Nos últimos anos, a popularidade dos jogos de azar tem crescido exponencialmente. Com a facilidade de acesso através de celulares e computadores, essas plataformas têm transformado a forma como as pessoas se envolvem com o jogo. No entanto, enquanto muitos veem essas novas formas de entretenimento como uma forma emocionante de diversão, há preocupações crescentes sobre o impacto que essa acessibilidade pode gerar na vida e na saúde das pessoas.
Ainda que a lei que regulamenta as apostas on-line tenha sido sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda há pedidos por uma maior atenção ao tema. Como mostra Fernando Molica na coluna Correio Bastidores, o governo estuda limitar a publicidade desse tipo de apostas. Por outro lado, há uima expectativa grande de arrecadação a partir da regulamentação desses e outros jogos. Na reforma tributária, há estudos para que os jogos compensem, por exemplo, isenções que foram criadas, como a inclusão da carne e outras proteínas na cesta básica.
O psiquiatra Fabio Leite explicou que os jogos de azar sempre existiram. Em determinado, miraram muito a teceira idade. Mas, agora, com as facilidades da internet, também o público jovem vem sendo atingindo, aumentando exponencialmente os riscos.
“Nós já tivemos uma época em que as pessoas faziam apostas nos famosos bingos, e tinha muita gente da terceira idade que ia pra socializar. Como hoje há uma massificação de uso de rede social, o público mudou um pouco, tornou-se mais jovem, até porque boa parte das apostas também foi relacionada a jogos de futebol e modalidades esportivas. E o jovem hoje também tem uma ideia de que é ganhar dinheiro sem esforço, sem precisar estudar, sem precisar trabalhar. Então, eles acham que apostar é uma forma mais fácil e mais rápida de conseguir recursos”, iniciou o psiquiatra.
Suicídio
Os riscos, porém, sao muito grandes, alerta Fábio Leite. Em vez da expectativa da fortuna fácil, o mais provável são dívidas acumuladas pela multiplicação do vício. “Inclusive, atendo uma paciente recentemente que fez uma tentativa de suicídio por conta do jogo”, conta ele. “Ela começou a apostar e acabou se desesperando porque está com R$ 15 mil de dívida e ela nem trabalha. As pessoas vão para a internet, se empogalm com os jogos e isso gera graves problemas de saúde mental”, finalizou.
Tigrinho
A reportagem conversou com uma estudante de 21 anos, que enfrentou problemas psicológicos ocasionados pela utilização do jogo do Tigrinho, um cassino online que promete grandes prêmios. O jogo foi apresentado a ela pelos seus próprios familiares, como um método para se divertir.
A estudante relata como o jogo vai aos poucos enredando a pessoa e viciando. Inicialmente, nas primeiras apostas, é normal ir ganhando. Então, empolgada, a pessoa vai aumentando as apostas até começar a ficar endividada.
“Eu comecei a jogar depositando R$ 20. Então, ganhei R$40. Aumentei a aposta e cheguei a ganhar R$ 200”, contou ela ao Correio da Manhã. “No início, foi assim, e, com o passar do tempo eu ia apostando mais e mais, pois pra mim, na época, era um modo fácil de ganhar dinheiro. Até que comecei a apostar a partir de R$ 200, Fui fazendo empréstimos e empréstimos, fiz vários cartões de crédito sem receber nada em troca. O valor começou a ficar todo perdido”, explicou a estudante, que não quis se identificar.
“Tive crises de ansiedade, pois passava 24 horas pensando em jogar, dormia pensando no jogo e acordava já com o celular na mão apertando o mesmo botão várias e várias vezes. Comecei a me punir por cada perda”, diz a estudante. O passo seguinte foi começar a se mutilar. “Cada perda era um corte no meu braço, na minha perna e assim ia, até que chegou um momento que eu não tinha mais dinheiro e já estava negativada na Serasa. Tentei me matar com remédios e comecei a culpar minha família por ter me apresentado os jogos. Agora estou em tratamento”, contou.
Tratamento
A psicóloga Andrea França afirma que, com a popularização desse jogos na internet, houve um aumento da busca por tratamento. “Ao mesmo tempo, isso gera muita vergonha nessas pessoas, porque elas percebe que não têm mais o autocontrole e só na hora em que a situação está muito grave é que elas pedem ajuda”, explicou.
Procurado pelo Correio da Manhã, o Ministério da Saúde disse que a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) oferece atendimento para pessoas com problemas de saúde mental, incluindo os relacionados ao jogo patológico. “Por intermédio do Ministério da Fazenda, o Ministério da Saúde participa da articulação para a constituição de um Grupo de Trabalho Interministerial que terá como objetivo tratar do jogo patológico”, informou o ministério.