunto particular dele. Aí me ligou e falou: "Olha, o Globo vai contratar 17 repórteres, vai ampliar a equipe de reportagem e você não quer ir lá? Eu vou falar com o Renan, o Renan Miranda é o chefe de reportagem, fala com ele, acho que você é uma boa indicação, acho que você fica, e na quinta-feira eu vim ao Rio e bati no Renan Miranda e falei "Renan, o Chico Júnior me pediu que te procurasse e tal, eu quero fazer parte dessa equipe", e ele falou assim: "Faz o seguinte, vamos fazer uma experiência, você começa segunda-feira para a gente ver e você fica dez dias para eu avaliar o trabalho", e nunca mais voltei. E aí eu comecei, eu me lembro também a primeira matéria, eu vindo de Resende, todo receoso com medo e tal, cidade grande, essa coisa toda e tal, e nas primeiras matérias ele falou assim: "Vai fazer uma matéria de uma tragédia na favela Cavalo de Aço, lá em Bangu, morreram oito pessoas", e lá fui eu para a favela Cavalo de Aço. E aí fiz aquela matéria e tal, ele gostou muito e também elogiou. Aí tem um detalhe que é seguinte, o momento que eu faço a migração da cobertura de cidade para a política, e eu em Resende já tinha uma militância pessoal, eu era filiado ao MDB de Resende, então tinha o network, fiz a campanha ajudei a fazer a campanha do Miro ao Governo do Estado, na época que ele enfrentou Sandra Cavalcanti. Entrevistei Sandra Cavalcanti na rádio local, na rádio do meu pai, a Sandra gostou muito da entrevista e tal, e aí o Milton Temer, que era o editor de política do Globo, falou: "Ricardo, eu estou montando aqui hoje uma equipe para cobrir a eleição, você não quer fazer parte? Eu sei que você já gosta de política, te conheço lá de Resende e tal", porque ele fez parte da campanha do Miro naquela época, ele sabia, e eu também ajudei na campanha do Miro. E eu fui para a editoria política de maneira provisória, para cobrir a eleição, apenas para cobrir a eleição, e nunca mais saí.
CM: Você tem sido citado pelo Tiago Prado, não só nos artigos, mas nas matérias pelos furos que você dá. Como é que você se sente sendo citado pelo jornal que você ajudou a construir? Esse reconhecimento público dos furos que você dá, as citações…
RB: Eu sinto muito honrado de ter esse reconhecimento do principal veículo de comunicação do Rio, das organizações Globo, um dos principais do Brasil. Obviamente que eu estive durante tanto tempo lá. Na verdade, passei por dois momentos, fiquei no Globo durante 9 anos, saí, fui convidado depois, fui cobrir a campanha do Collor, e quando Collor se elege presidente da República, o Cláudio Humberto me liga e falou assim: "Olha, vem almoçar com o presidente comigo, eu quero te fazer um convite, vem aqui". E fui, quando eu chego a Brasília no Palácio do Planalto: "Eu quero que você vá dirigir o jornalismo da TV Educativa" Eu falei: "Mas eu nunca entrei numa televisão, eu conheço jornal". E ele: "Não importa, você conhece jornalismo, não tem a menor importância, você é da nossa confiança e vai levar à frente esse projeto". Eu vim matutando, se aceitava ou não aceitava, e pedi 24 horas. No dia seguinte eu disse que sim, aceitei a missão de dirigir o jornalismo da TV Educativa. Bom, Collor cai, depois sobe Itamar, e eu tinha uma relação boa com o Hargreaves. E tinha uma relação aqui no Rio, foi chefe da Casa Civil. E aí o Hargreaves, também tinha uma boa relação com o Dornelles, com o senador Nelson Carneiro e com o Arthur da Távola, e com os três eu tinha a melhor relação possível. E aí o Dornelles um dia me chamou na Fundação Getúlio Vargas e falou: "Ricardo, eu vou te indicar, eu falei com o Nelson Carneiro e falei com o Arthur, vamos fazer um documento conjunto indicando você, já que saiu o Collor e vai sair portanto a direção geral da televisão, eu queria que você assumisse a direção geral da televisão, não mais o jornalismo, mas a direção-geral do Núcleo do Rio e do Núcleo do Maranhão". E aí já eram 3 mil funcionários naquela época, então o Hargreaves me chamou a Brasília, então eu saí do