Por: Gabriela Gallo

ONU se reúne para discutir ataque de Irã à Israel

FAB se pôs à disposição para resgatar brasileiros no Oriente Médio | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em meio a tantos conflitos mundiais, mais um foi registrado na lista. Neste sábado (13), o Irã lançou uma onda de drones contra Israel. De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF), foram lançados 300 drones do modelo Shahed-136 (conhecidos como drones “Kamikaze”), além de mísseis contra o país. Neste domingo (14), o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniu em caráter de urgência a pedido de Israel para discutir resoluções quanto aos ataques. Na reunião, o representante de Israel solicitou que a ONU aplique "todas as sanções necessárias" contra o Irã. O país respondeu que agiu de forma legítima ao atacar o território israelense, direcionada apenas a alvos militares. Apesar dos ataques, não foram registradas vítimas fatais em Israel.

Os ataques iranianos se tratavam de uma retaliação após um bombardeio israelense em 1º de abril contra o consulado iraniano em Damasco, na Síria. O ataque matou três comandantes das Guardas Revolucionárias do Irã, dentre eles um comandante sênior. No dia seguinte, em 2 de abril, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, disse que o caso não iria passar em branco.

Ainda neste domingo, o presidente iraniano disse que o ataque foi uma “lição contra o inimigo sionista” e qualquer resposta de Israel ao ataque terá uma resposta pior e “mais dura” de Teerã (capital do Irã).

Mesmo assim, o representante do Gabinete de Guerra israelense, Benny Gantz, afirmou que o Irã pagará na hora certa pelo ataque feito ao país. "Construiremos uma coalizão regional e cobraremos o preço do Irã da maneira e no momento certo para nós", ele declarou em um comunicado oficial.

Também neste domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que os Estados Unidos não irão participar ou contribuir em nenhuma contra-ofensiva israelense contra o Irã. O país não tem interesse em firmar uma guerra com o Irã.

Conflito antigo
Mas antes mesmo das retaliações, o Pesquisador da Universidade de Helsinque, capital a Finlândia, o cientista político Kleber Carrilho explicou à reportagem que o conflito entre os dois países é antigo, desde o nascimento de Israel. “Esse clima de desavenças entre Irã e Israel existe desde que Israel está lá, ou um pouco depois disso. Mas as ameaças foram muito intensas nos anos 1990 do século passado,por exemplo. Então essa história é longa e esses ataques, embora não tenham acontecido com essa dinâmica atual, já tinham acontecido antes”, disse ao Correio da Manhã.

“O ponto é que hoje em dia é muito mais fácil atacar porque existem os drones, muito diferentemente de antigamente quando se mandava aviões tripulados, bombardeiros tripulados, realmente era mais complicado. Então é por isso que ele toma um tamanho muito maior nesse momento”, completou o cientista político.

Brasil
Após o ataque, na noite de sábado o Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou uma nota informando que o governo brasileiro manifesta "grave preocupação" com relatos de envio de drones e mísseis em direção a Israel. A nota ainda diz que ação militar deixou em alerta países vizinhos e exige que a comunidade internacional mobilize esforços para evitar uma escalada no conflito.

Neste domingo (14), em entrevista à GloboNews, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, disse estar “decepcionado” com o posicionamento do Palácio do Itamaraty sobre a situação. “A expectativa é pelo menos ouvir qualquer condenação [do governo brasileiro] para esta coisa, em que aumentou o nível do envolvimento do Irã neste conflito que Israel está envolvido aqui no Oriente Médio. Infelizmente, não ouvimos nenhuma condenação nesta mensagem do Itamaraty. Isso é uma coisa [que nos deixa] um pouco desapontado, a palavra do Itamaraty", criticou o embaixador.

Neste domingo (14), a Força Aérea Brasileira (FAB) emitiu uma nota informando que está de prontidão para resgatar brasileiros que vivem em áreas de conflito no Oriente Médio e necessitem de resgate de volta para o Brasil. “Não somente em relação a missões específicas, mas a quaisquer necessidades, sendo esta prontidão ininterrupta para agir em apoio à sociedade”, informou a nota. Desde o início do conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas, a FAB realizou 13 vôos que trouxeram cerca de 1,5 mil pessoas ao Brasil, sendo brasileiros ou familiares.

Força
Questionado pela reportagem, o cientista político Kleber Carrilho disse que, na realidade, o ataque do Irã fortalece Israel, em especial a imagem do Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que vinha enfrentando diversos protestos para que deixasse o posto.

“Esse ataque é essencial para o Netanyahu, porque faz com que ele, de novo, seja o líder necessário para Israel neste momento. É uma pessoa questionada o tempo todo, mas ao mesmo tempo ele arranja mais um motivo para se mostrar como esse grande líder necessário”, disse Carrilho.

Ele ainda pontuou que o ataque “cria uma possibilidade de Israel continuar com a narrativa de que está se defendendo, e por isso que precisa estar o tempo todo no ataque”. Ele ainda pontuou que o ataque iraniano pode influenciar a atuação de Israel na Faixa de Gaza. “Pode influenciar a guerra com o Hamas, até para Israel poder tomar a decisão final de invadir totalmente o território da faixa de Gaza, mas acho que dificilmente isso se estende de forma definitiva para o West Bank, para o outro lado do território palestino”, afirmou.

Kleber Carrilho chamou a atenção de que o conflito evidencias problemas internos entre os dois países. Além do fortalecimento da figura de Netanyahu, o governo do Irã, busca tirar o foco “das questões complexas que existem internamente e precisando manter essa unidade nacional que eles conseguem manter com muito custo”.

“Afinal, o regime é muito questionado pelos iranianos há muito tempo e movimentos como esse de aparente ameaça internacional podem ser movimentos importantes para quem está no ambiente interno também”, destacou.

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