Eleito com 108.306 votos válidos no último domingo (27), o novo prefeito de Petrópolis, Hingo Hammes do Partido Progressistas, fez uma campanha que se destacou por ser limpa e honesta, se esquivando de ataques e fake news de adversários, conseguiu entrar para a história da cidade com uma diferença histórica de 71.695 votos à frente do concorrente do PSOL (36.611 votos) no segundo turno. Conhecido pelo perfil de liderança e conciliador, tem uma trajetória política que só cresceu nos últimos anos, com isso, o resultado nas urnas não poderia ser diferente.
Em uma entrevista especial ao jornalista e apresentador Richard Stoltzenburg, no Correio Petropolitano Debate, da TV Correio da Manhã, Hingo falou sobre as prioridades para quando assumir o cargo em 1º de janeiro de 2025, Defesa Civil e política de prevenção de desastres, transporte público e coleta de lixo, estão no topo da lista. Hingo criticou a atual gestão, do prefeito Rubens Bomtempo (PSB), que pela primeira vez na história da cidade, tentou a reeleição e não conseguiu chegar ao segundo turno. A cidade ainda muito fragilizada após as tragédias será um desafio, que Hingo garante que vai agarrar com responsabilidade e transparência com a população.
RS: Quando pegamos a sua trajetória política você já foi Secretário de Esportes, presidente da Liga Petropolitana de Desportos (LPD), vereador - inclusive termina o mandato agora em dezembro. Já passou dentro da sua cabeça que um dia você iria assumir a cadeira do Executivo?
HH: Não era minha previsão. Na verdade, quando me tornei vereador, logo após fui presidente da Câmara Municipal, em 2020 vim candidato a vereador novamente, fui o quarto vereador mais votado da cidade na época, então a gente fez um mandato consolidado. Mas quando fui prefeito interino em 2021, que a gente jurava que seriam três meses apenas, acabou se tornando 11 meses em função do imbróglio jurídico. Isso criou uma série de possibilidades. Costumo brincar com a minha equipe que se eu fosse candidato a vereador, seria arriscado perder a eleição, porque a população pedia para eu fosse candidato a prefeito. 2022 recebi muitas propostas, mas eu respondi que não queria, para me preservar para 2024. Nesses anos, uma série de coisas aconteceram, mas seguimos trabalhando, sereno e falando a verdade sempre. Conseguimos montar uma bancada grande, tem sete partidos conosco, elegemos sete vereadores também. Deu tudo certo, mas de fato eu não tinha essa intenção de virar prefeito, as coisas foram acontecendo naturalmente e obviamente eu não poderia fugir da responsabilidade.
RS: Ainda durante o período de campanha, o adversário utilizou a veiculação de diversas 'fake news', inclusive com a utilização de imagens falsas do jornal Correio Serrano. Foi processado e nesse caso até perdeu na Justiça, foi difícil de alguma forma fazer essa campanha limpa, mesmo recebendo ataques com vídeos e edição que não diziam a verdade?
HH: Não é fácil, a gente sabe o quanto é difícil. Nós mesmos [políticos] acabamos suportando melhor essa pressão. O problema é a família, esposa, filho e pais. Eles realmente sofrem muito com esse tipo de ataque. É muito chato e eu não concordo com isso, ainda mais da forma que foi, de forma velada com foto minha, associando coisa de Nova Iguaçu a mim aqui, são coisas que a gente não concorda. Eu sempre uso uma frase que é: gelo na veia. É colocar gelo na veia e seguir em frente, dessa forma a gente foi, sempre com serenidade, tranquilidade, resiliência, para que a gente pudesse manter a campanha no padrão que estava. Focamos a campanha inteira em apresentar propostas e não poderíamos sair desse objetivo. Importante ressaltar que todas as críticas não eram diretamente para o 'Hingo', eles não tinham nada para falar do 'Hingo', eram sempre de apoiadores, de pessoas no entorno e de possíveis apoiadores. Construíram uma narrativa para de alguma maneira tentar me descredenciar. Mas não deu certo né, ficou comprovado nas urnas, o quanto o povo queria uma mudança com responsabilidade e credibilidade, os votos falam por si só. A gente fica muito orgulhoso, mas, ao mesmo tempo 'pé no chão', com muita humildade, porque vamos precisar trabalhar muito para corresponder essa expectativa.
RS: Tendo em vista que a campanha, de fato, é para ser utilizada justamente para apresentação de propostas, do plano de governo, e obviamente, não o que se tornou comum: falar de determinado candidato passado; isso foi um diferencial durante esse período?