jornalismo e fui ocupar o diretor-geral da TV Educativa. Então as coisas foram se emendando. Aí fico esse tempo todo lá, até que saio novamente da TV Educativa. Eu recebi um convite para fazer uma campanha eleitoral. E confesso que não tinha afinidade com a pessoa que me fez o convite, era um candidato ao governo do Estado, mas ele foi muito simpático e me fez uma proposta que eu considerava irresistível, uma proposta tentadora. E eu me lembro que eu fiquei matutando se aceitava ou não. Aí o Milton Coelho da Graça, que trabalhava com a gente na TV Educativa eu falei: "Milton, eu estou com a seguinte proposta Aceito ou não aceito" Ele: "Ricardo, olha, você não tem o direito de dizer não, você tem duas filhas e tal, você não pode dizer não para isso". Bom, aceitei a proposta. A proposta vinha do general Newton Cruz, e eu fui coordenar a comunicação do general Newton Cruz na campanha dele ao governo do estado. A proposta financeira é tão tentadora e eu dividi em três parcelas a minha remuneração, para começar no meio da campanha e no final. A primeira parcela já significava cinco anos de salário na TV pública. Na pior das hipóteses eu tinha cinco anos de salário já antecipadamente pago. Houve o segundo pagamento e depois que terminou a campanha para minha surpresa recebi integralmente o último salário. E aí continuei tocando a minha vida e tal, até que eu montei uma empresa de assessoria de imprensa junto com o jornalista Hudson de Carvalho, e chegamos a ter uma boa quantidade de clientes, mais de 20 clientes. Até que, um dia, Anthony Garotinho me liga e diz o seguinte: "Ricardo, vem tomar um café da manhã comigo e com o Rosinha aqui no Palácio Laranjeira. Eu quero te fazer um convite. Rosinha estava há quatro meses no governo, teve uma crise na área de comunicação enorme, o antecessor, era uma pessoa de campo, não tinha relação com os veículos de comunicação do Rio, com as cabeças pensantes da comunicação do Rio, e com os dirigentes dos veículos. Eu queria que você assumisse a Secretaria de Comunicação do Governo do Rio, e eu vou te dizer o seguinte, do grupo todo que trabalha lá, só peço que você mantenha cinco pessoas, o resto você mantém ou não, a teu critério, ao teu juízo, e vai cuidar não só da imprensa como de toda a publicidade. E aí eu aceitei, obviamente que me desincompatibilizei da empresa da qual o Hudson Carvalho era sócio e fui para o governo do Estado.
CM: Rosinha é uma pessoa adorável? Como é o trato dela? Muita gente tem saudade dela. É diferente do marido?
RB: O Garotinho, a gente sabe muito bem, enfim, tenho boa relação com ele, mas é uma pessoa um pouco mais ensaboada, um pouco mais carregada de, digamos, de esperteza em dado momento. A Rosinha não, é uma pessoa pura, transparente, o que ela fala é aquilo que ela pensa. O Garotinho nem sempre é assim, o que o Garotinho fala nem sempre é o que ele quer e nem sempre é o que ele pensa. Ele é um estrategista, joga xadrez o tempo todo. Então, às vezes, ele fala uma coisa, mas ele quer chegar em outro lugar completamente oposto. Ela foi uma grande governadora. Quando conversava, olhando nos olhos, era aquilo, não tinha nada além daquilo, não tinha nenhuma maquinação por trás do posicionamento dela, diferentemente do Garotinho, que sempre tinha. Eu me lembro dessas coisas de assessorar, falando de Garotinho, fazendo diferença entre Garotinho e Rosinha. Em um momento, o Garotinho estava insistindo numa posição que eu achava equivocada e eu falei: "Garotinho, com todo carinho, não quero aqui contestar, mas você que sabe o que faz, você já foi governador, você é candidato à presidência da República e tal, mas acho que você está errando por isso, por isso por isso, por isso". Ele divergiu: "Não, você está errado bababá bababá". Eu falei: "Acho que devia fazer isso, isso". Mas ele discordou frontalmente de tudo que eu coloquei. Bom, uma semana depois, numa entrevista coletiva, o Garotinho repete tudo o que falei, como se tivesse assimilado 100%. Passou a ser ideia dele.
