Por: Gabriela Gallo

Março chama atenção para cuidados com a saúde das mulheres

Vacinação é a principal prevenção contra o vírus HPV,que provoca o câncer no colo do útero | Foto: Freepik

Em março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher, no dia 8. E, para focar nos cuidados da saúde da mulher, durante o mês são realizadas as campanhas Março Amarelo e Março Lilás, voltadas para a prevenção e cuidados com a endometriose e o câncer de colo de útero, respectivamente. As doenças necessitam de cuidados, prevenção e tratamento em idas a um ginecologista, já que ambas são complicações causada em pessoas que têm útero.

Endometriose

“A endometriose é uma doença que acontece quando o tecido endometrial, que é o tecido que reveste o útero por dentro, migra pelas trompas e cai na cavidade abdominal. Esse tecido gruda em outros órgãos e começa a se comportar como se estivesse dentro do útero”, explica a ginecologista especialista em Cirurgia Minimamente Invasiva Mariana Rodrigues.

Ela ainda explicou que, quando as mulheres com endometriose estão em seu período menstrual, elas sangram em outros lugares com pequenos focos de hemorragia dentro da cavidade abdominal, e não apenas pela região íntima. Essa hemorragia interna na região abdominal causa dores intensas, que podem ser confundidas com fortes cólicas.

Esse foi o caso da Motion Designer Carla Akemi Tomizawa, que trata da endometriose desde 2019. Ao Correio da Manhã, ela contou que passou dois anos convivendo com a doença, sentindo dores muito intensas no período menstrual. “Acabei demorando para investigar porque sempre me diziam que isso era normal, que era uma cólica e algumas pessoas têm sintomas mais fortes que as outras. Eu passei a tomar um analgésico para cólicas, quase que a todo momento, para não sentir dor. Deu certo no início, mas com o tempo o analgésico não surtia mais efeito e eu comecei a sentir dores antes mesmo de menstruar. Foi quando eu percebi que não era algo normal e devia me queixar disso com a ginecologista”, relatou à reportagem.

E os sintomas eram intensos: “ Minha pressão caía, eu vomitava e quase desmaiava, assim que eu chegava em casa do trabalho. Uma vez, a minha pressão começou a cair no trabalho e eu tive que sair mais cedo porque eu não tinha condições de trabalhar. Eu me sentia muito fraca e indisposta durante esses períodos, mas depois que eu comecei a tratar eu não tive mais queixas de dores e quedas de pressão como sempre ocorria”, contou Carla.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a endometriose afeta cerca de 176 milhões de mulheres em todo o mundo. Só no Brasil, são mais de 7 milhões de mulheres atingidas. Os principais sintomas da doença são cólicas menstruais muito intensas, dor na relação sexual e infertilidade, mas além disso a mulher também pode apresentar distensão abdominal, dor para evacuar no período menstrual, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga e dor para urinar.

Tratamento

Por não ter cura, quanto mais cedo começar o tratamento, melhor. Segundo Mariana Rodrigues, o tratamento é dividido em dois grupos: as mulheres que têm indicação de cirurgia e as pacientes que têm indicação de tratamento clínico. “A cirurgia é indicada para aquelas mulheres que têm doença muito grave, onde existe risco de obstruir o intestino, bexiga, exista cometimento de nervos ou para mulheres que têm dor refratária, e também em alguns casos de infertilidade”, detalha a ginecologista.

O tratamento clínico é baseado no bloqueio hormonal para mulheres que não estão tentando engravidar, dieta específica acompanhada de atividade física, suplementação com fitomedicamentos e vitaminas, além de medicações para controle de dor.

“Escute o seu corpo. Não se deixe levar pelo que as pessoas dizem sobre o período menstrual, porque crescemos vendo muitos normalizarem as dores absurdas. Eu mesma acreditava que quando comecei a ter cólicas fortes eram apenas cólicas, até descobrir a endometriose. Mas hoje, sempre que eu vejo alguém se queixando de dores extremas no período menstrual, eu sempre aconselho a investigar o quanto antes”, aconselha Carla.

A ginecologista reforça que “ter dor intensa não é normal”.

“Aquela mulher que tem cólica no período menstrual, com característica progressiva, ou seja, que cada mês tem intensidade maior, que chega a incapacitá-la de fazer suas atividades diárias, é importante que ela acenda um sinal de alerta e busque ajuda”, reitera a profissional.

Colo do útero

O câncer de colo de útero é desencadeado pelo vírus HPV, uma sigla em inglês para Papilomavírus Humano (Human Papiloma Virus - HPV), transmitido por relação sexual. A ginecologista Mariana Rodrigues alerta que esse tumor exige atenção e cuidados extras, já que esse tipo de câncer só manifesta os sintomas em fase mais avançada. “Em caso mais avançados, a mulher vai apresentar sangramentos na relação sexual, corrimento com cheiro ruim e forte”, ela explica.

Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de colo de útero é o terceiro tipo de tumor mais frequente entre a população feminina no Brasil, ficando atrás apenas do câncer de mama e do colorretal, além do quarto tipo de câncer que mais mata mulheres. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a cada ano entre 2023 e 2025 foram estimados 17.010 casos novos. Isso equivale a uma incidência de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres.

O tratamento varia de acordo com o estágio que a doença avançou. “Se for uma doença restrita ao colo, será feita uma cirurgia ‘conservadora’, preservando o útero naquelas mulheres que não têm prole definida e retirando o útero nas mulheres que tiveram filho. Mas se essa doença tiver característica invasora e for cirúrgica, às vezes a mulher vai fazer o tratamento cirúrgico e associar ou não com a braquiterapia, enfim, o tratamento é de acordo com o estadiamento da doença”, diz a médica.

Vale destacar que o vírus do HPV também pode ser transmitido para homens, que podem desenvolver câncer de pênis, ânus, boca e garganta.

Os principais meios de prevenção são a vacinação contra o HPV e o uso de preservativo em relações sexuais. A vacina contra o vírus do HPV está disponível na rede privada e pública de saúde. Na rede pública, o imunizante está disponível para meninas e meninos de 9 a 14 anos de idade, vítimas de violência sexual, pacientes oncológicos que realizam quimioterapia, homens e mulheres transplantados e pessoas com o vírus do HIV/Aids.

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