HH: O diferencial acredito que foi manter a calma o tempo inteiro, isso é raro. A gente conseguiu ter serenidade e calma, pensar 'calma, respira, conta de 1 a 11' e vamos embora. Então, foi assim que a gente conduziu, segurando os apoiadores para acreditarem no que você tá dizendo. A cultura da política às vezes pede um tom mais agressivo, eu sempre tentando controlar o time como um todo, quantas vezes liguei e pedi para retirar postagens, pois é algo que não acredito de fato. Só gera ira do outro lado e não te dá benefício nenhum. Hoje a gente pode bater no peito e dizer que deu certo. A estratégia do bem, de manter a serenidade deu certo e a recompensa veio no resultado da eleição.
RS: Falando agora com essa questão de renovação, seu nome apareceu em determinadas pesquisas como nome provável a candidatos à Prefeitura de Petrópolis, mesmo ainda não estando filiado a algum partido específico ou não tendo assumido isso publicamente. Você acredita que isso representa um pouco de renovação dentro da política petropolitana e da visão dos eleitores para a cidade?
HH: Representa e obviamente o que fizemos em 2021 deixou o 'gostinho de quero mais'. A população pedia muito que eu fosse candidato a prefeito. Desde 2019, as pesquisas já me apontavam na liderança mesmo eu não deixando claro que seria candidato ainda, estava naquela construção, e a gente apontava como forte candidato à Prefeitura de Petrópolis. Com muito trabalho e desempenho as coisas foram avançando, ganhando corpo saltamos de 14% das intenções de voto para chegar no primeiro turno com 49%. É gratificante demais ver o quanto evoluiu, quanto a nossa equipe amadureceu também e tenho certeza que a gente vai retribuir o povo de Petrópolis.
RS: Sobre essa relação com o Governo do Estado e Federal, o governador Cláudio Castro fez a indicação também do vice-prefeito Albano Baninho, um político já experiente de 'cabelos brancos'. Já atuou inclusive aqui em Petrópolis, como você vê também a importância dele dentro da chapa?
HH: Nessa composição a gente entendeu que o PL - Partido Liberal - teria o vice, que era o cenário que o governador queria também e entendemos que era importante. Nessa articulação o governador teria a honra de indicar o vice para a cidade e indicou o Baninho. Foi quatro vezes vereador e vice-prefeito da cidade também. Tinha um desgaste natural pelo último governo que ele participou, a gente sabia disso, ninguém aqui tá escondendo nada. A gente entendeu que a pessoa do Baninho, também ninguém não tem nada para falar dele. Um cara coerente que tem muitos mandatos e nunca se teve nada para falar dele. Mantemos a campanha da maneira que a gente acreditava, Baninho é um cara que não fala mal de ninguém, super tranquilo. Conseguimos expandir, dividimos as pautas, cada um ia para um bairro e uma localidade e isso fez a campanha crescer também e o resultado final foi muito positivo. Tem o Baninho com um pouco mais de 'cabelo branco', eu estou começando agora. Essa tabelinha, essa mescla, de juventude com um pouco mais de experiência vai contribuir muito para ter um mandato de sucesso.
RS: O senhor é vereador, tem mandato até o fim de dezembro e já acompanha o dia a dia da cidade, juntamente com as fiscalizações, requerimentos e audiências. Como você espera receber a Prefeitura de Petrópolis? Estar como vereador e ter passado por esse processo de assumir a prefeitura de forma repentina de alguma forma agiliza o processo?
HH: O cenário muda naturalmente, é outra gestão, outras informações, outros números. Isso tudo muda, mas o básico e a estrutura são as mesmas. Tem a relação da Câmara com a Prefeitura, com os dados. A Fazenda, Defesa Civil, Segurança Pública, Educação, Saúde, entre outros, não mudam, as pastas existem. Enquanto vereador, a gente acompanha esses dados, a diferença é que agora teremos eles um pouco mais detalhados. Eu acho que vou pegar a Prefeitura pior do que eu deixei, é uma previsão minha. Temos que acompanhar muito de perto o que está sendo deixado. Vamos trabalhar com responsabilidade para avançarmos. Temos questões como a do Hospital Santa Teresa, que foi renovada só até abril de 2025, a questão da insegurança jurídica das empresas de ônibus e a questão da coleta do lixo, que da mesma forma está muito insegura. A gente precisa ajustar isso tudo, para ter o primeiro semestre de 2025 com os assuntos resolvidos.
RS: A Prefeitura tem publicado no Diário Oficial algumas medidas no que diz respeito ao transporte público. Você pretende olhar essas últimas ações da atual gestão para de alguma forma até intervir ou até melhorar o possível documento? Em Petrópolis, como você acabou de citar, tem alguns pontos ainda em aberto e que são uma grande preocupação.