CM: Até que ponto ter sido secretário de Estado, estar do outro lado do balcão, ajuda a compreender esses bastidores da política que você faz na Agenda do Poder? Qual a importância de ter estado no outro lado do balcão? Eu pergunto isso até por causa própria, porque eu também tive chance de ser secretário de Estado de Turismo. Até que ponto lhe dá uma leitura privilegiada?
RB: Com certeza dá, Magnavita. Primeiro, o seguinte, a gente faz uma diferenciação clara entre o declaratório e o fato real, porque a gente sabe que há um esforço de todos os políticos em dissimular um pouco o que está acontecendo. A declaração nem sempre coincide com o que está acontecendo nos bastidores. Então, a primeira certeza que nos ocorre é não confiar plenamente no declaratório, tentar desvendar um pouco mais o que está por trás das declarações formais, porque a gente sabe que o que estava ocorrendo era obviamente diferente do que era declarado. Era diferente do que era apresentado nas entrevistas coletivas e tal. Isso era muito evidente, a diferença entre o fato real e apresentação formal do que estava acontecendo. Bom, esse eu acho que é o ensinamento mais claro. Então, quando eu vejo algumas declarações, tomo quase todas elas com desconfiança, entendo a posição do político, entendo a posição do entrevistado, porque é o papel dele, mas eu sempre quero ir além do que ele está dizendo, porque eu sei que ele não está dizendo tudo.
CM: Aquela questão do rei Nu, não adianta botar uma manta que você enxerga. Agora, como é que você vê essa nova geração de jornalistas? Você tem um carinho e tem uma relação muito especial com o Paulo Capelli, com Pedro Figueiredo, com o Gabriel Saboia. O próprio Tiago Prado que te liga sempre...
RB: Eu acho que é uma geração muito competente. Obviamente que é uma geração que vive um momento diferente do jornalismo, esse digital. Na verdade, a gente sabe, você sabe e eu também, que antigamente a gente era um pouco mais devagar para apurar, porque, eu me lembro, que saía para fazer uma matéria voltava para a redação às quatro horas, chegava às cinco, escrevia até às seis e tal, e aí ia para o fechamento. Tinha três, quatro horas, hoje tudo é muito corrido, então o jornalismo é um pouco diferente. O furo passou a ser real time, então você não tem tempo para poder elaborar. Eu me lembro que eu gostava de elaborar o texto com mais cuidado, fazer um pouco mais trabalhado, mais charmoso. Eu confesso que hoje, com essa necessidade de se ter um resultado a curto prazo, quase que imediato, isso fica um pouco prejudicado. Tem que escrever muito rápido, tem que botar no ar muito rápido. Obviamente tem que ser preciso, tem que manter a mesma precisão, mas com muito mais rapidez. Eu vejo um pouco de diferença e acho que esses jornalistas dos tempos atuais conseguem fazer dessa forma muito bem, Paulo Cappelli, Saboia e outros.
CM: Eles são pessoas preparadas e não se deixam iludir pela relação com o poder. Eu gostaria de falar agora da Agenda. Como é que surge a Agenda do Poder, hoje é um dos principais sites brasileiros na área política?
RB: A Agenda do Poder foi uma história curiosa. Quando saio do governo do Estado, o Flávio Martinez me convida para apresentar o programa Jogo do Poder na CNT.
CM: Ele está no ar há quantos anos?
RB: Ele já estava no ar, na verdade, já há muito tempo, antes de eu apresentá-lo. Só comigo já estava há 18 anos. E comecei a apresentar o programa. E com o boom da internet, que aconteceu talvez há uns 20 anos 18 anos atrás, eu comecei a receber sugestões. "Por que você não migra um pouco para a internet? Não faz alguma coisa dirigida à internet?". E eu confesso que durante uns três anos eu resisti um pouco a me moldar a essa inovação tecnológica, a direcionar o meu esforço jornalístico para isso, como se aquele mundo não fosse o meu mundo. Eu falei: "Bom, eu não sei, internet e tal", enfim, eu comecei a olhar com atenção para aquele espaço, para aquele novo modelo de Jornalismo, mas eu resisti por algum tempo em abraçá-lo, em aderí-lo. Até que houve a necessidade, eu vou confessar aqui, enfim, uma situação comercial, uma pessoa que havia determinada verba publicitária, mas só para a internet. E aí eu falei: "Eu vou começar a tratar disso com alguma seriedade".
