Incêndio reforça reclamações de países na infraestrutura da COP30
Nações fizeram alerta à ONU e ao Brasil. Veículos de comunicação falam do pouco tempo para a carta final
O incêndio que atingiu a área da Blue Zone da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, poderia ter sido evitado se algumas questões de segurança tivessem sido executadas.
A ONU já havia endereçado ao Brasil problemas na infraestrutura da COP em Belém. No documento, falhas em refrigeração e segurança foram mencionados, assim como em outros setores.
"A água entrou pelo teto e pelas luminárias, causando não apenas transtornos, mas também potenciais risco de segurança devido à exposição à eletricidade. Dada a frequência das chuvas em Belém, reparos urgentes e medidas de impermeabilização são necessárias para evitar maiores danos e garantir que todas as áreas afetadas permaneçam seguras e operacionais", disse no documento Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCC, braço da ONU que organiza a COP.
A comunicação da Casa Civil respondeu que "não houve alagamento do local do evento, e sim ocorrências localizadas, como goteiras; que vazamentos foram causados por rompimento de calhas no Mídia Center e Posto de Saúde 2, que já foram prontamente reparados, com substituição e vedação das estruturas e que todas as questões vêm sendo tratadas diariamente nos pontos de controle realizados em conjunto com a UNFCCC, garantindo a correção contínua de temas inerentes a um evento dessa dimensão."
"O local da cúpula foi alvo de críticas nesta semana. A chuva torrencial infiltrou-se nos espaços de reunião, pingando sobre os delegados. Houve reclamações sobre escassez de alimentos, e o ar-condicionado teve dificuldades para lidar com o calor intenso e a umidade. Simon Stiell, o chefe de clima da ONU, pediu segurança reforçada depois que manifestantes forçaram entrada no local", apontou reportagem do jornal americano The New York Times.
Na mesma reportagem, o jornal afirma que em uma carta a André Corrêa do Lago, presidente da COP30, Stiell apontou preocupações de segurança, mau funcionamento do ar-condicionado e água da chuva infiltrando-se nas instalações de iluminação.
A BBC News afirmou ter presenciado ambulâncias no local. A reportagem do veículo britânico também afirmou ter conversado com uma pessoa auxiliando no centro médico da COP30 e que teria atendido pessoas afetadas pela inalação de fumaça.
O também britânico The Guardian destacou que o incêndio coloca ainda mais urgência às deliberações enquanto o tempo se esgota para chegar a um acordo.
A Reuters também destacou a questão do tempo da conferência se esgotando. "A cúpula na cidade amazônica estava inicialmente programada para terminar na sexta-feira, mas não cumpriu o prazo autoimposto de quarta-feira para garantir um acordo entre os quase 200 países presentes sobre questões que incluem como aumentar o financiamento climático e abandonar os combustíveis fósseis", disse.
COP em Belém
Apesar das reclamações de negociadores para que a conferência fosse transferida para outra cidade do país, Lula e Stiell a mantiveram na capital paraense.
O argumento do presidente do Brasil era de que a COP seria realizada na Amazônia pela primeira vez e que mantê-la em Belém seria "um ato de coragem".
Vale ressaltar que meses antes do evento reclamações em relação ao preço de hospedagem e da infraestrutura da cidade foram alertas dos países participantes.
Superfaturamento
Além disso, auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) constataram superfaturamento na comercializações de espaços das zonas da COP. "Conforme demonstrado pela representante, uma Cadeira Charles Eames que possui valor de mercado de R$ 150,00 é comercializada pela contratada por R$ 1.650,00, representando sobrepreço de 1000%. Similarmente, uma impressora multifuncional com valor de mercado de R$ 400,00 é oferecida por R$ 3.000,00, configurando majoração de 650%. Um frigobar de 120 litros, disponível no mercado por R$ 500,00, é comercializado pela empresa por R$ 1.400,00, evidenciando sobrepreço de 180%", dizem.
A Organização de Estados Ibero-Americanos rebateu a nota do TCU dizendo que "no caso da COP30, essas peculiaridades são particularmente relevantes, uma vez que as empresas contratadas deverão mobilizar, a partir de outros estados, mão de obra especializada, equipamentos técnicos, estruturas logísticas e apoio operacional contínuo durante todo o evento".
Já sobre os preços cobrados pelo metro quadrado a organização afirmou que afirmou que "embora a existência de valores unitários superiores aos praticados rotineiramente possa causar estranhamento, tal fato, por si só, não configura sobrepreço".
Fogo atingiu a área da Índia
O coordenador do Observatório do Clima, Claudio Angelo, afirmou que o incêndio que atingiu o Pavilhão da Índia na Blue Zone da COP30 é algo inédito na conferência. Após as chamas, a Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) informou que as instalações atingidas estão, agora, sob a autoridade do Brasil, e não são mais consideradas um território da ONU.
"Nunca houve, em 30 anos de Convenção do Clima, uma Zona Azul pegando fogo. A relação da ONU com a Casa Civil não poderia ficar pior do que já está" disse Angelo.
Segundo o governo do Pará, o incêndio já foi controlado. Ainda conforme a UNFCCC, o Corpo de Bombeiros do Pará ordenou a evacuação do local e realizará "verificações de segurança completas". O local, no entanto, não deve ser reaberto antes das 20h.
O ministro do Turismo, Celso Sabino, disse que o episódio "poderia ter sido em qualquer lugar" do planeta e que foi iniciado com um celular carregando. Segundo ele, a estrutura da conferência foi erguida com material antichamas. A energia elétrica foi cortada em uma parte da estrutura da COP, e ainda não se sabe a razão do incêndio.