Aumento no preço do café afeta vendas no interior do Estado do Rio

Comerciantes reclamam de preços que estão nas alturas e devem continuar assim o ano todo, segundo especialistas

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Brasil é maior produtor e exportador de café do mundo

Por Thomás de Paula

Desde o fim de 2024, o preço médio do café esteve em alta e tem afetado diretamente comerciantes e amantes da bebida na região Sul Fluminense, interior do Estado do Rio de Janeiro. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o preço médio do quilo do café no varejo em dezembro de 2024 chegou a atingir R$ 42,65, que já representava um aumento em relação aos meses anteriores.

Segundo especialistas, a alta no preço do café é causada por diversos fatores, um deles é, por exemplo, as condições climáticas, como geadas e ondas de calor que têm prejudicado as safras. Tudo isso gera aumento no preço do grão.

Maicon, gerente do Supermercado Royal em Volta Redonda, disse que a alta no preço do produto tem sido responsável por diminuir as vendas de café: "O voltarredondense não fica sem café, mas o aumento no preço impacta bastante, diminui o volume da venda e diminui a quantidade de café", disse o gerente.

Comerciantes
sentem impacto

Comerciante da região Sul Fluminense, Maria Aparecida, afirma que também foi afetada: "Esse aumento do preço do café realmente tem um impacto muito grande, o aumento foi considerável, por conta da geada e da seca, ou por conta do dólar", disse. E acrescentou: "Foram muitas coisas acontecendo nos últimos anos e isso contribuiu para a falta do café, onde alterou muito o preço, e hoje em dia as pessoas estão procurando outras alternativas, algumas pessoas estão tomando chá, outras preferem um suco, então até o consumidor absorver esse aumento eu acredito que vai demorar".

Maior produtor e exportador

O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. E mais: a bebida é a segunda mais consumida no mundo, atrás apenas da água. Os Estados Unidos lideram o número de consumidores de café e o Brasil vem em segundo lugar.

Ciclo do café
no Brasil

O café está presente na história do Brasil desde o século XIX, na época do Império. Após os ciclos econômicos do pau-brasil, da cana-de-açúcar e do ouro, o ciclo do café, que vai até o século XX, representou a maior fonte de riqueza do país e o principal produto de exportação.

O café chegou ao Brasil em 1727, entrando pelo Pará e cultivado na cidade de Belém. Nos anos seguintes, foi levado para o Maranhão e para o Rio de Janeiro, onde foi cultivado para consumo doméstico. Levado para terras da Serra do Mar, chegou ao Vale do Paraíba por volta de 1820, onde encontrou a "terra roxa", solo rico para os cafezais. De São Paulo foi para Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná.

De acordo com o professor e historiador Diogo Dionizio, o ciclo do café foi muito importante para o desenvolvimento da região Sudeste, pois até então o Norte e Nordeste eram as regiões mais importantes do Brasil. "O ciclo do café surge no contexto do Brasil Império, então a partir do século 19 que vamos passar a ter esse ciclo e o café foi um produto muito importante principalmente para as regiões de São Paulo e do Paraná", explica.

No final do XIX e começo do século XX, os barões de café passaram a ter uma grande influência na política nacional, sobretudo, na política do "café com leite", que dividiu o poder no Brasil. "Nós vamos ter num ano, cafeicultores paulistas com o poder no Brasil e com poder central da presidência, e no outro ano nós vamos ter os produtores de Minas, que são os grandes produtores de leite", diz.

O café passou a ser uma bebida bem comercializada no mundo todo e o Brasil se tornou um dos principais exportadores de café do mundo até a crise de 1929, quando o grão deixou de ser um dos principais produtos de exportação e o Brasil perde essa "soberania" no setor.

O historiador também lembra que o café fez parte da bandeira do Império brasileiro e atualmente integra o Brasão da República. "No período do Império, a bandeira vai apresentar os ramos de café, mostrando ali como essa cultura se transformou numa planta tão importante para economia brasileira, e até hoje o café é um dos principais produtos de exportação brasileiro. Até hoje o café movimenta a economia global e também a economia brasileira", diz Dionizio, atualmente formador de professores de História na Divisão Pedagógica da Diretoria Regional de Educação de Guaianases, na Zona Leste de São Paulo.

Cafés especiais no Brasil

A posição do Brasil como maior produtor e exportador mundial leva, cada vez mais, uma bebida de qualidade das fazendas de café aos consumidores brasileiros, nosso maior mercado e àqueles dos 145 países importadores.

"Hoje o Brasil já é o maior fornecedor mundial de cafés a partir de 80 pontos, produzidos com responsabilidade social e ambiental e também um consumidor respeitável de cafés de alta qualidade", explica Vanúsia Nogueira.

Estima-se que cerca de 5% a 10% do consumo brasileiro de cafés já seja de cafés especiais, sejam eles vendidos em cafeterias, restaurantes, hotéis, em canais de internet e em supermercados.

Foi um crescimento rápido, que veio com a curiosidade na descoberta de diferentes sabores e diferentes experiências. Em números absolutos, já é um volume maior que muitos países e que tende a evoluir cada vez mais, com o engajamento de mais produtores e o conhecimento e valorização dos clientes.

"É o café deixando de ser apenas algo essencial para o estado de alerta, para a energia do treino, mas sendo também a indulgência, o prazer que todos merecemos", assegura Vanúsia.