Filhos de homens diabéticos do tipo 1 têm risco duas vezes maior de ter a condição do que os descendentes de mulheres com diabetes tipo 1. A constatação é de um estudo publicado na revista The Lancet em outubro de 2023.
O estudo é uma revisão de pesquisas anteriores sobre as diferentes taxas de transmissão de diabetes tipo 1 de homens e mulheres diabéticos para seus filhos. Segundo a publicação, as razões para essa diferença na transmissão não foram explicadas ainda e mais estudos são necessários para comprovar as hipóteses para a diferença.
O diabetes tipo 1 é a deficiência na produção de insulina que acontece quando o sistema imunológico combate as células do pâncreas que produzem o hormônio. Ele é responsável por regular a quantidade de glicose no sangue.
Segundo o estudo, a doença autoimune é uma combinação de susceptibilidade genética e fatores ambientais. Para os filhos de pessoas portadoras de diabetes tipo 1, o risco de desenvolver a doença é de 8 a 15 vezes maior quando comparado com a população geral.
O artigo afirma que as demais pesquisas apoiam a hipótese de que a condição materna oferece uma relativa proteção contra o desenvolvimento de diabetes tipo 1 nos filhos. A proteção oferecida pela mãe diabética é relativa porque seus filhos ainda têm um risco maior de desenvolver a doença do os filhos de quem não têm a condição.
Porém, o estudo indica que não foram encontradas evidências de que a proteção materna contra a doença concedida ao bebê tenha relação com a base genética. Assim, as hipóteses que expliquem o risco menor de filhos de mães diabéticas desenvolverem a doença são em torno de fatores ambientais.
Uma das suposições é relacionada com a transferência de anticorpos contra infecções virais. Elas podem ser um um gatilho chave para o desenvolvimento do diabetes tipo 1. Pequisas relacionam a prevalência do diabetes tipo 1 com a infecção por enterovírus.
Segundo o artigo, se a infecção por enterovírus for um gatilho para o diabetes tipo 1, seria de se esperar que muitas mulheres com diabetes tipo 1 se infectaram anteriormente e, portanto, tenham anticorpos contra o patógeno. Por meio da placenta, pode ser que as mulheres transfiram essa imunidade aos bebês.
Pesquisas em camundongos mostraram que, quando a mãe se infecta com enterovírus e, na gravidez, consequentemente, transmite os anticorpos para seus filhos, o risco de diabetes induzido por vírus diminui. O artigo afirma que ainda são necessários estudos para entender se nos seres humanos ocorre a mesma coisa.
Outra hipótese que também envolve a transferência de anticorpos via placenta é em relação aos autoanticorpos que atacam o pâncreas. Eles foram encontrados no sangue do cordão umbilical e, na maioria dos casos, são eliminados pelo corpo da criança em cerca de nove meses após o nascimento. Em camundongos, a transmissão materna de autoanticorpos contra as células do pâncreas, seguida pela sua eliminação, previne o diabetes.
Segundo o estudo, os mecanismos pelos quais a transferência de autoanticorpos influencia o risco de diabetes tipo 1 são desconhecidos. Porém, a hipótese é de que a exposição precoce aos autoanticorpos que atacam as células do pâncreas levariam à eliminação mais eficiente de clones dessas células posteriormente.
O estudo ressalta que são necessárias mais pesquisas para responder com precisão as possibilidades levantadas.
Informações de Juliana Matias (Folhapress)