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Etanol brasileiro para uso como combustível de aviação sustentável

EUA lançam primeira usina com combustível de aviação sustentável e mercado brasileiro poderá ser fornecedor | Foto: Divulgação

Por Guilherme Cosenza

O Etanol Brasileiro está prestes a se transformar no mais almejado do mundo. Isso, exatamente no momento em que os carros elétricos passam a ganhar cada vez mais espaço e os carros convencionais que utilizam combustível começam a entrar em um, por enquanto, "leve" risco em sua produção. Porém, não será exatamente através dos veículos, mas sim dos aviões. Isso porque os Estados Unidos, que acaba de lançar a sua primeira usina de combustível de aviação sustentável que utiliza o etanol na sua base.

Embora os Estados Unidas consiga produzir seu próprio etanol através do milho, os investidores americanos estão interessados em trazer o Etanol brasileiro, vindo da cana-de-açúcar para a produção comercial do combustível. Além da melhor qualidade do produto brasileiro que pode ser explorado em maior quantidade, o fato das maiores usinas brasileiras já estarem certificadas para produzir matéria-prima para o combustível de aviação sustentável (SAF). Através do certificado, essas usinas passam a atender aos padrões internacionais de produção, o que acabou sendo um interessante chamariz para que os americanos olhassem com bons olhos o etanol nacional.

Entre as usinas certificadas, a São Martinho espera ser a primeira a fechar negócio e abastecer os EUA. A empresa conseguiu o certificado de padrão Corsia, que é globalmente aceito e possui o registro da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA). Com isso, a empresa conseguiu começar a sua produção para o meio internacional, como pontuou o presidente da São Martinho, Fabio Venturelli em uma entrevista dada ao site de notícias Bloomberg News. "Chegou a hora de de recebermos o devido reconhecimento pelo nosso trabalho", afirmou Venturelli que explicou que a companhia prevê produzir de 13 a 15 milhões de litros na atual safra da empresa.

Porém, na cola para conquistar os americanos, outras grandes nacionais como a Raízen, BP Bunge Bioenergia e usinas ligadas à Copersucar também possuem o certificado Corsia que só é conseguida a partir de empresas que conseguem provar que a produção é feita com emissões baixas e que não contribuem para o desmatamento. Assim como o EPA exige que a empresa tenha a habilidade de armazenamento e transporte separadamente de outros combustíveis. Entretanto, a grande dúvida é se de fato alguma empresa, ou todas, conseguirão produzir o total exigido de etanol.

A produção mundial de SAF com base no etanol é de cerca de 9 bilhões de litros por ano de biocombustível até 2030, segundo estimativa da Raízen. Esse valor é o equivalente a um terço de toda a produção de etanol do Brasil. Porém, o vice-presidente da Raízen, joint venture entre a Cosan e a Shell, Paulo Neves, a empresa está segura de que conseguirá atender os Estados Unidos sem deixar o Brasil defasado.

Nesse cenário, a usina americana Lanzajet que vem utilizando o milho como base para produção do etanol, pretende continuar usando a obra-prima do país invés de mudar para a cana-de-açúcar brasileira. O CEO da empresa, Jimmy Samartzis explicou que está apenas aguardando que a produção consiga diminuir novamente a intensidade do carbono para voltar a utilizar o material retirado do solo do próprio país. A usina também pretende passar a utilizar o etanol vindo da celulose, por mais que não tenha tanta qualidade do que a que poderá vir com o produto brasileiro.

Porém, muitas outras usinas americanas não possuem esse "patriotismo", o que poderá ser a saída para que as gigantes brasileiras certificadas possam aproveitar. Mas há também uma necessidade de evolução das usinas brasileiras, principalmente pela questão do transporte da matéria-prima. A grande maioria é feita hoje através do transporte por caminhões, ou seja, mais emissão de gás carbônico. O país possui alguns dutos de etanol, mas não são muitos e não chegam ao principal porto brasileiro.