HH: O transporte em especial, sou até presidente da Comissão de Transporte da Câmara Municipal e faço parte do COMUTRAN - Conselho Municipal de Trânsito -, sou muito participativo na pauta. A licitação das empresas de ônibus tem que ser feita até julho do ano que vem, precisamos deixar tudo pronto até lá. A gente acompanha passo a passo essas ações da atual gestão e quem vai executar seremos nós no próximo ano. Então a gente precisa acompanhar de pertinho para dar continuidade com o que estiver bacana e o que tiver que ajustar a gente ajusta para já entrar com o segundo semestre de 2025 com isso resolvido. A questão do lixo da mesma forma, estão com contratos emergenciais ainda, precisamos criar segurança jurídica. Estão vendo de licitar ainda esse ano, caso não seja feito, faremos no início do ano para deixar a cidade mais calma. Emergencial sempre tem um risco para todo mundo. Vamos acompanhar principalmente a questão do transporte, do lixo e principalmente da prevenção a tragédias.
RS: O cemitério municipal está incluído nesse período Hingo?
HH: Aprovamos uma lei em 2021 permitindo a concessão do cemitério, que a gente vê como uma alternativa também, assim como, a criação de um crematório e cemitério vertical, isso tudo é possível ser feito. Inclusive, iniciamos esse trabalho em 2021, mas não é a nossa maior prioridade, é realmente o transporte, o lixo e a prevenção a tragédias, que é a nossa primeira pauta para o primeiro semestre. O cemitério vai correndo em paralelo, para que a gente possa executar também essa concessão, entendendo que o município precisa. Hoje temos sete cemitérios em Petrópolis. Rodei muitos municípios vizinhos com casos de sucesso e a gente precisa implementar aqui em Petrópolis também.
RS: Aproveitando esse assunto das tragédias. Assumindo em janeiro, já está no período das fortes chuvas. Você já pensa em articular equipes da Defesa Civil, como está esse processo? Sei que a gente acabou de sair da eleição, mas o período de chuva já começa a partir de novembro e segue até o fim de março.
HH: Como eu disse, é a nossa prioridade. Acompanhar de perto o que o atual governo está fazendo quanto a prevenção de tragédias e ver o que podemos melhorar a partir do dia 1º de janeiro. Obviamente, a nossa equipe de transição vai acompanhar de perto, temos pessoas que entendem do assunto, de toda essa construção, técnicos da área. Agora vamos estreitar essa relação, naturalmente. A Defesa Civil é uma parte muito técnica, por mais que tenha o cunho político, você tem uma gestão muito técnica, então é fácil fazer esse acompanhamento de perto. O nosso maior desafio é criar essa política de prevenção, para que a gente possa ter isso com naturalidade nos próximos anos, esse é o nosso objetivo e vamos criar pode ter certeza.
RS: A alta temporada turística começa em dezembro, inclusive Petrópolis tem até o próprio Natal Imperial. Mas o setor em Petrópolis está fragilizado, por conta da própria questão das tragédias, o que você pretende fazer para fomentar o turismo?
HH: Nós temos que ter nosso Natal Imperial, que já é tradicional, para que possamos ampliá-lo no próximo ano. O atual governo não fez um natal que a gente esperava. Em 2022 foi razoável, em 2023 foi ruim e em 2024 não sabemos ainda o que será feito. Acredito que não ter o evento é muito ruim pra cidade, porque perde esse conteúdo e terá que ser resgatado tudo do 'zero', então se tiver esse ano já facilita. A cidade tem que ser boa para o turista e para o petropolitano também. O turismo gera emprego e renda para a cidade. Na nossa gestão teremos Bauernfest, festa escolares, Bunka-Sai, Serra Serata, Natal Imperial, são eventos tradicionais da nossa cidade e que já estão no nosso calendário oficial. Terão nossa atenção para que possamos resgatar a autoestima da cidade, de ter turistas aqui e fazer nossa economia mais pujante.
RS: O ministro do turismo do Brasil, Celso Sabino, já afirmou que apoiará a promoção de Petrópolis como a única cidade imperial brasileira e que vai dar apoio a sua gestão como prefeito. Inclusive aguarda uma visita sua a Brasília. Pretende visitar a capital federal? E esse apoio é importante?
HH: Só não vou morar em Brasília, porque eu não moro em outra cidade. Mas vou muito a Brasília, inclusive vou essa semana dois dias para Brasília, já temos agendas preparadas para essa semana. Já fiz algumas ligações pedindo emenda para a Saúde. Depois terei novidades provavelmente, vou ter informações que vou poder passar para a população. Obviamente em novembro, ou dezembro, no máximo, estarei em Brasília novamente para terminar de amarrar todos esses assuntos. Em janeiro não poderemos sair da cidade, pois é um período muito crítico, estaremos no primeiro mês de governo, então nossa ideia é não sair. A gente vai manter esse relacionamento com Brasília anual, porque é lá que as coisas acontecem, lá que o dinheiro faz chegar aqui no município. Todos os PACs que o atual governo anunciou, mas sem muita informação. A gente precisa se inteirar mais disso também. Teremos novidades em breve.