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Os aprendizados que Zico quer deixar como legado para as próximas gerações

Apesar do evento só permitir autógrafo no livro, Zico atendeu a todos os pedidos de fotos e autógrafos em camisas, papéis e livros | Foto: Pedro Sobreiro

Por Pedro Sobreiro

Na última quarta-feira (20), a Livraria Travessa do Barrashopping, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, parou para prestigiar Zico, o ídolo máximo do Flamengo, no lançamento de seu novo livro: "O Efeito Zico".

Escrito pelo jornalista e biógrafo Marcos Eduardo Neves, o livro aborda diferentes passagens da vida do Galinho de Quintino nos tempos em que foi jogador, treinador, coordenador, gestor, presidente de clube e até mesmo ministro do Esporte.

Ao CORREIO DA MANHÃ, Marcos Eduardo Neves contou que a ideia dessa abordagem de uma biografia mais 'empresarial' surgiu do próprio Zico, que o procurou para reeditar uma parceria de longa data.

"A ideia [do livro] partiu do próprio Zico. Há mais ou menos cinco anos, ele vem dando palestras sobre liderança. E aí, ele chegou para mim e disse: 'Marcos, você escreveria um livro sobre mim?'. E eu respondi: 'Zico, a gente já fez uns seis ou sete livros juntos. Você quer escrever de novo tudo aquilo que a gente já sabe?'. E ele disse que a pegada seria outra, com foco em como montar equipes, como tornar um ambiente agradável, como lidar com as pessoas. Tudo que angariou em cinco décadas como jogador, ele está tendo a generosidade de não levar com ele para o túmulo. Ele quer perpassar para a humanidade. Ele sabe que colocar esse conhece em um livro, que é perene, e vai ter vida longa, muito maior do que a dele, do que a nossa, como seres humanos, é a melhor forma de deixar esse aprendizado de tantas décadas para todos que quiserem absorver e se um profissional e um cidadão melhor", explicou o autor.

No evento, Zico concedeu uma coletiva para a imprensa, em que falou um pouco mais sobre o que esperar do livro.

"A gente passa por diversos tipos de experiências na vida. E durante a minha caminhada, passei por diversos momentos dentro e fora do campo, não só como jogador, técnico e coisas assim. Fui presidente de sindicato, ministro do Esporte, fui presidente de clube, tenho uma escola de futebol que visita o país inteiro. Então, a gente tem que ficar em dia com tudo que está acontecendo para poder falar com clareza e conhecimento. Nesse trabalho sobre liderança, com o lançamento do livro, tem havido muita demanda de empresas para falar sobre essas vivências. E o livro nada mais é que um apanhado de experiências que eu vivi em todas essas áreas. O futebol, hoje, é uma empresa também, mas na época em que vivi, não eram. Só que as situações eram muito parecidas, e a gente traz exemplos importantes que podem ser benéficos para outras áreas da sociedade", disse. "Não posso dizer de cabeça, mas são muitas experiências no livro. São histórias do período em que fiquei como ministro do Esporte da presidência da República, minha vivência na Itália, o processo todo no Japão... E algumas vivências do dia a dia, envolvendo contratos e tudo mais. Com o passar do tempo, a gente vai ficando velho e as pessoas esquecem o que a gente fez lá atrás, há cinquenta anos, no início da minha carreira, e hoje pensam que foi fácil. A gente teve que ralar muito, passar por situações complicadas e tem também a mais difícil decisão, que é saber quando você vai parar de jogar ou não", completou Zico.

Com a simpatia e humildade de sempre, o eterno Camisa 10 da Gávea atendeu a fãs e torcedores que encheram a Livraria da Travessa. No convite, estava especificado que os clientes que comprassem o livro, teriam direito a "apenas" um autógrafo do Galinho na página, estando proibido o pedido de assinaturas em outros itens. Porém, sabendo de sua idolatria, o craque autografou camisas, fotos, figurinhas e papéis, tirando foto com todos que solicitavam, um verdadeiro show de simpatia e humildade de alguém que reconhece seu tamanho para o mundo do futebol.

Chega a ser surpreendente, que alguém da relevância de Zico tenha essa paciência para passar horas atendendo a fãs numa tarde quente do verão carioca. Porém, para Marcos Eduardo Neves, essa é apenas uma das características que fazem dele um dos maiores personagens que transcendem o esporte.

"Nas biografias, a gente costuma lidar com profissionais que são muitos bons em suas respectivas áreas, e quando a gente fala de alguém como o Zico, a gente está falando de uma personalidade absurda, alguém que transcende o próprio meio esportivo. Não à toa Chefes de Estado querem estar com o Zico, dois Papas pediram para conhecer o Zico, o Papa João Paulo II e o Papa Francisco. Então, você está lidando quase que com um Barack Obama, um Nelson Mandela. Ele é uma personalidade mundial. Lidar com ele em uma biografia é sair de apenas um grande profissional e lidar com um homem que pode estar na Torre Eiffel, na Estátua da Liberdade, que será reconhecido e bem recebido. É uma responsabilidade muito grande, mas acho que consegui entregar uma obra no 'Padrão Zico' de qualidade. Ele tem uma frase que diz: 'É impossível chegar à perfeição, mas à excelência, não'. Então, eu não fiz uma obra perfeita, mas acho que fiz uma obra excelente que o deixou feliz com o resultado", afirmou Marcos.

Zico também comentou sobre a importância de sua família na carreira e no pensamento de como levar a vida.

"A família é porto seguro que a gente tem. Naquela época, os nossos pais não eram de conversar muito, eram de dar exemplo. E na minha carreira, eu tive o exemplo de um alfaiate que queria a perfeição. Meu pai não aceitava que um cliente voltasse para devolver uma roupa e ele não consertasse. E eu aplicava isso ao futebol. Os fundamentos que a gente usava em campo eram aperfeiçoados nos treinamentos. Quem chegasse, bastava olhar a dedicação. Meus pais sabiam do esforço para sustentar seis filhos e não deixar faltar alimento, educação, roupa dentro de casa. São os exemplos que a gente vai levando adiante", lembrou o Galinho, que também agradeceu as várias homenagens que está recebendo no mês de seu aniversário.

"Eu acho que enquanto a gente está vivo, tem mesmo que aproveitar essas oportunidades de homenagens. A vida é um sopro e enquanto a gente estiver assoprando bem, tá tudo certo, tá tudo legal", disse Zico.

Por fim, Marcos Eduardo Neves indicou o livro não apenas para os fãs do Zico, mas para todos que exerçam alguma posição de liderança.

"O público desse livro é todo mundo que tem o Zico como ídolo e referência. Desde torcedores de todos os times, porque o Zico não é um símbolo apenas do Flamengo, já que foi camisa 10 da Seleção Brasileira e só teve uma derrota em mais de 80 jogos pelo Brasil. E além do público do futebol, recomendo para CEO's, executivos que trabalhem com equipes, professores, mestres... Enfim, recomendo para todos que tenham de exercer liderança. Seja diante de um aluno, de um funcionário. Todos têm que pegar o que o Zico está contando e adaptar para o seu cenário, porque aí se tornará um profissional melhor, de excelência", explicou.

 

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