'Lilo & Stitch' conquista novamente os corações dos brasileiros
Em entrevista ao Correio da Manhã, dubladores do filme falam sobre esse fenômeno do cinema
Por Pedro Sobreiro
Com mais de 350 milhões de dólares arrecadados apenas na primeira semana em cartaz nos cinemas do mundo, a versão em live action de "Lilo & Stitch" já é considerada um fenômeno global de bilheteria.
A trama conta a história do alienígena que escapa de uma prisão espacial e acaba caindo no Havaí, onde é adotado por Lilo, uma garotinha que acabou de perder os pais e está passando por problemas pessoais. Ela acredita que o Alien é um cachorrinho, leva ele pra casa e o apelida de Stitch. Com ela, o monstrinho intergaláctico aprende mais sobre amizade e família, descobrindo que há muito mais na vida além da destruição. A grande diferença é que a história agora é contada com atores de carne e osso, com exceção dos aliens, que são feitos por computação gráfica.
No Brasil, a maior parte das sessões disponíveis deste filme são dubladas, até por um apelo nostálgico à eterna voz brasileira do Stitch original, o dublador Márcio Simões. Responsável por dublar ícones do cinema, como o ator Will Smith, o Gênio de 'Aladdin' e o icônico Coringa de 'Batman: O Cavaleiro das Trevas' (2008), Simões foi escolhido novamente para dar vida ao Stitch nos cinemas.
Junto a ele, a estrela das redes sociais, Sophie Figueiredo Soriano, a Sossô, de apenas oito anos, faz sua estreia na dublagem dando voz à Lilo.
A convite da Disney, o CORREIO DA MANHÃ conversou com essa duplinha que trouxe muito carisma e brilho para a dublagem.
O interessante da dupla é justamente esse contraste. Enquanto Simões é muito experiente na dublagem, Sophie está em seu primeiro trabalho.
"Eu encontrei com a Sophie no último dia. Como a gente grava separado, em horários diferentes, eu ainda não tinha visto ela. Então, eu sempre falava com a Angélica [Borges, diretora de dublagem do filme] 'eu preciso conhecer a Sophie!'. E aí teve um dia que os horários coincidiram, e aí a gente se conheceu [...] É isso que dá prazer na profissão, ver principalmente ela, que está começando agora, que nunca nem teve contato com esse mundo [da dublagem], já estrelar um grande projeto como esse... Ela está de parabéns!", disse Márcio Simões.
Quando o filme original foi lançado nos cinemas, Sophie ainda nem pensava em nascer. Então, ela revelou que só foi conhecer o filme quando recebeu o teste para o papel.
"Foi meu primeiro papel no cinema, eu nunca tinha feito um papel tão grande. A dublagem foi bem legal, mas também foi bem difícil. Trabalhar com a tia Angélica foi bem legal. Sinceramente, eu não era fã. As minhas amigas eram fissuradas e amavam, mas eu nunca tinha assistido. Então, quando eu recebi o teste, assisti o filme pela primeira vez e comecei a gostar muito. Eu tenho até a garrafinha", explicou Sossô.
E apesar de ser a icônica voz do Stitch nos corações dos fãs, Simões contou que não teve vaga cativa na nova versão. Ele teve que fazer teste e foi aprovado. Segundo ele, foi "um presentão".
"Estou na dublagem há quase 40 anos, então, para mim, fazer de novo o Stitch foi um presentão. Agora, depois de 20 anos, estou com um pouco mais de experiência, então agora consigo entregar um pouco mais de sinceridade, naturalidade... De verdade nas minhas falas. Na época [do original] também, mas eu tinha uma preocupação maior em ficar bem próximo da atuação original, mesmo que tentasse dar meu toquezinho particular aqui e ali. Hoje em dia, não. Pela experiência, eu consigo conversar mais, fazer o personagem interagir como se fosse o amiguinho dela conversando. E a experiência faz a gente atingir esse nível de excelência. E isso eu consegui graças a ter sido escolhido no teste, onde tive a chance de dublar o Stitch de novo, e aí eu já consigo dublar com mais vontade, porque ser escolhido par dublar de novo esse personagem tão legal, que todo mundo curte, que eu também curto, porque eu assistia a série e os longos, é, para mim, um presentão mesmo", disse Simões.
