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Museu no interior do Rio abriga acervo do mundo inteiro

Museu com paredes medievais abriga obras de artes e recebe estudantes no interior do Estado do Rio | Foto: Lanna Silveira

Por Lanna Silveira

Mesmo aqueles com um imaginário fértil não imaginam que, no alto do bairro Santa Rosa, em Barra Mansa, no sul do Estado do Rio, existe um Museu Multitemático criado por um amante das artes desde os 10 anos: o médico Francis Bullos. Ele escolheu o espaço da própria casa, com muros e paredes que lembram um castelo, para abrigar o seu acervo com peças vindas de todas as partes do mundo. Pinturas que vão de Picasso a Salvador Dalí, além de obras de arte sacra e tantas outras de relevância histórica e social. Sem contar com uma biblioteca que abriga nada menos do que 31 mil volumes de livros com os mais variados temas.

Todos os pertences do museu estão devidamente catalogados; entretanto, Bullos não é capaz de dizer com exatidão qual é o tamanho do acervo do museu. Uma coisa é certa: são milhares de peças e apenas 30% de sua coleção está exposta no museu, com o restante armazenado em um depósito. Como o número de visitantes ainda é tímido, não há necessidade de fazer a substituição periódica das obras expostas, exceto em casos de visitas feitas pontualmente em datas históricas. Nessas ocasiões, os objetos são selecionados para permitir uma reflexão sobre a data.

Atualmente, as visitações só podem ser feitas por agendamento e são direcionadas especialmente a escolas e universidades da região do Médio Paraíba, no Estado do Rio de Janeiro. Francis explica que o foco da iniciativa sempre foi a apresentação da cultura às crianças, considerando que ele acha de extrema importância que haja oportunidades para conferir peças históricas sem precisar se deslocar para outras cidades do Brasil.

"(Inicialmente) eu não pensei nos adultos; pensei nas crianças que pudessem chegar aqui querendo ser engenheiras, médicas ou advogadas, e sair daqui com novos objetivos por influência do museu", afirma, enfatizando que os alunos adoram as visitas e "não querem sair do museu".

O museu está passando por uma repaginação desde outubro do ano passado e aguarda a chegada de dois móveis para ser reaberto. As explicações sobre as peças estão sendo incluídas nas paredes do local para que os visitantes consigam entender o significado de cada uma sem a necessidade da apresentação de Bullos.

Embora o museu não seja aberto à visitação pública, há um planejamento para viabilizar o aumento do fluxo de visitantes. A mudança exigiria uma expansão da estrutura do museu, a contratação de novos funcionários, a cobrança de taxa para entrar e a adição de uma loja de conveniência e uma cantina; as duas últimas para seguir as determinações do Sistema Nacional de Museus.

Uma cena
transformada em arte

Francis nutre o hábito de colecionar objetos desde a infância. A princípio, conta ele, juntava moedas e selos presenteados por seu pai, José Bullos, e pelos tios Jorge Bulus e Maximino Pires. Com o passar dos anos, o médico adquiriu novas peças por meio de compras em leilões e antiquários, herança de parentes e doações. A ideia de fundar o museu surgiu após uma visita de Bullos ao Museu de Orsay, na França. Durante o passeio, ele se deparou com uma mãe explicando as obras para seu bebê, que a observava atentamente apesar de não compreender a fala. A cena chamou a atenção de Bullos para a relevância que o consumo de cultura pode ter na vida das pessoas, unindo-se ao apreço que ele o tem pela arte.

Outro fato marcante em sua vida foi o convívio constante com pessoas estrangeiras, de diferentes culturas. De ascendência libanesa, ele cresceu em um lar multicultural, com hábitos diferentes do cotidiano brasileiro, e observou tudo atentamente.

Paredes com
arquitetura medieval

A construção do Museu começou em 2004, com o uso do paralelepípedo presente em sua antiga garagem para erguer as paredes do espaço. O local possui influências da arquitetura medieval, com uma alta torre vista do lado de fora. Apesar de ser um visitante assíduo de museus, Francis garante que nenhum deles inspirou a construção do Museu Multitemático, sendo baseado integralmente em sua própria criatividade.

Toda a manutenção é feita apenas com os recursos financeiros de Francis, que equilibra suas obrigações como guia e administrador do museu com a sua rotina de médico. Ele explica que não aceita nenhum tipo de investimento externo porque gosta de ter autonomia para decidir como tudo funcionará. "Quando você aceita dinheiro público, está se sujeitando a regras públicas", pontua.

Para ele, não teria sentido guardar todos os objetos colecionados e impedir que outras pessoas também tenham acesso ao conhecimento histórico. "O amor que eu tenho pelas peças não é pelo valor financeiro, mas pelo amor à arte. A gente precisa dividir, não pode deixar trancado à sete chaves de forma alguma", conclui.