Por: Leandra Lima

Livro infantil reforça a importância da representatividade para as crianças negras

Raffaela inspiração do livro | Foto: Reprodução/ Redes sociais

A escrita é capaz de expressar sentimentos e pensamentos, está presente em diversas linhas artísticas. Por meio dela é possível criar novos universos, realidades, aprimorar as emoções e a sensibilidade perante a vida. A partir dessa percepção a jornalista e escritora petropolitana, Priscila Pires, produziu "Preta de Café", um livro infantil inspirado na sua filha Raffaela cujo objetivo é desmistificar os padrões de beleza imposto pela sociedade durante anos dentro dos contos infantis tradicionais. Nele, a escritora evidencia a beleza de uma menina negra e a coloca como protagonista da história, se tornando uma referência.

"Os contos infantis mais conhecidos por aqui sempre tiveram a menina ou a mulher branca como referência de protagonismo e beleza, para as crianças negras, representatividade nesses espaços é algo relativamente recente. Eu queria que minha filha e meninas como ela pudessem se reconhecer nesse lugar de protagonismo, de potência, de beleza, foi assim que surgiu Preta de Café", disse.

A sinopse do livro registra a personalidade de Preta de Café, que é uma menina com dons muito especiais. Ela nasceu numa família repleta de amor e acolhimento que a ensinou a sentir orgulho de si mesma. Após uma tragédia, Preta precisará aprender a ressignificar a força que tem dentro de si para conseguir ajudar a pessoa que mais ama no mundo.

Priscila conta que o desejo de criar histórias para crianças surgiu por conta de sua filha. "Procurando uma boa história para contar para Raffa, encontrei alguns pequenos livros com contos, como Cinderela, Bela Adormecida, Branca de Neve, que me marcou por ter logo no início, um trecho que descrevia a beleza da personagem, comparando a pele dela com a neve, ok, linda mesmo. Mas existem tantas outras belezas, como a da Raffaela e de tantas outras meninas, então surgiu a Preta de Café, que possui traços físicos e personalidade parecidos com a da minha filha", expressou.

Para a escritora, o livro ressalta a potência, enaltece as belezas e reforça a importância da união da comunidade negra, e das mulheres, além de indagar que é preciso escolher as batalhas para não passar a vida guerreando, e sim acreditando no potencial individual, encorajando as pessoas ao redor, a fazer o mesmo.

Preta de Café oferece ao leitor uma reflexão, sendo um símbolo de representatividade e força, o que ajuda a nutrir nas crianças pretas o sentimento de que são capazes, amados e valorizados. "Acredito que é de extrema importância ensinarmos a real história do nosso povo para nossos filhos e os reflexos dessa história nos dias atuais, para que estejam mais fortalecidos para enfrentar e combater comportamentos racistas quando necessário, mas também é importante que entendam que temos uma longa e poderosa história que antecede os horrores da escravidão e que foi vivida por nossos ancestrais. Torço para que as próximas gerações estejam cada vez mais cientes da sua verdadeira história e cada vez mais potentes para o futuro", ressaltou Priscila.

Os estímulos na infância de crianças negras

Representatividade está ligada diretamente à inclusão e igualdade, garantindo que todos os seres vivos de diferentes origens e culturas, sejam justamente representados. Observando o cenário atual a psicóloga, petropolitana, Keila Braga, especialista na temática racial, fala que o fato de se ver em livros, bonecas e brinquedos ajuda demais no desenvolvimento, principalmente para as crianças negras, pois a infância é um momento crucial para o ser humano. A partir dela é que se desenvolve personalidade, gostos, maneiras de se ver no mundo e principalmente a vivência com pessoas.

Nesse contexto, experienciar o racismo na infância deixa marcas muito profundas, justamente pela maneira como são tratadas. "O racismo tira a possibilidade das crianças e jovens negros de sonhar. É algo que infelizmente caminha com pessoas negras desde o seu nascimento e no desenvolvimento infanto juvenil. A construção da autoestima de crianças negras anda em conjunto com a possibilidade de conhecer as suas raízes. Desde usar o cabelo black até se reconhecer negro", explica a psicóloga.

Para ela, esse cenário pode ser revertido se os mesmos tiverem referências na mídia ou o apoio em casa. "Essa situação pode ser revertida em uma autoafirmação e principalmente em uma visão de que o racismo jamais será culpa nossa e sim de parte da sociedade", afirmou.

 

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