Por:

Agro cresce, mas luta para reter nova geração

Em 2012, cerca de 2,8 milhões de jovens trabalhavam no setor do agronegócio | Foto: CNA/Wenderson Araujo/Trilux

O agronegócio tenta, mas não consegue atrair nem reter trabalhadores jovens em número suficiente. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam, nos últimos 12 anos, queda da participação de pessoas na faixa de 18 a 29 anos em quase todas as categorias que compõem o setor exceto em ocupações classificadas como técnicas.

O quadro se aprofunda na agricultura familiar, que representa 77% dos estabelecimentos agrícolas do país.

De acordo com dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) analisados pela reportagem com o recorte de idade, 2,8 milhões de jovens trabalhavam no setor em 2012, enquanto as faixas etárias acima totalizavam 8,8 milhões.

Em 2023, o total de pessoas de 18 a 29 anos caiu 13%, chegando a 2,4 milhões, enquanto o resto do setor aumentou 12,7% (9,9 milhões).

"Esse problema começa já na base, ou seja, com vagas abertas para estágio. Quando o candidato sabe que a posição é para uma empresa do agro, já há uma desistência", afirma Ricardo Nicodemos, presidente da ABMRA (Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro).

Há uma dificuldade de comunicação do mercado, que não consegue mostrar o potencial de oportunidades, acrescenta ele.

Além disso, diz Nicodemos, há dificuldade para encontrar mão de obra qualificada. "No intervalo de 2021 a 2023, o setor estima que foram geradas 178,8 mil oportunidades, mas apenas 32,5 mil profissionais estavam preparados para ocupar as vagas."

Coordenador técnico da diretoria de educação profissional e promoção social do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Gabriel Sakita lida com projetos voltados à capacitação de profissionais. "Atendemos 1 milhão de pessoas anualmente, e esse número só cresce. Mas não é suficiente para atender a demanda do setor."

Ele relata que, em 2023, houve uma inversão na procura e oferta de cursos. Os alunos preferiram aulas de operação de drones a formação em manejo de tratores e veículos similares. São 5.269 drones voltados à agricultura em operação no Brasil, de acordo com levantamento mais recente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Há dois anos, eram 1.109.

Nessa linha, o Ministério do Desenvolvimento Agrário tem o Programa de Formação em Assistência Técnica e Extensão Rural para Assentamentos de Reforma Agrária (ProforEXT), em parceria com 16 universidades.

A iniciativa envolve estudantes e professores na capacitação de membros de assentamentos, onde a maioria é jovem. O objetivo é atingir, em média, 240 famílias por ano.

A reportagem visitou o oeste do Paraná, para acompanhar um dia do projeto. Os produtores aprendiam a podar limoeiros.

"Tenho muitos amigos que falam quando terminar o ensino médio, vou vazar daqui. Eu, não. Eu gosto do campo", diz Lucas Eduardo Quadros, assentado de 17 anos, participante da iniciativa. "Foi uma bênção esse povo [do projeto] ter me encontrado, me dado oportunidade."

"Vejo muitos pequenos proprietários cujos filhos não querem voltar para assumir o negócio, porque não é tão lucrativo", diz Otavio Balsadi, pesquisador da Embrapa.

"Ele vai vendo as pessoas ao seu redor com o mesmo problema, vendendo [as terras], e decide fazer o mesmo. No fim, agrava-se a concentração de terra, que já é grande no Brasil", continua.

Levantamento da Fundação Dom Cabral com gestores em todo o território nacional mostrou que mais de 80% dos empreendimentos rurais são comandados pelos fundadores (41%) ou pela segunda geração (41%).

Apenas 16% fazem parte da terceira geração e só 1% são da quarta em diante.

Outro estudo de caso, feito em 2020 por pesquisadores da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mostrou que 61% dos proprietários não estão prontos para a sucessão.

Na contramão, houve aumento de jovens atuando como "técnicos da produção agropecuária", segundo nomenclatura da CBO (Classificação Brasileira de Ocupações, usada pelo IBGE para agrupar diversas funções). Em 2012, eram 118 mil, contra 163 mil em 2024.

Informações de Diego Alejandro, Marcelo Pessini e Vitor Hugo Batista (Folhapress)