Por: Gabriela Gallo

O risco do emagrecimento não saudável

Emagrecimento precisa ser saudável e controlado por médico | Foto: Freepik

Em um mundo dominado por redes sociais, filtros e estímulos visuais intensos e constantes, a busca pelo corpo perfeito se torna algo cada vez mais cobiçado. Padrões de beleza estéticos que valorizam corpos magros existem há tempos, mas o incentivo mercadológico para alcançar esse objetivo se torna cada vez maior. E o problema é que em boa parte das vezes não da maneira correta.

Recentemente, estrelas de Hollywood e celebridades brasileiras passaram a consumir remédios voltados para emagrecimento, como Wegovy e, principalmente, Ozempic. Ozempic é o remédio mais popular até o momento, por não precisar de receita médica para ser comercializado.

O principal componente presente no Ozempic é a semaglutida. Os resultados rápidos chamam a atenção já que pacientes que usaram 1mg de Ozempic perdem, em média, de cinco a seis quilos após 10 semanas de uso. O medicamento custa em torno de R$ 1 mil, portanto, apesar de não ser acessível para grande parte da população, pode ser adquirido para quem estiver disposto a pagar.

O uso excessivo do medicamento fez com que a fabricante farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk reforçasse na bula do medicamento para quem, verdadeiramente, o remédio é indicado:

"A Novo Nordisk esclarece que o Ozempic® (semaglutida) é indicado, em conjunto com dieta e exercícios, exclusivamente, para o tratamento de pacientes adultos com diabetes tipo 2 não satisfatoriamente controlada (ou seja, quando o nível de açúcar no sangue permanece muito alto).?É importante ressaltar que a companhia não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off label, ou seja, em desacordo com a bula de seus produtos. O Ozempic®, aprovado e comercializado no Brasil para diabetes tipo 2, não possui indicação aprovada pelas agências regulatórias nacionais e internacionais para obesidade", afirma a bula.

Consequências

Apesar da semaglutida ter o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), se for consumida sem recomendação médica pode causar problemas. Ao Correio da Manhã, a nutricionista oncológica Olívia Podestá explicou que os principais sintomas imediatos para pessoas que tomam Ozempic são náusea, empachamento – que é a sensação de estufamento ou inchaço no abdome que geralmente ocorre após uma refeição, um pouco de anorexia, já que a pessoa não sente fome e fica muitas horas sem se alimentar.

Além disso, a pessoa que toma o medicamento ainda pode ter plenitude na sensação de satisfação, ou seja estar satisfeito o tempo todo, diarreia, vômitos, sensação de mal-estar, dor de cabeça, desidratação e, em alguns casos, pedra na vesícula, devido à rápida perda de peso.

“A recomendação é uma vez por semana, mas já vi casos de pessoas usando duas vezes ao dia a medicação ou até mais de uma vez durante a semana, o que é totalmente não recomendado”, relatou à reportagem.

Inconsequente

A nutricionista classificou “inconsequente” a divulgação do medicamento por celebridades. “São pessoas públicas que atingem um grande número de pessoas e todo mundo vê essa ‘evolução’, essa perda de peso que é um desejo da maioria da população. Saíram os dados agora do Vigitel [ Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, do Ministério da Saúde], mostrando que 60% dos brasileiros estão obesos. Então, ver pessoas públicas perdendo peso é tudo que todo mundo quer, todo mundo quer uma mágica”, criticou Podestá.

A nutricionista ainda destacou que é muito comum pessoas que consomem o medicamento emagrecerem, mas quando param, engordam tudo de novo e podem até engordar mais do que antes. “Não adianta você ter perda de peso sem reeducação alimentar, sem mudança de estilo de vida, sem exercício físico. É muito importante que se tenha um acompanhamento e uma mudança efetivamente no estilo de vida. Porque só está se apagando o fogo: a pessoa emagrece, fica magra um mês, dois meses, e depois faz todo o reganho porque você não educou o seu corpo a comer da forma certa”, disse.

Segundo a nutricionista, a obesidade é uma doença multifatorial que também está ligada ao psicológico da pessoa, a forma como ela se relaciona com a alimentação e com o sedentarismo.

Qualidade de vida

Apesar de ser um caminho difícil, para a nutricionista a principal maneira de evitar o uso indevido do medicamento é através da educação da população. “É a pessoa entender que não vale a pena gastar mais de R$ 1 mil numa medicação que vai resolver o seu problema de imediato e depois vai voltar à estaca zero. É entender o ambiente em que se vive, entender as pessoas com quem o outro se relaciona, entender as escolhas alimentares e também a forma como a pessoa se relaciona com a comida efetivamente. Então, é muito importante que as pessoas entendam que a perda de peso é um processo muito mais amplo do que uma injeção na barriga”, pontuou.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a definição de qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. E essa qualidade de vida pode ser alcançada com uma alimentação saudável e equilibrada.

Também para a reportagem, a médica paliativista e intensivista Carol Sarmento explicou que a qualidade de vida é um conceito amplo que abrange vários ângulos e cenários. “Ela pode ser medida ao se observar quão frequentemente ficamos doentes, assim como a capacidade e aptidão para cuidar de si, a disposição para fazer as atividades da rotina e do dia a dia e outras”, reforçou.

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