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CNPE adia decisão sobre obras da usina nuclear Angra 3

Usina nuclear volta a operar após parada | Foto: Divulgação/Eletronuclear

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) adiou a decisão sobre a retomada das obras da usina nuclear Angra 3 durante a tão aguardada reunião, realizada nesta terça-feira, dia 10. Incialmente a discussão estava marcada para a semana passada, mas foi remarcada para ontem e terminou sem qualquer definição concreta. A expectativa é de que o assunto volte à pauta do CNPE somente em janeiro do ano que vem.

O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, também presidente do CNPE, é favorável à conclusão da obra e teria defendido, na reunião, a aprovação de dois estudos do próprio ministério. Um deles seria promover o incremento da Eletronuclear, que opera o Complexo Nuclear, que fica em Angra dos Reis-RJ. A incubência desse ponto ficaria à cargo da Casa Civil, que faz parte do Conselho. O outro estudo defendido por Alexandre Silveira seria os recursos para concluir o projeto bilionário da usina, já em análise nos ministérios do Planejamento e Fazenda. Algo em torno de R$ 23 bilhões. As informações sobre a posição do ministro na reunião foi divulgada pelo site do G1.

Os outros integrantes do Conselho que participaram da reunião foram: Rui Costa, da Casa Civil; Simone Tebet (Planejamento e Orçamento); Esther Dweck (Gestão e Inovação); Renan Filho (Transportes); e Marina Silva (Meio Ambiente). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que faz parte do CNPE, não compareceu.

A situação sobre a continuidade ou paralisação de um dos maiores projetos do país se arrasta desde a década de 80, quando as obras de Angra 3 foram paralisadas. Detalhe: o governo precisa desembolsar valores bilionários em qualquer caminho que resolva seguir. O custo para concluir ou parar o programa nuclear tem cifras similares.

Um estudo feito pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) apontou que o governo federal precisa desembolsar R$ 21 bilhões. O montante seria praticamente o mesmo de se concluir o empreendimento, entretanto sem gerar energia elétrica. A expectativa é que a usina entre em operação comercial em 2031.

Proposta da tarifa

A tarifa proposta no estudo está estimada em R$653,31 por megawatt-hora (MWh). Esse valor é similar à tarifa de referência definida pelo CNPE em 2018 (R$480,00, em valores da época, que atualmente correspondem a R$639,00). Já o custo para finalizar a construção de Angra 3 foi avaliado em torno de R$23 bilhões. O montante já investido na obra é de quase R$12 bilhões.

O valor da tarifa é inferior ao custo de diversas outras térmicas, medidas pelos chamados Custos Variáveis Unitários (CVU). Com efeito, a média dos CVUs das usinas térmicas do subsistema Sudeste corresponde a R$665,00/MWh, conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) de agosto de 2024.

O estudo identificou também que cerca de R$ 800 milhões em equipamentos de Angra 3 foram utilizados por Angra 2. Da mesma forma, entre R$500 milhões a R$600 milhões em combustível nuclear foram utilizados pela segunda usina brasileira, e tinham sido inicialmente comprados para a terceira. Por isso, aproximadamente R$ 1,4 bilhão será reembolsado pelo próprio caixa de Angra 2. Tal fato impacta positivamente a competitividade tarifária de Angra 3.

O documento aponta ainda que qualquer resultado financeiro positivo identificado futuramente, e incentivos tributários do setor, como o Renuclear - que tramita na Câmara dos Deputados -, poderão ser usados para beneficiar os custos da usina a ser construída.

Sobre Angra 3

A terceira usina nuclear brasileira terá potência de 1.405 megawatts, sendo capaz de produzir cerca de 12 milhões de MWh anuais. Com a conclusão de Angra 3, a Central Nuclear de Angra passará a gerar o equivalente a 70% do consumo do estado do Rio de Janeiro. O empreendimento apresenta, no momento, um progresso físico global de 66%. A geração da unidade será suficiente para atender 4,5 milhões de habitantes.

Angra 3 também terá importante papel na diversificação da matriz elétrica e reduzir os custos totais do Sistema Interligado Nacional (SIN), na medida em que substituirá a energia gerada por usinas térmicas que apresentam alto custo de geração e são frequentemente despachadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Destaca-se ainda o papel de gerar energia limpa, pois usinas nucleares não emitem gases responsáveis pelo efeito estufa. Por exemplo, uma usina a carvão emite 820 g/kWh de CO2, podendo chegar ao dobro dependendo da planta. Em contrapartida, uma usina nuclear emite apenas 12g/kWh.

Fazendo uma comparação, Angra 1 e 2 juntas, gerando 14,5 bilhões de kWh em um ano, emitem 174 mil toneladas de CO2 no período. Uma usina a carvão com a mesma produção emite 11,9 milhões de toneladas do gás poluente.

Ou seja, uma usina a carvão geraria, neste contexto, 11.729.000 toneladas de CO2 a mais. Seria necessário plantar 586 milhões de árvores para compensar o dano, cerca de um milhão de hectares. Essa diferença, acumulada durante 25 anos, seria equivalente a toda área do estado de São Paulo.

Próxima aos centros de consumo

Outro ponto relevante é sua proximidade aos principais centros de consumo do país, o que contribuirá para minimizar as perdas por transmissão de energia. Menos um peso na conta do contribuinte. A construção da unidade também é fundamental para dar escala a toda a cadeia produtiva do setor nuclear brasileiro, da produção de combustível à geração de energia.

Além de ficar perto dos consumidores, as usinas nucleares têm a vantagem de ocupar pouco espaço. Para se ter uma ideia, o espaço dedicado à Angra 3 é de 0,08 km². Dentro do estádio do Maracanã, cabem duas usinas do tamanho de Angra 3, e ainda sobra espaço. Uma usina fotovoltáica (energia solar) ocupa uma área de 40 km², uma hidrelétrica 125 km², e por fim, a eólica 400 km² .

Geração de empregos

O empreendimento representará ainda a criação de cerca de 7 mil empregos diretos, no pico da obra, além de um número muito maior de empregos indiretos.

A grande maioria será contratada na Costa Verde, interior do Estado do Rio, o que será um importante fator para movimentar a economia da região.