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Estudo lista hábitos que ajudam prevenir demência

Pesquisadores da Universidade do Mississipi observaram mais de 11 mil voluntários por 26 anos | Foto: Jiun-Jelin/ Divulgação

Um novo estudo publicado no periódico da Academia Americana de Neurologia trouxe dados animadores sobre a prevenção de demência, doença que afeta hoje mais de 1 milhão de brasileiros, de acordo com a Associação do Alzheimer.

Após acompanhar 11.561 voluntários por 26 anos, os cientistas da Universidade do Mississipi, nos Estados Unidos, concluíram que cultivar sete hábitos de vida saudável diminui o risco de desenvolver essa síndrome cognitiva. O grande achado é que isso vale também para pessoas com predisposição genética à demência.

"Esse estudo reforça vários outros que já foram apresentados sobre uma série de fatores ambientais que conseguem modificar a possibilidade da enfermidade ou pelo menos postergar em quem tem predisposição genética", afirma o neurologista Adalberto Studart Neto, membro da ABNeuro (Academia Brasileira de Neurologia).

A pesquisa foi realizada com base nos sete fatores de saúde cardíaca e cerebral definidos pela Associação Americana do Coração: ser fisicamente ativo, ter uma alimentação balanceada, não estar acima do peso, não fumar, manter uma pressão arterial saudável, controlar o colesterol e diminuir o açúcar no sangue.

Os participantes, que tinham idade média de 54 anos no início da investigação, receberam uma pontuação que levava em conta seus marcadores genéticos e os sete hábitos definidos pela associação.

Ao final do estudo, os autores constataram que aderir a ações positivas para saúde do cérebro e coração foi associada a uma redução de até 43% no risco de desenvolver demências, como Alzheimer e demência senil, mesmo quando a genética está envolvida.

"Estudos já vinham apontando a influência desses fatores de risco em relação à população geral. Quando começamos a refinar esses dados e descobrir que isso vale também para indivíduos em cenários adversos, se mostra a importância do controle desses aspectos", comenta a psiquiatra Valeska Marinho, coordenadora do Centro para Doença de Alzheimer do IPUB/UFRJ (Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

"Quando você adota bons hábitos, pode controlar ou amenizar de forma muito efetiva esse fator genético", complementa o cardiologista Luciano Drager, diretor de Promoção e Pesquisa da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo)

Apesar do desenvolvimento do intelecto sempre ser lembrado como uma forma de evitar as síndromes cognitivas, a saúde cardiovascular é decisiva para quem quer postergar o aparecimento desse problema.

Drager explica que hipertensão, colesterol alto e diabetes são condições capazes de lesionar os neurônios.

"Eles são muito sensíveis. Quando você tem uma redução de irrigação dos vasos para o cérebro, isso ativa uma série de mecanismos de inflamação e estresse que acabam contribuindo para diminuir o suprimento de oxigênio e lesionar os neurônios. Ao longo do tempo, isso leva à perda dessas células", relata. O especialista da Socesp alerta que esse processo acontece mesmo na ausência de um derrame, de forma lenta e progressiva, o que afeta a cognição.

O neurologista Adalberto Neto lembra que problemas cardiovasculares afetam de forma direta o funcionamento do cérebro. Um exemplo é a doença dos pequenos vasos, causada principalmente por hipertensão e diabetes.

"A pessoa sofre pequenos acidentes vasculares cerebrais isquêmicos, que são silenciosos, mas que ao longo do tempo vão se acumulando e levam à demência", explica o especialista.

Uma pesquisa realizada Finlândia e publicada no The Lancet mostrou a influência desses fatores na prevenção da síndrome. Os cientistas acompanharam por dois anos um grupo de 2.000 idosos, com idade média de 69 anos. A turma que recebeu treinos de memória, praticou exercícios, mudou a alimentação e teve a saúde cardíaca acompanhada por especialistas apresentou uma taxa menor de demência.

O neurologista conta que um trabalho dentro dos mesmos moldes será realizado em nove países da América Latina, incluindo o Brasil, para entender o efeito desses hábitos na população do nosso continente. Aqui, ele está sendo conduzido pelo Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), onde Neto atua. Quem deseja participar, pode se inscrever por email.

"Nas últimas décadas, os estudos têm demonstrado o poder da atividade física regular no adulto de meia idade e no idoso, em parte porque ajuda a controlar os fatores de risco, mas também por gerar um melhor metabolismo do cérebro", afirma o membro da ABNeuro

Por Maria Tereza Santos (Folhapress)