A dúvida sobre o momento certo de iniciar o uso de medicamentos para emagrecer é muito comum entre pessoas com sobrepeso e obesidade. Muitas vezes, a dieta e os exercícios físicos frustram, e apenas a mudança no estilo de vida deixa de ser suficiente para alcançar os resultados desejados.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o momento surge quando o IMC (índice de massa corporal) ultrapassa 30, indicando obesidade. Para pacientes que apresentam outras comorbidades e doenças associadas, como diabetes e hipertensão, a indicação é imediata.
"Esperar para iniciar o tratamento apenas quando exames já indicam alterações pode significar que a obesidade já causou danos consideráveis ao organismo", afirma a endocrinologista Maria Edna Melo, especialista em endocrinologia e metabologia pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e médica assistente do grupo de obesidade e síndrome metabólica da USP (Universidade de São Paulo).
"O tratamento precoce aumenta as chances de evitar que a condição evolua, reduzindo a probabilidade de o paciente desenvolver outras doenças associadas", diz.
No Brasil, mais de 6,7 milhões de pessoas convivem com a obesidade, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Até 2025, o problema deve afetar 700 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Com parte da população em busca do emagrecimento, surge o oportunismo por meio de promessas de perda de peso rápida e fórmulas mágicas. No entanto, o uso desses produtos sem prescrição apresenta riscos e é contraindicado.
"É preciso controlar a ansiedade na hora de perder peso e seguir de forma segura. Se estamos falando de medicamentos, é importante ter acompanhamento profissional", afirma Melo.
Além disso, a médica sugere que o uso de medicamentos seja sempre acompanhado de mudanças no estilo de vida, como dieta e a prática regular de exercícios físicos.
Outro fator a ser levado em consideração no uso de remédios vai além da questão estética. Os medicamentos também ajudam na melhoria da saúde e da qualidade de vida.
É por isso que o termo "medicamentos para emagrecer" é problematizado pela comunidade médica.
O presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) e do departamento de obesidade da SBEM, o endocrinologista Bruno Halpern, defende o uso do termo "remédios antiobesidade".
"Tratar a obesidade vai além de perder peso. Existem evidências de que algumas medicações reduzem o risco cardiovascular, melhoram a apneia do sono, gordura no fígado, e parte desses benefícios pode não estar diretamente relacionada à perda de peso", afirma.
Quais os riscos?
São medicamentos geralmente seguros, com poucos efeitos colaterais graves, mas não devem ser usados indiscriminadamente. O uso deve ser supervisionado por um profissional.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou cinco medicamentos antiobesidade no Brasil: sibutramina, orlistate, bupropiona/naltrexona, liraglutida e semaglutida. Esses medicamentos passam por muitos estudos e são bem monitorados.
Esses remédios não devem ser usados por quem não precisa, como pessoas que já estão no peso adequado ou dentro do IMC recomendado para altura e peso, pois os riscos superam os benefícios, como perda muscular.
Indicações
Os remédios antiobesidade são indicados para pessoas com um IMC acima de 30.
Também é indicado para pessoas com IMC abaixo de 30, mas que tenham comorbidades associadas ao peso, como diabetes, hipertensão e apneia do sono.
Em casos mais graves, com IMC acima de 40, esses medicamentos podem ser utilizados. Porém, procedimentos cirúrgicos são o mais recomendado devido à sua maior eficácia na perda de peso e no tratamento das doenças associadas.
O uso desses remédios deve ser decidido caso a caso, levando em conta as expectativas do paciente e tentativas anteriores de perda de peso.
Os medicamentos não são indicados para pessoas que já são magras, pois podem causar dependência e problemas na manutenção do peso após o término do tratamento.
Quais os tipos?
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou cinco medicamentos antiobesidade no Brasil: sibutramina, orlistate, bupropiona/naltrexona, liraglutida e semaglutida. Esses medicamentos passam por muitos estudos e são monitorados.
O topiramato não é aprovado para o tratamento da obesidade no Brasil, mas é utilizado de forma off-label (fora das indicações da bula) porque é um dos poucos medicamentos mais acessíveis financeiramente, segundo o endocrinologista Bruno Halpern.
Embora ajude a reduzir a vontade de comer doces e controlar compulsões, ele pode causar efeitos colaterais significativos, como problemas de memória, concentração e dormência.
"Nos Estados Unidos, existe uma combinação de fentermina com topiramato em um único comprimido, mas sozinho, o topiramato não é aprovado oficialmente para o tratamento da obesidade em nenhum país", afirma Halpern.
A tirzepatida está ganhando popularidade no Brasil, porque tem um alto nível de eficácia na perda de peso. No entanto, é aprovada apenas para tratar diabetes.
Eficácia
A eficácia inicial é avaliada pela perda de peso. Se o paciente perder menos de 5% do peso corporal em três meses, isso significa que o medicamento é pouco eficaz. Nesses casos, é necessário considerar outra opção.
Além disso, se o medicamento causa efeitos colaterais significativos, pode não valer a pena, mesmo se for eficaz na perda de peso.
"Há também o impacto na qualidade de vida, como a facilidade de uso, custo e a experiência do paciente. Se o paciente está se sentindo bem e a perda de peso está alinhada com suas expectativas, isso é considerado um sucesso", explica Halpern.
Se parar, ganho peso?
Sim. O corpo tende a retornar ao peso máximo anterior e a interrupção do medicamento pode levar ao aumento de gordura em relação ao músculo.
Além disso, o peso alcançado com o medicamento não se mantém sem mudanças de estilo de vida, como dieta e exercícios, e intervenções psicológicas.
O tratamento para obesidade é crônico e deve ser acompanhado por mudanças duradouras na dieta e no exercício físico.
Por Vitor Hugo Batista (Folhapress)