Quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, anunciou na última quinta-feira (16) que a Corte a partir de agora tinha um novo fotógrafo no plenário, o profissional, envergando a tradicional capa preta que a tradição obriga naquele ambiente, sorriu. E todo o plenário emocionou-se. Naquele momento, Barro só anunciava a contratação de Bruno Moura, o primeiro fotógrafo com síndrome de Down da Suprema Corte. O anúncio foi feito no primeiro dia de trabalho de Bruno no plenário.
A contratação do fotógrafo faz parte de uma parceria entre o STF e a Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (CETEFE) para o programa de inclusão do STF. Além de Bruno, há outras 30 pessoas com deficiência trabalhando em cargos diversos nas áreas de livraria, arquivo e museu.
“Eu gosto bastante de tirar fotos, gosto muito de aprender e estou animado para trabalhar. É a primeira vez que vou trabalhar aqui e ter colegas de trabalho”, diz Bruno. Ele trabalha com apoio e orientação do fotógrafo Antonio Augusto, que faz parte da equipe do STF. Ao contratar Bruno e outras pessoas com deficiência, o STF declara que valoriza a iniciativa do programa de inclusão e que ela é primordial para abrir portas e novas oportunidades para o grupo.
"No primeiro momento, a equipe começou a ambientação dentro do próprio tribunal e a apresentar a fotografia para ele, os equipamentos profissionais. Ele nunca tinha tido contato com fotografia antes e tem se mostrado muito feliz. Ele fala que está emocionado de estar aqui. Foi muito positivo ter ele na equipe", relata Antonio Augusto.
Com apoio
Bruno trabalha sob supervisão da equipe fotográfica do STF, mas também com apoio psicológico. Ele é atendido pela psicóloga Mariana Mourão. que o acompanha nas atividades profissionais no Tribunal. Mariana explica que esse suporte é necessário para encorajar Bruno dentro do ambiente de trabalho.
"O Bruno tem feito fotografias bem diferenciadas do STF, treinando o olhar para ter esse cuidado de fazer a fotografia com a cara dele. Está sendo um momento muito importante, porque é um desafio muito grande na empregabilidade de pessoas com deficiência. Então, o Bruno está aqui para provar que é possível essa inclusão", diz a psicóloga.
Mariana diz que esta ação da empregabilidade inclusiva dentro do STF é um grande passo para a comunidade PCD (Pessoas Com Deficiência). A inclusão realizada e ofertada pelo tribunal se mostrou uma ação afirmativa muito positiva diante da luta dos direitos das pessoas com deficiência. Outros psicólogos também fazem parte da equipe de apoio às pessoas com deficiência empregadas no STF.
Sobre inclusão
Conhecido também como trissomia do cromossomo 21, a Síndrome de Down não é uma doença. Ela é considerada uma condição inerente à pessoa e não possui nenhuma forma de cura ou tratamento que minimize as diferenças causadas pela condição. Os demais indivíduos da espécie humana têm 46 cromossomos, divididos em 23 pares. Quem tem Síndrome de Down possui 47 cromossomos. No par 21, em vez de dois, têm três cromossomos.
Atualmente, o Brasil possui uma população de 350 mil pessoas com a síndrome, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O neuropsicopedagogo Mário César explica que a introdução de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é mais do que necessário, ainda mais em instituições de grande renome, como o STF. “Este grupo precisa enxergar e entender que eles não são incapazes ou inferiores. Com o devido suporte e orientação, eles conseguem exercer funções tão bem, ou até melhor, do que pessoas comuns. Ter uma deficiência não torna as pessoas menos competentes dentro do trabalho”.
Mário ainda acrescenta que quanto mais oportunidades como esta acontecerem, melhor. Ele explica que entrou no grupo de informações da Secretaria da Pessoa com Deficiência do DF para vagas de emprego e se surpreendeu negativamente com o tipo de trabalho ofertado.
“São anunciadas apenas vagas de trabalho braçal, de trabalho manual que é considerado inaceitável para pessoas comuns ou pessoas que tenham ensino superior. Passei mais de seis meses acompanhando o grupo e nenhuma vaga de emprego de outra natureza foi direcionada às pessoas com deficiência do grupo. Esse é o retrato deplorável do mercado de trabalho para pessoas PCD”, lamenta o profissional.