CM: Porque hoje as pessoas não percebem a estrutura que você tem? Qual é a estrutura que você tem hoje?
RB: Hoje nós temos, na Revista Rio, 12 pessoas profissionais, a maior parte deles, 8 jornalistas, e gente do naipe de Aydano Motta, que é egresso do Globo, Mário Renato Marona, que foi diretor de jornalismo do Globo em Brasília, editor-chefe do Jornal Nacional, o Jan Theophilo, temos um time muito qualificado. E no site também, no site nós temos a participação de jornalistas consagrados na imprensa de cidade do Rio de Janeiro, como o Tiago, Carlos, egresso do Dia, temos o Marcelo que tem uma trajetória do jornalismo de Niterói muito grande, foi editor da Tribuna, temos a Carol, que é uma jornalista que veio de Brasília. Temos uma equipe só em rede social, uma equipe de cinco pessoas. Temos equipe de repórteres, temos o Villaverde também, que foi do O Dia. Só a equipe de repórteres são mais seis repórteres e editores que fazem a edição da capa. O Nicolas, que é uma equipe de São Paulo, que cuida de toda a TI nossa e cuida também do site do Brasil 247 e de outros sites. Então, assim, o curioso disso tudo, Magnavita, é que o Nicolas trabalha de São Paulo, o outro trabalha de Niterói, eu trabalho do Rio, enfim, cada um trabalha num local, numa cidade. Obviamente que a gente se encontra para afinar as posições em reuniões, mas o dia a dia é cada um na sua localidade.
CM: Estamos chegando ao final da conversa e uma das coisas que eu vejo é a questão da responsabilidade, porque tem muito jornalista que faz questão de ligar o ventilador ou botar fogo no circo. Quantas vezes você sabia que se publicasse o circo ia pegar fogo e, em prol do Rio, em prol de uma harmonia política, deixou de ser um petardo destrutivo? E deu até a notícia, mas equilibrando a informação?
RB: Isso acontece muito. Eu confesso, Magnavita, que esse tipo de consciência, esse tipo de ponderação, eu adquiri com o passar dos anos. Eu, há 25 anos, não resistia a qualquer ponderação. Achava que, a notícia, eu tinha que detoná-la a qualquer preço, a qualquer custo. Mas, com o passar do tempo, a gente vai amadurecendo, vai vendo como as coisas na prática se dão, começa a fazer análises. Se aquilo vale a pena detonar naquele momento, ou se é melhor guardar aquela informação, aprimorar e, daqui a um mês, daqui a 15 dias, noticiá-la, publicá-la com maior riqueza de detalhes e sem o efeito destrutivo bomba de Hiroshima que teria se dado naquele momento.
CM: Mas isso ajuda na credibilidade e na confiança com a fonte?
RB: Ajuda. A fonte confia mais em você e, ao confiar, volta a te passar outras informações com exclusividade e esse é um processo que vai se retroalimentando do ponto de vista positivo. E eu hoje tenho, obviamente, esse tipo de equilíbrio, esse tipo de entendimento, de que a informação é valiosa, sempre valiosa e eu vou querer recebê-la a todo momento, mas é preciso dosar e, digamos, avaliar qual é o momento adequado para publicá-la. Nem sempre o momento é o seguinte àquele que você recebeu com exclusividade a primeira informação.
CM: Você tem três filhas, duas grandes e uma caçulinha agora. Muda ser pai e ter uma filha de idade de 10 anos?