Ele também falou sobre os desafios de interpretar o Stitch, um personagem que não fala exatamente em português o tempo todo.
"Isso foi o que me deu mais trabalho, porque são falas na língua dele. Elas sempre existiram, mas agora ele fala mais. Foi criação do Chris Sanders [Stitch dos EUA], então eu tenho que ouvir o que ele fez e tentar seguir coladinho, porque não tem transcrição, não tem um texto dessas falas. A gente ouve o que ele fala e tenta. Existem algumas falas mais conhecidas que a gente tem que fazer, mas, caramba! Tinham muitas outras que eu tive que fazer que deram muito trabalho. Até o espirro a gente faz na voz do Stitch", completou.
Perguntada sobre qual o próximo papel que ela gostaria de fazer, Sophie revelou suas preferências, mas destacou que não têm muitas histórias por aí com protagonistas crianças.
"Eu gostaria de dublar a Mulher-Maravilha, mas não consigo pensar em outros personagens, porque não tem muitos personagens crianças nos filmes de hoje, né? Ah sim! Eu gostaria de dublar uma princesa. Eu gosto de todas elas!", disse.
Simões também ressaltou a valorização dos fãs que os dubladores brasileiros vêm recebendo. Para ele, isso é importante para construir uma cultura da dublagem no país.
"Isso é ótimo! E aconteceu mais por conta das redes sociais, em que há essa interação maior. A partir daí, a gente consegue retribuir esse carinho. Aqui no Rio, o pessoal investe mesmo, e eles prestigiam esses atores. E não é um prestígio só para os dubladores cariocas, porque um trabalho bem feito é sempre prestigiado. E isso gera um aumento em sessões dubladas, porque aqui no Rio, por exemplo, filmes sem ser animação têm poucas sessões dubladas, então essa cultura tem que se desenvolver no Brasil inteiro. Um filme dublado ajuda muita gente, e se as pessoas reconhecem isso e incentivam nosso trabalho, as sessões dubladas vão acontecer", explicou.
Por fim, ele falou sobre as diferenças entre a animação e o live action.
"O público pode esperar um filme muito bonito e profundo. Ele enaltece ainda mais a relação entre a Nani e a Lilo, do 'Ohana', da família. Elas têm uma rede de apoio muito grande dos vizinhos, e o amor está presente, ele permeia o filme inteiro. Eles tiraram um pouco da aventura da animação para focar mesmo na família, no pertencimento. E a animação do Stitch, a computação gráfica está perfeita! Eu via uma criatura que parecia uma pelúcia, é tão perfeito! Que trabalho maravilhoso!", afirmou Márcio Simões.
Por trás do sucesso, houve uma grande estratégia de lançamento
Se "Lilo & Stitch" está fazendo tanto sucesso no Brasil, grande parte disso se deve à campanha publicitária maciça da Disney no país.
A Disney Brasil entendeu o potencial do personagem de ser "um novo Mickey" para a molecada, então fez de tudo para colocar o Stitch na mídia o tempo inteiro. Além dos inúmeros produtos, o Stitch roubou a cena em meio aos 'Little Monsters' em Copacabana, entre o fim de abril e começo de maio. Enquanto os fãs esperavam por um aceno da cantora Lady Gaga, quem apareceu na sacada do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, foi um Stitch gigante, que foi recebido por Narcisa Tamborindeguy, além de fazer diversas ações pela cidade ao longo da semana do show.
Na semana da estreia, grandes portais como o "Legado da Marvel" e o "Imaginews", do YouTuber Imaginago, fizeram sessões com fãs e dubladores no UCI New York City Center - o maior do país -, no Rio de Janeiro, reunindo mais de 400 fãs por sessão, promovendo esse encontro e trazendo o público mais para perto do universo do filme.
Com diversas estratégias de divulgação do filme no Brasil, não é por acaso que o longa esteja na liderança da bilheteria no país, tendo arrecadado mais de R$ 60 milhões em sua estreia.