Por: *Felipe Marinho Masid

Produção artesanal de queijos: tradição e qualidade em ascensão!

| Foto:

Essa forma de produção, muitas vezes associada à tradição familiar e técnicas ancestrais, aliado à tecnologia atual, tem ganhado cada vez mais espaço no cenário agroindustrial fluminense.

O Estado do Rio de Janeiro, além de suasbelas paisagens e cultura vibrante, tem se destacado na produção artesanal de laticínios, que nos últimos anos tem experimentado um crescimento notável. Esse aumento pode
ser atribuído, em parte, à busca crescente dos consumidores por produtos autênticos e de alta qualidade, aliados à valorização da produção local e ao resgate de métodos tradicionais.

Esse crescimento chega na esteira do movimento de grandes nomes no cenário gastronômico, que privilegia a produção local e artesanal, e ganhou muita força nos últimos anos, o que traz um cenário positivo para alavancar os pequenos produtores de queijos artesanais.

Dos diversos tipos de queijos produzidos no estado, podemos dividir em dois grandes grupos, sendo, em linhas gerais, o queijo fresco, que traz sabor menos pronunciado, e o queijo maturado, com o qual é possível conseguir as mais diferentes características, sabores e texturas.

No queijo fresco, o que predomina é o gosto de leite fresco e de coalhada, porque ainda não deu tempo de as bactérias trabalharem, fazendo a transformação desses sabores, enquanto o queijo maturado, ou seja, o queijo que “descansou” por alguns dias, semanas ou meses, consegue agregar nuances de sabor e desenvolver novas características, resultando em queijos de diferentes estilos. Quanto mais tempo o queijo maturar, mais sabores ele vai desenvolver.

A produção de um queijo começa sempre com a mesma matéria-prima: o leite – que pode ser cru ou pasteurizado. Não há como fazer queijo bom com leite ruim. O leite de qualidade tem duas características fundamentais, uma é a sanidade – que envolve higiene e boas práticas com o animal; outra é a complexidade, que está relacionada às características da microbiota do leite, essencial para se conseguir um queijo complexo.

O processo de produção, fermentação e maturação são os fatores que irão definir como será o estilo do queijo. A bactéria utilizada inicialmente no leite, será fundamental para o resultado que se pretende, e o tipo de fermentação vai determinar a textura. A maturação vai dar o tempo necessário para que isso aconteça

Sobre a evolução histórica dos queijos no Brasil, notamos o queijo fruto do resgate de receitas tradicionais, depois veio uma fase de reprodução de receitas inspiradas nas clássicas europeias, mas com características locais, como os queijos cremosos de mofo branco, ao estilo dos queijos brie e camembert. Também, os queijos azuis de massa mole, como o gorgonzola e o roquefort.

E, por último, os queijos mais maturados, como o parmesão. Bastante recente e ainda em curso, nota-se o de desenvolvimento e construção de uma nova identidade queijeira nacional.

Uma indústria em crescimento

O Rio de Janeiro abriga atualmente cerca de 200 agroindústrias dedicadas à produção artesanal de laticínios. Essas unidades, muitas vezes de caráter familiar, desempenham um papel crucial na economia local ao oferecer oportunidades de emprego e geração de renda para as comunidades rurais. Com sua ênfase na qualidade, sabor autêntico e técnicas de produção cuidadosamente aprimoradas, os laticínios fluminenses têm atraído a atenção de mercados internacionais exigentes.

Importante citar cases de sucesso para incentivar os empreendedores do Agronegócio dos Queijos Artesanais. Na linha de queijos de leite de vaca, cito como case de sucesso a Queijaria Fazenda Boa Fé, em Santa Maria Madalena, do produtor Gilmar Carino, legalizada em 2005, quando começou a utilizar leite pasteurizado na produção de seus queijos artesanais, com apoio de recursos de programas de incentivo da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento - SEAPPA, e foi pioneiro a adquirir o Selo de Inspeção Estadual – SIE.

Macaque in the trees
Patrícia Barreto, Edinaldo Vasconcellos e Karina | Foto:

Atualmente, agrega valor a venda de seus queijos com investimento no turismo rural em suas pousadas, passeios de quadriciclos, participação das Rotas de Turismo junto à Secretaria Municipal de Turismo local, e a implementação de práticas sustentáveis e de energia limpa na propriedade. 

Na linha de queijos de leite de cabras, trago a história do Rancho Grande. Em 1995, de forma inteiramente familiar, com a criação de poucas cabras leiteiras, na fazenda situada em Mury, no Município de Nova Friburgo, Patrícia Barreto iniciou as atividades do Capril Rancho Grande. Com o passar do tempo, tornou-se objetivo da família transformar esse leite produzido em arte culinária, e têm conquistado lugar nos melhores pontos de venda e restaurantes do estado, assim como a preferência dos mais exigentes consumidores.

Atualmente, Patrícia e seu marido Edinaldo Vasconcellos, produzem diferentes tipos de queijos e derivados do leite de cabra, como seu famoso doce de leite cremoso, elaborado a partir de puro leite de cabra fresco e
com menor teor de açúcar que os doces convencionais, conferindo toque leve e saboroso. Estão presentes no circuito do turismo rural de sua região, e são presença fundamental em grandes eventos realizados pela SEAPPA, além de eventos relevantes promovidos para os grandes Chefes da culinária do fluminense.

Macaque in the trees
Gilmar Carino e Cláudia Helena Carino | Foto:

Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA apontam que as exportações de laticínios artesanais do Rio de Janeiro têm crescido a uma taxa média de 20% ao ano, para países da América do Sul, América do Norte e Europa, onde os consumidores valorizam a autenticidade e a produção sustentável.

Com o apoio do Governo do Estado e o investimento em tecnologia e capacitação, o setor do agronegócio queijeiro está se tornando uma indústria em crescimento, oferecendo oportunidades promissoras para os agricultores e empresários do ramo.

Um setor de oportunidades

Na região do Vale do Café, por exemplo, uma iniciativa da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, a Secretaria de Estado de Turismo e da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento, vem chamando atenção de investidores, com a criação do Arranjo Produtivo Local - APL do Queijo Artesanal, onde se discute políticas públicas multidisciplinares que fortalecem e incentivam o
comércio e o investimento local, em diversas cadeias correlatas e ligadas ao turismo rural, como a criação da “Rota do queijo”, shows e eventos na região. 

Além disso também se define ações para o processo de requerimento da Identidade Geográfica da Região, para
consolidar sua exclusividade. Todo esse processo apoiado pelo MAPA, Universidade de Vassouras e as empresas vinculadas à SEAPPA. A produção artesanal de laticínios no estado representa uma verdadeira fusão entre tradição e inovação.

Com índices de produção em ascensão, um número expressivo de agroindústrias e uma presença cada vez mais forte no mercado internacional, a indústria de laticínios artesanais fluminense não apenas contribui para a economia local, mas também reafirma o potencial e a excelência dos produtores.

Essa tendência promissora abre caminho para um futuro ainda mais brilhante para a produção artesanal de laticínios, mostrando que ainda tem espaço para investidores e empreendedores.

Macaque in the trees
Felipe Marinho Masid, Especialista em Gestão de Agronegócios pela UFRRJ. Administrador de Empresas, Gestor de Projetos, Gestor Público (Ex-Diretor de Administração da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro) e Mestrando em Gilmar Carino e Cláudia Helena Carino Gestão Pública e Liderança. | Foto:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.