RB: Muda muito, Magnavita, porque, primeiro, a época em que eu tive as duas primeiras eu estava trabalhando no Globo e trabalhava até uma, duas da manhã. Chegava em casa e não conseguia nem vê-las. Elas estavam dormindo. Estudavam de manhã, e eu dormia tarde, acordava às nove horas, elas já estavam na escola. Então eu passava às vezes a semana inteira sem encontrá-las, só no final de semana. E também no final de semana que eu não estava de plantão, porque o plantão era de 15 em 15 dias. Eu me lembro que no episódio do Bateau Mouche, daquele acidente, lá na Marina da Glória, era Réveillon e eu não pude passar o Réveillon com minhas filhas.
CM: Mas hoje você compensa?
RB: Então, tudo isso para dizer o seguinte. Hoje é diferente. Eu valorizo cada minuto, eu priorizo momento a momento dessa relação. Ou seja, não que a gente goste mais de um do que outro, ao contrário, a gente gosta das três, mas você entende a importância da dedicação aos filhos de maneira diferente.
CM: Quando você vê a sua menina de 10 anos na internet, é algo mágico a cabeça de uma pessoa de 10 anos hoje…
RB: É totalmente diferente. Eu vejo o desembaraço, e a destreza com que ela entra na internet, entra em sites e entra em aplicativos, coisa que eu demorei algum tempo para aprender, ela talvez tenha quase que fosse algo inato.
CM: Agora Ricardo, para finalizar, por que os governos tratam tão mal a área de comunicação? Não consideram que a Comunicação Social é uma obrigação do governante em prestar contas do que faz. A gente tem vários casos no Brasil de governadores que são excelentes no que faz, mas isso não chega ao grande público por uma miopia na gestão da comunicação. Como é que você vê isso nacionalmente?
RB: É verdade. Acho que a comunicação em alguns governos e algumas administrações é muito falha. No próprio Governo Federal é muito falha. E aí tem duas, algumas razões, não existe uma única razão. Eu acho que uma das razões da falha de comunicação em relação aos governos têm a ver com a matriz ideológica do Governo. Os governos de esquerda desaprenderam a lidar com a comunicação atual, com as redes sociais, enfim, é uma outra linguagem.
CM: Por que estavam acostumados a tratar com a mídia repleta de militância?
RB: Repleta de militância, exatamente. Quando isso deixa de ocorrer, eles, então, na verdade, perdem vantagem em relação aos governantes de direita ou de centro-direita, que passaram a ocupar esse espaço com muita competência, através das redes sociais. É preciso hoje, para uma comunicação ser efetiva, ter um bom trabalho direcionado aos veículos tradicionais de imprensa, que complementam e dão credibilidade, porque nem sempre a rede social dá credibilidade, mas a rede social também é indispensável. Você não pode abdicar de um bom trabalho direcionado às redes sociais.
CM: Está aí o caso de João Campos, que é um fenômeno...
RB: As coisas se complementam. Há governos que são bem sucedidos na rede social, mas não tem um bom desempenho na relação com a mídia convencional. E há outros que mantêm-se apenas com aquele padrão um pouco mais antigo de comunicação, voltado apenas aos veículos tradicionais, à Rede Globo, achando que tudo se resolve assim. Hoje não é mais assim. Durante anos, perdurou a ideia de que com uma grande publicidade, uma grande campanha, uma relação, digamos, amiúde, azeitada com a Globo, eu resolvo tudo. Hoje não resolve tudo. Isso não é suficiente.
CM: A própria Globo está se revendo, em termos de posicionamento editorial, porque ela passou a ser questionada...
RB: Então não basta ter uma boa relação com os veículos que ocupavam, essa centralidade na comunicação. É preciso ter uma visão um pouco mais aberta, não estreita, e que contemple veículos de nicho. Hoje nós temos muitos veículos que ocupam nichos, falam para nichos da sociedade. Então, ter esse entendimento de que é preciso também atingir esses nichos através de veículos direcionados a esse segmento é extremamente importante, é o dever do governante. E não falar só através dos veículos que supostamente ocupam essa posição que antes era majoritária.
Claudio Magnavita: E como eu disse, me despedindo, veículos como o seu, citados, passam ser referência dos meus veículos. Muito obrigado e é prazer retomar essa série de entrevistas com esse lado humano. O Ricardo Bruno a gente conhece, acessa e lê diariamente. Mas hoje tivemos a oportunidade de mergulhar um pouco na história desse garoto que já usurpava os domingos familiares.