Brasil garante vaga na Copa do Mundo em noite de homenagens

Sob frio e chuva, encanto pela Seleção aqueceu torcedores na vitória sobre o Paraguai

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Por Pedro Sobreiro

Na noite da última terça-feira (10), a Seleção Brasileira enfrentou o Paraguai, na Neo Química Arena, em São Paulo, para atingir a primeira meta imposta pela comissão técnica do treinador Carlo Ancelotti: classificar a equipe para a Copa do Mundo FIFA 2026, que será disputada nos EUA, México e Canadá.

Para atingir esse objetivo, o Brasil precisaria vencer o Paraguai por qualquer placar, contanto que o Uruguai vencesse a seleção da Venezuela na partida que ocorria simultaneamente. Entretanto, como esse jogo teve início às 20h e o Uruguai marcou os dois gols da partida ainda no primeiro tempo, os atletas brasileiros já entraram em campo sabendo que bastaria uma vitória simples para que eles carimbassem o passaporte 'Canarinho' para a próxima Copa.

Em um noite extremamente fria, mais de 46 mil torcedores lotaram o estádio corintiano para apoiarem os comandados de Ancelotti, que tinha um motivo a mais para comemorar: o treinador italiano estava completando 66 anos de idade. Na coletiva de imprensa que antecedeu a partida, ele revelou que gostaria da classificação como seu grande presente de aniversário.

Mas Ancelotti teve muito mais que 'apenas' a confirmação da vaga no Mundial. Durante o cerimonial de abertura do jogo, a torcida brasileira demonstrou seu carinho pelo técnico subindo um mosaico enorme com os dizeres: "Parabéns Carletto". O primeiro contato com o povo brasileiro não poderia ser melhor.

Em campo, o jogo foi bastante morno. Ainda buscando o time ideal, já que essa foi apenas sua segunda partida comandando a Seleção, Ancelotti viu o Brasil criar muitas oportunidades, mas sempre pecando na parte final do campo.

Os destaques da partida foram o volante Casemiro, soberano no meio de campo, o atacante Raphinha, que gerou jogadas nos 90 minutos, e o falso 9 Matheus Cunha, que fez uma partida taticamente muito interessante. Também há de se destacar Vinícius Jr., que mesmo longe de apresentar o mesmo futebol que ostenta no Real Madrid, marcou o único gol do jogo no finalzinho do primeiro tempo.

Entretanto, para os presentes, o jogo era o de menos. A torcida queria mesmo era a classificação. Se o duelo terminasse 1 a 0 Brasil com um gol contra do Paraguai, a vibração teria sido a mesma.

O que não faltou aos torcedores foi coragem, porque enfrentar o famoso frio de Itaquera nesta época do ano demanda uma verdadeira paixão. Mais do que os 13ºC da noite paulistana, o povo se viu diante de uma garoa persistente que encantou um público que estava fascinado simplesmente por estar ali: as crianças.

Com as proibições de bebidas alcoólicas e o veto a camisas de times e torcidas organizadas que não fossem referentes à Seleção Brasileira, o jogo se tornou muito propício para que as famílias levassem a molecada. Muitas delas, inclusive, viveram ali sua primeira experiência em um estádio de futebol.

A mistura dos ventos com a garoa no pré-jogo deu ao campo uma aparência mística, como se uma neblina tomasse conta do ar. Então, durante o protocolo de abertura do jogo, um show de drones projetou um atleta brasileiro levantando uma taça sobre o estádio. A molecada vibrou como nunca.

Mais do que isso, no setor norte do estádio, os pais se reuniram e deixaram as crianças bem próximas ao campo, apoiada na divisória principal. A cada aproximação de um jogador, eles chamavam e festejavam a presença dos craques da TV diante de seus olhos, certamente algo inesquecível e que ajuda a construir a cultura de arquibancada brasileira.

Enquanto isso, a torcida adulta tentava emplacar os já tradicionais cânticos da Seleção Brasileira, mas ficou nítida a falta de um maior repertório de músicas capazes de inflamar as arquibancadas. Isso é algo que reflete muito o alto valor do ingressos, que é o principal fator de afastamento do povo da Seleção Canarinho. Assim que a CBF entender que uma bilheteria mais modesta que os exorbitantes R$ 12 milhões arrecadados com este jogo pode trazer um retorno muito maior que o monetário, que é o da fidelização do torcedor mais humilde do país, certamente o público geral resgatará esse amor pela Amarelinha. Afinal, foi incrível que essas crianças tenham vivido esta experiência, mas só estas classes sociais mais abastadas podem experimentar essa sensação de ver os craques que os representam?

Padronização

Faz alguns anos que São Paulo aplica leis que proíbem o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios, a presença de bandeirões e outras marcas que compõe o imaginário popular da torcida brasileira. Porém, uma proibição paulistana acabou, meio que por acidente, trazendo um efeito positivo especificamente para os jogos do Brasil.

Com o veto de uso de camisas de outros times, a torcida foi majoritariamente utilizando as cores do Brasil. Ver o verde, amarelo, azul e branco tomando as arquibancadas deu uma estética positiva para o jogo. Nos jogos do Rio de Janeiro, por exemplo, é muito comum ver as arquibancadas dos jogos do Brasil sendo tomadas pela faixa transversal Cruz-maltina, ou as faixas horizontais rubro-negras, por exemplo, que tiram essa sensação de unidade. Mas é algo cultural que deve ser respeitado.

Funcionou em São Paulo, mas não é garantia de que daria certo em outras cidades.

Organização

Um ponto negativo do jogo foi a organização. O acesso era feito majoritariamente pela saída da estação de metrô Corinthians/ Itaquera. A guarda presente no local não soube informar com precisão, por exemplo, quais acessos levavam aos respectivos setores. O resultado foram filas bastante confusas e uma série de torcedores tendo de voltar um longo caminho por terem recebido informações erradas.

É comum que torcedores paulistanos já entendam melhor os acessos do estádio, mas um jogo do Brasil reúne gente do mundo todo. É necessário que os funcionários presentes ao redor saibam informar os caminhos corretamente.

O estacionamento do jogo também rendeu momentos de confusão, já que a saída dos veículos se deu junto à saída dos torcedores.

Próximos jogos

Com a vitória sobre o Paraguai por 1 a 0, a Seleção Brasileira conseguiu a classificação para a Copa do Mundo FIFA, mas isso não significa que as Eliminatórias acabaram. Restam ainda duas partidas que ocorrerão ainda este ano.

Na próxima Data FIFA, em setembro, o Brasil enfrentará o Chile e a Bolívia para decidir a classificação das Eliminatórias.

O primeiro jogo, marcado para 9 de setembro, será a despedida da Seleção do Brasil. Rumores indicam que, a pedido de Carlo Ancelotti, a partida acontecerá no Maracanã, no Rio de Janeiro.

Assim como em 2022, a Seleção pode ser abraçada por uma torcida extremamente vibrante e animada para levar as boas energias para a Copa. É uma chance de ouro para os cariocas, já que o estádio comporta mais de 78 mil torcedores. É esperado que Ancelotti traga força máxima.

Em seguida, em 14 de setembro, a Seleção Brasileira vai a La Paz para enfrentar a Bolívia no último jogo das Eliminatórias. Com o Brasil já classificado, é capaz que ele teste um time alternativo.